O ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub, disse que o alto escalão do governo de Jair Bolsonaro soube, com antecedência, de uma operação feita pela Polícia Federal contra o então senador-eleito Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do presidente e investigado em um esquema de “rachadinhas” quando deputado estadual no Rio de Janeiro. A afirmação foi feita pelo economista ao podcast “Inteligência Ltda” e revelada pelo portal “Metrópoles”.
Weintraub – que busca se viabilizar como um concorrente para cargos eletivos nas eleições deste ano, revelou que o caso ocorreu quando ele ainda integrava o governo de transição, em novembro de 2018. “Fui chamado para uma sala com pouca gente, alguns [futuros] ministros”, recontou. “[Bolsonaro] juntou todos na mesa comprida e disse: ‘chamei pelo seguinte: está para aparecer uma acusação, está pegando esse cara aqui – apontando pro Flávio – e o governo não tem nada a ver com ele. Se ele cometeu alguma errada, ele que vai pagar por isso’.”
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Estariam na sala, de acordo com o ex-chefe do MEC nomes que permanecem alinhados com Bolsonaro (ele, Onyx Lorenzoni e Jorge Oliveira, hoje ministro do TCU), ex-aliados (Carlos Alberto Santos Cruz) e outros integrantes do futuro gabinete – até Gustavo Bebianno, morto no início de 2020, acompanhou o encontro. Weintraub disse que a sensação, ao ouvir a fala do presidente, foi a de que estava no lugar certo, e elogiou Bolsonaro pela sua postura.
O presidente já indicou, em diversos momentos, que passaria a proteger seus filhos de investigações. Além das recorrentes alegações de que as operações contra Flávio, deflagradas em 2018, estariam vazando para a campanha do seu pai, Bolsonaro tentou trocar o comando da Polícia Federal no Rio de Janeiro, episódio que foi um dos estopins para a demissão de Sergio Moro do Ministério da Justiça e Segurança Pública, em abril de 2020.
O Supremo Tribunal Federal (STF) investiga a denúncia feita por Moro após sua demissão, e discute se Jair Bolsonaro tentou de fato interferir na PF em prol de seus filhos. No final de novembro, a corte decidiu que, ao menos no caso das rachadinhas, Flávio possui foro privilegiado, e não poderia ser julgado pela 1ª instância do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ).