Projetos e programas paralisados, educação patrimonial esvaziada, processos de destombamento histórico em andamento, conselheiros e superintendentes sem conexão com as áreas artística, histórica e de gestão, e previsão orçamentária insuficiente. Esse foi o cenário encontrado pelo ex-deputado distrital Leandro Grass (PV) ao assumir a presidência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em 10 de janeiro, dois dias após a invasão e depredação das sedes dos três Poderes em Brasília.
Em entrevista exclusiva ao Congresso em Foco, Grass diz que os desafios da nova gestão são grandes. Será preciso recuperar o que se desmontou nos últimos quatro anos. “Em primeiro lugar, resgatar os servidores que foram isolados e, de alguma maneira, preteridos na gestão passada, que aparelhou o Iphan, não considerou a imensidão técnica do órgão em muitos processos”, explica o presidente. “Tivemos superintendentes Brasil afora completamente desconectados da pauta do patrimônio, sem formação na área da cultura ou gestão. Temos ainda um desafio orçamentário”, acrescenta.
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Assista à íntegra da entrevista:
Graduado em ciências sociais pela Universidade de Brasília (UnB), aos 37 anos, Grass tem mestrado em Desenvolvimento Sustentável pelo Centro de Desenvolvimento Sustentável e formação em gestão cultural. No ano passado, ele foi o candidato a governador apoiado pelo PT no Distrito Federal. Ficou na segunda colocação, com 434 mil votos (26%), em eleição vencida em primeiro turno pelo governador Ibaneis Rocha (MDB).
Com orçamento total na casa dos R$ 400 milhões para 2023, Leandro Grass adianta que recorrerá aos parlamentares para ampliar a dotação orçamentária do órgão para dar conta de projetos novos e pendentes.
Publicidade“Isso não é suficiente para dar conta de toda a demanda, salvaguarda, acautelamento dos bens culturais brasileiros. Para dar resposta a essa limitação, a gente vai ter de agir pra trazer mais fomento, através do Pronac, da Lei Rouanet e do fundo de direitos difusos, buscando parceria com iniciativa privada e bancos públicos”, afirma. Para ele, é preciso que os parlamentares e a sociedade como um todo entendam que o patrimônio histórico e artístico é solução para o desenvolvimento econômico e atração de divisas e não um problema.
O Iphan deu suporte e apoio técnico às equipes do Supremo Tribunal Federal, do Congresso e do Palácio do Planalto durante o processo de recuperação dos três palácios depredados por golpistas. O instituto também participa da comissão que discute a construção de um memorial para que o 8 de janeiro de 2023 não seja esquecido. “Isso impõe um desafio para o futuro, de mais educação patrimonial, de memória. A gente não pode esquecer o que aconteceu. Aí vem a proposta de um memorial que diga para a sociedade brasileira o que aconteceu e que isso não se repita”, ressalta o presidente do Iphan, autarquia vinculada ao Ministério da Cultura, comandado atualmente pela ministra e cantora Margareth Menezes.
Imagens e edição de vídeo: Tiago Rodrigues