Há diferentes versões entre aliados de Jair Bolsonaro para explicar a destituição da deputada Bia Kicis (PSL-DF) da vice-liderança do governo na Câmara. Para uns, a saída se deu pelo voto contrário na aprovação do Fundeb, para outros essa é uma manobra para afastar do presidente parlamentares mais radicais que têm gerado atritos com o Supremo Tribunal Federal. Outra explicação é o fato de o governo estar abrindo espaço para os novos aliados do Centrão.
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Segundo fonte próxima à deputada e ao presidente, o posicionamento de Bia foi visto como uma traição ao governo, já que ela participou de diversas reuniões da liderança para definir quais seriam os posicionamentos da base aliada e nunca se posicionou contrária a pauta. “A preocupação dela quanto ao Fundeb era se iria entrar a parte do voucher”, revelou a fonte.
O voucher em questão estava sendo chamado de voucher-creche, que destinaria 5% da contribuição federal no fundo para programas sociais. A questão foi derrotada na Câmara.
“Se ela ao menos tivesse ligado para o presidente e falado: ‘Vou votar contra porque isso vai contra meus eleitores’. Mas não, ela não fez nem isso, foi uma traição”, afirmou a fonte.
Por meio de nota, a equipe da deputada tentou minimizar a destituição e afirmou ao Congresso em Foco que Bia Kicis “votou de acordo com sua consciência. Seguiu o exemplo do presidente Jair Bolsonaro que, quando foi parlamentar, só votou de acordo com a consciência dele. Para a deputada, o presidente foi e continua sendo um modelo”.
Em uma entrevista ao canal bolsonarista Terça Livre, entretanto, ela se queixou da atitude do presidente.
“Eu preciso dizer, com toda a humildade, que o governo perde muito. Vai ser difícil encontrar alguém que lute tanto pelo governo como eu luto. Fiquei triste mais como a forma como aconteceu [….] Eu poderia ser destituída se o Bolsonaro acha que eu não posso mais permanecer, mas ele poderia pelo menos dar uma ligada, porque ele fala assim: ‘Pô, Bia, você é minha irmãzinha'”.
Confronto com o STF
Na avaliação do deputado Otoni de Paula (PSC-RJ), aliado de primeira hora do presidente, a destituição não tem relação com a votação no Fundeb, mas é uma forma de blindar o presidente contra atritos com o STF.
Bia não saiu por que votou contra o novo modelo do FUNDEB, como se esse Novo FUNDEB fosse pauta do nosso governo. Além do mais, outros vice-líderes já votaram em desarmonia com o governo outras vezes e não foram punidos. A verdade é que @Biakicis era uma crítica do STF, é ela
— Otoni de Paula (@OtoniDepFederal) July 24, 2020
quem está propondo a revogação da “PEC da Bengala”. Entendeu? Quem estiver próximo ao PR @jairbolsonaro que incomode o STF será isolado. É a nova política da “pacificação entre os poderes”, proposta por generais,
que só resultará em apequenar o PR.
DEUS, AJUDE O PRESIDENTE‼️— Otoni de Paula (@OtoniDepFederal) July 24, 2020
Há duas semanas, Bolsonaro já havia decidido remover da função os deputados Daniel Silveira (PSL-RJ) e Otonni de Paula (PSC-RJ). Os dois são envolvidos no inquérito que apura atos pró-ditadura e em outro que investiga disseminação de notícias falsas. Bia Kicis também é alvo dessas apurações. Foram escolhidos como novos vice-líderes os deputados do Centrão Maurício Dziedricki (PTB-RS) e Aluisio Mendes (PSC-MA). O cargo de Bia ainda está vago.
Há ainda uma articulação para substituir o líder do governo na Câmara, Vitor Hugo (PSL-GO), pelo deputado Ricardo Barros (PP-PR).