Quer saber a quantas anda a indicação (ou não) de Simone Tebet e de Marina Silva para o governo? Vai ali, primeiro. O texto será atualizado à medida em que novos fatos forem surgindo. E volta depois pra gente se falar um pouquinho… porque aqui a conversa não é tanto dar a informação mais recente da praça sobre o assunto, e sim refletir sobre a dura vida das mulheres poderosas.
Começo com um “causo” da semana passada. Ou seja, na velocidade de Brasília desses últimos dias, parece coisa de um século atrás. Boralá!
Difundiu-se nesta capital, com direito a espaço em veículos jornalísticos e repercussão nas redes sociais, o boato de que a futura primeira-dama Janja seria a causa do suposto distanciamento entre o presidente eleito Lula e a senadora Simone Tebet (MDB-MS).
Nas versões mais sórdidas, disseminadas ao pé do ouvido e em grupos de WhatsApp, a estória – com o “e” próprio das fábulas contadas para crianças, mas repertório flagrantemente adulto – ganhou conotação mais grave. Insinuou-se ou mesmo explicitou-se um fictício ciúme por trás do suposto veto que a socióloga Rosângela Lula da Silva teria imposto à indicação de Tebet para o ministério.
(Um parêntesis rápido antes de prosseguir: “suposto”, “seria” e congêneres são com frequência expressões nocivas ao bom jornalismo, por servirem de escudo para a veiculação daquilo que não se sabe ou não se apurou direito, sem se comprometer com a sua veracidade. Aqui, tomo a liberdade de usá-las exatamente para deixar mais claro este breve relato).
A intriga violenta não apenas a verdade dos fatos. Agride a reputação de duas mulheres poderosas, em um país que sempre revelou brutal tendência a práticas difamatórias e caluniosas contra aquelas poucas brasileiras que, superando barreiras colossais, conquistam espaços de poder.
Simone e Janja se falaram sobre o assunto ao telefone, aos risos. Não se deram ao trabalho de desmentir a baboseira, tal o baixo nível da lorota. Mas o destaque dado a essa fake news dá uma ideia do tipo de munição usada por quem deseja impedir a participação de Tebet no governo Lula.
Tebet fechada em copas
Pintada na campanha por aliados lulistas como um poço de virtudes, Simone Tebet foi, isto não se questiona, decisiva para derrotar a extrema-direita personificada em Jair Bolsonaro. Agora, nos bastidores da disputa por espaço no ministério em formação, é vendida como “ruralista” e “anti-indigenista” à esquerda enquanto é carimbada pela direita bolsonarista como “traidora” (do antipetismo, claro).
Fechada em sete copas, fiel ao estilo discreto que a caracteriza, Simone há várias semanas evita ir a lugares públicos, como o Senado (participou virtualmente das últimas sessões do ano) e deixou de comparecer ao Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), local reservado à equipe de transição. Quer evitar abordagens de repórteres e demais interessados em conhecer o seu rumo político enquanto ela própria não o define.
Geraldo Alckmin (PSB), o vice-presidente eleito, tem sido um dos seus interlocutores mais frequentes. Habitualmente tratada no seu partido, um território dominado por machos alfa, como uma espécie de alienígena, Simone conquistou um aliado de peso para lhe garantir espaço no ministério: o presidente nacional da legenda, deputado Baleia Rossi (SP). Foi ele quem decidiu bancar sua inclusão na cota ministerial da legenda, na contramão dos caciques emedebistas.
Marina x Simone
Bem, você sabe que Tebet não levou o Ministério do Desenvolvimento Social, como gostaria. Aliás, jamais disse “ou o MDS ou nada”. Aceita outra pasta, desde que tenha dimensão proporcional ao tamanho político que conquistou. Correligionários passaram a ter dúvidas se vale a pena, indicando o caminho de uma posição de independência em relação ao governo que Tebet ajudou a eleger, ideia que desagrada à senadora. “Ela e Lula ficaram próximos, criaram um relacionamento muito positivo, e o Lula está trabalhando para colocá-la no governo”, afirma uma interlocutora de Simone.
Ela age, enfim, como todo político minimamente hábil: valoriza o capital político que conquistou. Mesmo assim, foi tachada de “arrogante”, nas redes e nas ruas, qualificativo também empregado com frequência contra Marina Silva. Por que Marina não aceita a Autoridade Nacional Climática? Por que não aceita outro cargo no governo além do Ministério do Meio Ambiente (MMA)? Arrogância, conclui-se nos corredores do poder.
Há uma explicação para a recusa, dada por uma pessoa próxima à ex-ministra (chefiou o MMA de 2003 a 2008): “A Marina não quer ser uma rainha da Inglaterra, desfilando como autoridade climática, mas sem capacidade real de fazer as ações necessárias. Ela acreditou no compromisso do governo eleito de reduzir o desmatamento a zero até 2030. Isso só vai ser possível com o MMA, e um MMA empoderado. Ela não quer ministério. Quer resolver o problema e sabe como resolver. Se não, fica na Câmara. Tem um mandato de deputada federal a cumprir”.
Lideranças ambientalistas invocam mil motivos técnicos para justificar a recusa de Marina a aceitar outro cargo no Executivo. Não os repetirei aqui. Fico ouvindo e reparo, primeiro, como duas mulheres que estiveram juntas na campanha – e que continuam se falando – são confrontadas entre si. Depois, repito a pergunta pra mim mesmo: por que Marina só vai pro governo se for para chefiar o MMA? E respondo, com aquela falta de imaginação própria de gente que gosta de futebol: alguém pediria a Garrincha para entrar no time desde que não na ponta-direita?