O presidente Jair Bolsonaro resolveu, na última quinta-feira (16), demitir o presidente da Embratur que estava há menos de uma semana na função. Nomeado no dia 9 de maio, o empresário Paulo Senise assumiu o comando da autarquia na última segunda-feira (13), trabalhou três dias e, no quarto, foi chamado pelo ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, e informado que seria substituído.
Segundo Senise, não houve explicações para a saída. “[Disseram que] foi uma decisão do presidente. Sem justificativa”, disse ao Congresso em Foco o empresário, que foi indicado ao posto por empresários do setor (o chamado trade de turismo) do Rio de Janeiro. “O ministro, numa reunião que eu tinha agendada com ele, ele teve que me comunicar uma decisão do próprio presidente de me substituir por um outro candidato”, completou.
O outro candidato é o médico veterinário Gilson Machado Neto, substituto de Senise, que será o quarto presidente da Embratur no governo Bolsonaro. Machado Neto está na equipe de Bolsonaro desde o governo de transição, no ano passado, quando trabalhou com o atual ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. No final de janeiro, foi deslocado para a secretaria de Ecoturismo do ministério, onde ainda está lotado oficialmente.
Segundo o currículo disponível no site da pasta, Machado Neto tem negócios na Rota dos Milagres, roteiro turístico no litoral de Alagoas. Dono de uma pousada na região, ele foi multado em R$ 3,5 mil em 2016 por descumprir normas de proteção do ambiente local, que é uma Área de Proteção Ambiental (APA). Responsável pela punição, o funcionário do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) – controlado pela pasta do Meio Ambiente – foi demitido do cargo em janeiro deste ano, no inicio do governo Bolsonaro.
O Congresso em Foco não conseguiu contato com Machado Neto. Já o Ministério do Turismo foi procurado oficialmente para esclarecer o episódio, mas não deu resposta. O espaço segue aberto para manifestação.
Gilson Machado Neto ficou conhecido regionalmente, na década de 1990, por liderar uma banda de forró em Pernambuco, a Forró da Brucelose. Ligado ao PSL de Pernambuco, Machado Neto apoiou Bolsonaro desde a campanha eleitoral.
PublicidadeParlamentares da Comissão de Turismo da Câmara dos Deputados consultados pelo Congresso em Foco afirmam que o setor reagiu mal à saída de Senise, especialmente no Rio de Janeiro. No ramo há mais de quatro décadas, dirigiu por 11 anos no Rio Convention Bureau e presidiu, de 2015 a 2018, a Companhia de Turismo do Estado do Rio de Janeiro (TurisRio) de 2015 a 2018.
Dança das cadeiras
A troca de comando na Embratur começou no final de março, quando a ex-deputada Teté Bezerra (MDB-MT), que ocupava o cargo desde o ano passado, foi exonerada. A justificativa do governo foi dada por Bolsonaro em uma transmissão ao vivo no Facebook. O presidente acusou a ex-chefe da autarquia de organizar “um jantar de R$ 290 mil”.
O presidente disse, na ocasião, que ficou sabendo do evento, mandou o ministro do Turismo “cancelar o jantar” e demitir Bezerra. “Não dá para se admitir passivamente um gasto dessa ordem. Isso é um escracho, um deboche para com o brasileiro que está cansado de pagar impostos”, afirmou Bolsonaro no vídeo.
Bezerra, que disse ter deixado o cargo à disposição antes disso, defendeu-se afirmando que o referido jantar era a participação da Embratur na World Travel MarketLatin América (WTM Latin America), uma feira internacional de turismo que ocorreu no início de abril. A ex-presidente afirmou que os R$ 290 mil investidos na feira poderiam dar retorno de cerca de R$ 5 milhões no mercado da área.
Depois dela, quem assumiu a Embratur foi o urbanista Leônidas José de Oliveira. Ele foi nomeado como interino, mas acabou permanecendo na posição por mais de um mês e meio, até a entrada de Senise.