O presidente Jair Bolsonaro enfrentou nesta quarta-feira (10) a mais dura manifestação de policiais desde o início do seu mandato. Dirigentes de 24 entidades que representam as mais diversas categorias policiais se reuniram em Brasília para protestar contra o congelamento de salários, promoções e contratações, prevista na PEC Emergencial, proposta cujo texto-base foi aprovado em primeiro turno ontem pela Câmara. Integrantes da União dos Policiais do Brasil (UPB), eles alegam que, embora estejam na linha de frente de combate à covid, não têm sido tratados como categoria de serviço essencial e acusaram o governo de promover desmanche da segurança pública no Brasil nos últimos dois anos.
Os representantes admitiram que grande parte dos policiais votou em Bolsonaro em 2018, acreditando em seu discurso de combate à criminalidade e de valorização dos agentes de segurança pública. Mas hoje, segundo esses dirigentes, boa parte da categoria está decepcionada e desmotivada por entender que o atual governo não tem compromisso com a área nem com o serviço público em geral. Bolsonaro ignorou os apelos dos policiais, intermediados pela bancada da bala no Congresso, para que eles não fossem atingidos pelos efeitos limitantes da PEC Emergencial. A posição do presidente contrariou deputados governistas ligados aos policiais.
“Não vimos até agora apresentação de nenhum projeto de valorização da segurança pública. Os sinais mandados pelo governo contra a segurança pública são extremamente duros. O Ministério da Saúde, em seu plano de vacinação, priorizou presos em detrimento de policiais, gerando grande revolta nas nossas bases. Enfrentamos índice de contaminação de três a quatro vezes maior que a população comum. Permanecemos na linha de frente do combate à pandemia, pois só se cobra cumprimento das medidas sanitárias através das forças policiais”, criticou o presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Judiciário (ADPJ), Rafael Sampaio.
“O governo coloca policiais e servidores como moeda de troca e bode expiatório. Os policiais acreditavam que seriam valorizados e estão extremamente desmotivados e decepcionados. É uma PEC da maldade, da destruição da segurança pública do país”, disparou o presidente da Confederação Brasileira de Trabalhadores Policiais Civis (Cobracol), André Gutierrez.
O presidente da Associação Nacional de Delegados de Polícia Federal (ADPF), Edvandir Paiva, afirmou que a PF realizou mais de seis mil operações e recuperou R$ 9,6 bilhões desde o início da pandemia e, mesmo assim, é tratada com descaso.
Para o presidente da Federação Nacional dos Policiais Rodoviários Federais (FenaPRF), Marcelo Azevedo, desde a reforma da Previdência o governo tem usado o servidor público para fazer chantagem, como se os funcionários fossem os responsáveis pelos problemas do país. “Colocaram não uma, mas várias granadas no bolso do servidor público. Principalmente da segurança pública. O efetivo hoje já é baixo. Como impedir contratações? Nesse período esas granadas vão explodir. Quem vai sentir os efeitos será o brasileiro. Com queda da qualidade do serviço da segurança pública, a saúde e a educação também são atingidas”, afirmou.
A votação, em segundo turno, da PEC Emergencial está prevista para esta quarta-feira. São necessários pelo menos 308 votos para que o texto possa seguir para promulgação. Depois dessa etapa o presidente Jair Bolsonaro vai editar uma medida provisória retomando o pagamento do auxílio emergencial, entre março e junho. A previsão é que sejam gastos R$ 44 bilhões com um auxílio médio de R$ 250.
Veja o manifesto na íntegra:
>PEC Emergencial: como cada deputado votou no primeiro turno