O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, disse em sessão Plenário do Senado Federal que espera que metade da população tome vacinas até o mês de junho – e que o país todo esteja imunizado contra a covid-19 até dezembro. O ministro e general da ativa foi ouvido na tarde desta quinta-feira (11) em sessão temática voltada ao tema.
Pazuello afirmou que a população que leva em conta é a “população vacinável” – sem, no entanto, especificar que grupo seria esse. As vacinas de covid-19 disponíveis no momento no país (a Coronavac e a Covishield, conhecida como Vacina de Oxford) não são aplicadas em menores de 18 anos, o que torna o escopo de brasileiros a serem vacinados menor do que a população total do país, que é de 212,6 milhões de pessoas.
Nesta quinta-feira, segundo o consórcio de veículos de imprensa, o Brasil alcançou a marca de 4,5 milhões de vacinados, pouco mais de 2% da população total do país. Há o risco, porém, de desabastecimento de vacinas e de lentidão na imunização, caso a oferta de imunizantes permaneça baixa.
Para garantir a meta, Pazuello disse aos parlamentares que os institutos Butantan e Fiocruz poderiam chegar a 200 milhões de doses produzidas ainda em 2021. Ele também afirmou que o Ministério deve comprar de 10 milhões de doses da Sputnik V, desenvolvida pela Rússia e que devem chegar em três meses.
O fato de o modelo de desenvolvimento da vacina pelos russos não estar alinhado com os padrões da Anvisa preocupou a pasta – mas a decisão da agência de suprimir a fase III dos estudos ajudaria na importação do insumo. Pazuello se mostrou otimista com a possibilidade de União Química, empresa que deve produzir a vacina no Brasil, inicie a produção do imunizante russo em território nacional.
“Os números que vem de fora não são o suficiente para atender o Brasil. A produção no Brasil começa em 60, 90 dias. Quando nós produzirmos no Brasil, na União Química ou onde for, teremos uma terceira oportunidade de ter vacinas em grandes quantidades”, afirmou o Pazuello. “Vindo de fora, temos que entender que os números não são suficientes para atender o país.”
Veja a íntegra da apresentação levada por Pazuello aos senadores:
O ministro voltou a criticar a fabricante norte-americana Pfizer, por regras na compra de vacinas por ela produzida – considerada a mais eficaz no combate à pandemia. “Nós queremos a Pfizer em grande quantidade, e sem as condições leoninas que nos foram impostas”, disse Pazuello. “Nós não somos um país que precisa se submeter a isso”. A Pfizer alega que as negociações foram as mesmas para outros países da América Latina. “Se algum governador quiser comprar a Pfizer, e conseguir quebrar as cláusulas contratuais, a gente financia.”
O general da ativa foi convidado para prestar informações sobre as dificuldades enfrentadas pelo país para imunizar a população contra a covid-19, assim como sobre as medidas adotadas pela pasta para promover a vacinação em todo o território nacional.
O ministro não citou em nenhum momento de sua fala inicial o número de caso ou a situação enfrentada em Manaus, cidade que enfrenta um caos no sistema de saúde desde o final de 2020. Ao responder perguntas sobre a crise no estado, Pazuello disse que não houve sinais de que haveria o desabastecimento de oxigênio em unidades de saúde.
Os senadores se mostraram pouco impressionados pelas falas de Pazuello. “Não é a quantidade de vacina, se virá 500 mil, 1 milhão ou 2 milhões – é imunizar 70% da população o mais rápido possível”, disse Omar Aziz (PSD-AM). “É um apelo que nós amazonenses fazemos ao senhor e ao presidente da Republica, Jair Bolsonaro.”
“A digital de vocês estão nessas mortes”, disparou Fabiano Contarato (REDE-ES). “E tenho fé em Deus que tanto o senhor quanto o presidente da República irão responder por genocídio, seja aqui no Brasil, seja no Tribunal Penal Internacional”
“Estávamos no Ministério do dia 31 de dezembro. Dias 1º e 2 de janeiro estávamos montando rotinas e marcando as reuniões [em Manaus]. Até então, senhores, nenhuma notícia sobre o colapso de oxigênio, nenhum e-mail, whatsapp, telefone – não havia essa notícia”, argumentou o ministro. Pazuello disse que apenas na noite de 7 de janeiro houve a primeira menção ao caso.
“Ficou claro que o Ministério da Saúde não tem qualquer competência para fabricação, transporte e distribuição de oxigênio. Zero competência”, disse Pazuello, ao responder sobre como foi a ação de sua pasta no estado do Amazonas. Pouco após, disse que “não tem como ficar carregando os tubos de oxigênio pra lá e pra cá.
Nesta semana, o Senado perdeu seu segundo representante para a covid-19, o decano José Maranhão (MDB-PB). As mães dos senadores Renan Calheiros (MDB-AL) e Jayme Campos (DEM-MT) também faleceram pela doença.
Pacheco falará com líderes sobre CPI
O objetivo de Pazuello no Senado foi também outro: impedir que a Casa inicie os trabalhos de uma CPI para investigar a ação do governo durante a pandemia. Apesar de a oposição já contar com assinaturas suficientes para o início da comissão parlamentar, cabe ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), dar o aval para sua abertura.
Após a sessão, o presidente do Senado minimizou a possibilidade de abrir a comissão. Pacheco deverá levar a questão para os líderes partidários na próxima reunião, agendada para a quinta-feira da semana que vem (18). Pacheco também evitou dizer se o ministro da Saúde é responsável pelas dificuldades no combate ao covid-19.
“Sobre esse passado, ele será julgado nas instâncias próprias –o julgamento político, jurídico e moral em relação a isso”, disse Pacheco. “O objetivo maior dessa reunião foi identificar o que o futuro nos espera”.
O número apontado por Pazuello foi lembrado pelo parlamentar mineiro. “Quando o ministro afirma que metade da população será vacina até o meio do ano e a outra metade até o final do ano, é uma sinalização muito positiva”, disse, após o fim da sessão.
O senador Randolfe Rodrigues (REDE-AP) considerou que a fala do general não convenceu e que a CPI deve ser instalada. “À ampla maioria das perguntas, a resposta do ministro ou não ocorreu ou não foi satisfatória”, disse .”E há temas demais para serem esclarecidos. Se o ministro veio para cá por articulação e estratégia do governo por conta da CPI, sai enfraquecido – e ainda sim vai ter a comissão.”
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