Depois de a deputada Carla Zambelli (PSL-SP) antecipar que aconteceriam operações contra governadores por causa de fraudes relativas à compra de respiradores, parlamentares cobraram uma investigação sobre o eventual vazamento de informações sigilosas à aliada do presidente Jair Bolsonaro. Na manhã desta terça-feira (26), a Polícia Federal deflagrou uma operação contra o governador Wilson Witzel (PSC-RJ).
A operação, designada Placebo, apura indícios de desvio de recursos públicos destinados ao atendimento do estado de emergência de saúde pública decorrente da pandemia de covid-19. Foram feitas buscas e apreensões no Palácio das Laranjeiras, residência oficial do governador do Rio, em uma antiga residência ocupada por Witzel e no escritório de advocacia da esposa dele, Helena Witzel.
“As fortes suspeitas de interferência na Polícia Federal por parte de Bolsonaro ficam mais evidentes diante da confissão de Carla Zambelli ontem em entrevista à Rádio Gaúcha. A sociedade precisa saber como ela tinha informações privilegiadas. O Brasil não pode ter uma polícia política que sirva para perseguir adversários da “familícia” e esteja a serviço dos interesses de Bolsonaro”, disse Fernanda Mechionna, líder do Psol na Câmara.
Alessandro Molon, líder do PSB na Câmara também reagiu.
“Bolsonaro quer usar a Polícia Federal como um braço policial seu, que obedeça a seus comandos, a fim de proteger familiares e amigos, e atacar desafetos. Denúncias de desvios de dinheiro público são graves e devem ser investigadas com rigor. Porém, a operação deflagrada hoje foi adiantada ontem por uma de suas maiores aliadas, o que indica que a interferência do presidente na PF está sendo bem-sucedida. É preciso investigação séria, para cortar o aparelhamento pela raiz, sob pena de manchar a reputação da corporação e comprometer o papel fundamental que exerce na nossa democracia”, afirmou.
O assunto também repercutiu entre senadores. Eliziane Gama (MA), líder do Cidadania no Senado, classificou como “estranho” o fato de Zambelli ter comentado sobre a operação antes de ela acontecer.
PublicidadeQualquer ato de corrupção deve ser punido com rigor. Mas deputada governista vazando Informações sobre ações da PF contra governadores é bem estranho. Espero que a PF, PGR e Judiciário ajam com transparência e punam quem infringir a lei seja de governo ou oposição.
— Eliziane Gama (@elizianegama) May 26, 2020
O governador Witzel, por suas vez, publicou mensagem no Twitter fim desta manhã para demonstrar indignação com o suposto vazamento da operação. Em sua opinião, a ação demonstra que a interferência do presidente Jair Bolsonaro na PF está oficializada.
Indigna-me o fato de que deputados bolsonaristas tenham anunciado em redes sociais nos últimos dias uma operação da Polícia Federal direcionada a mim, o que demonstra limpidamente que houve vazamento. A interferência anunciada pelo presidente da república está oficializada.
— Wilson Witzel (@wilsonwitzel) May 26, 2020
Zambelli diz não haver vazamento
Em entrevista à CNN, a deputada Carla Zambello reclamou que esteja sendo dada mais atenção ao que ela falou do que ao fato objeto da operação. “Acho que a gente está aqui para falar e denunciar. Às vezes quem fala mais dá mais espaço para distorção”, disse ela. A deputada disse que, frente à repercussão negativa, talvez não teria feito a afirmação, mas disse estar com a consciência tranquila.
“Não há vazamento na Polícia Federal. Se eu soubesse, eu não seria burra o suficiente de falar nisso numa rádio ao vivo. Se eu soubesse de vazamento, eu ia falar calada, ia ficar quieta”, disse Zambelli. Ela negou ter recebido informação privilegiada e disse que a afirmação foi feita com base em informações de que dispunha e em resposta a acusações feitas pelo ex-ministro Sérgio Moro.
“A Polícia Federal é um órgão independente que está fazendo seu trabalho”, disse ela, afirmando que não foi sua intenção manchar a excelente imagem da PF. “Foi simplesmente na ânsia de defender o governo Bolsonaro por conta da infeliz declaração do Sérgio Moro.”
Zambelli também negou que seu vínculo com a Associação de Delegados da Polícia Federal (ADPF) tenha dado a ela algum acesso privilegiado. Segundo a deputada, a única ligação que teve com a entidade foi para tentar aprovar a autonomia da corporação.