O Brasil tem a fantástica capacidade de transformar o ótimo em péssimo. O 7 a 1 da Alemanha na Copa de 2014 taí pra não me deixar mentir. Copa jogada em casa, Brasil indo bem e deu no que deu. Na política, desmentimos Tiririca e provamos que somos capazes de tornar péssimo o pior. Tínhamos saído de um péssimo governo Dilma para outro péssimo governo Temer. E fomos capazes de piorar o péssimo, colocando Bolsonaro na presidência da república.
Nem bem assume e com apenas dois meses de governo o capitão bate novo recorde: queimou em 60 dias boa parte do capital político que dispunha. O governo dele desabou 15 pontos. É a primeira vez na história que um presidente se esfarela em tão pouco tempo. Foi dos 49% com que contava em janeiro para 34% na primeira quinzena de fevereiro. E assumiu a dianteira entre os piores, sendo superado apenas por Fernando Henrique e Dilma, o primeiro chegando a míseros 12% no finzinho do segundo mandato. E Dilma atingindo a mesma marca quando já trupicava rumo ao impeachment. Bolsonaro foi à lona em apenas dois meses! O quadro é ainda pior para ele porque o deixa de calças curtas num instante delicadíssimo, quando mais precisa de apoios para aprovar a reforma da Previdência e assim ganhar uma sobrevida no mandato.
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Essa família é muito unida, e também muito ouriçada
Mas não. O capitão e sua tropa não param de fazer bobagens, dia sim, dia não, de manhã, de tarde e de noite, com as respectivas madrugadas. Sem falar na família “muito unida e também muito ouriçada”, com aqueles meninos sapecas que só dão dor de cabeça e não contribuem com uma moedinha de 5 centavos pra dar um alívio ao papai. Pelo contrário. Todo dia jogam uma casca de banana na rampa do Palácio e não dá outra: o capitão não para de escorregar. Outro dia, ali no Salão Verde da Câmara, um jornalista do tempo da máquina de escrever comentou comigo que Bolsonaro anda parecido com um boneco do rótulo da antiga cera Parquetina, um operário que limpava o piso patinando com esponjas presas aos pés.
Pudera. O capitão só patina também. Numa demonstração diária de total despreparo, de falta de traquejo político (nem parece que passou quase três décadas nos corredores e plenários do Congresso) e de respeito à liturgia do mais alto cargo da soleníssima república de Pindorama, Bolsonaro parece acreditar que será com alguns remendos, como a liberação das armas, concessões servis aos Estados Unidos e a formação do Prosul em substituição à Unasul que irá se cacifar para exercer o mandato. Não vai.
Capitão, aprenda: fazer política é… negociar!
Em primeiro lugar, precisaria ter foco no objetivo, que é a reforma da Previdência, e não sair queimando capital político, por exemplo, distribuindo pornografia pela internet, como se isso fosse papel de um presidente da república. Em segundo lugar, precisa sair da zona de conforto e correr atrás dos votos no Congresso. Isso passa, sim, por um troço chamado “negociação” (que nada tem a ver como toma-lá-dá-cá, como ele diz). Negociação é um processo que, dentro do ritual republicano, e sobretudo num governo de coalizão, é praticado com absoluta normalidade e transparência no mundo inteiro. Normal. Normalíssimo.
O resultado está aí, espiando da janela e balançando a cabeça com ar de ceticismo. Todo mundo e mais alguém sabe que o único nome capaz de viabilizar um bom andamento da reforma da Previdência é Rodrigo Maia. Mas os filhos do capitão o atacam nas redes sociais como se ele fosse um desconhecido indesejável, com piadas toscas do tipo: “Ele anda muito nervosinho”. O resultado é que Maia pode, a qualquer momento, mandar o governo se virar com sua turma e seus garotos. E que se danem. E lá se foi a reforma. Até porque qualquer xícara ali do cafezinho da Câmara sabe da boataria de que Moro, amigo do juiz Bretas, chateado com a protelação por Rodrigo Maia do pacote de segurança (que o ministro luta pra emplacar e assim sobreviver), estaria por trás da prisão de Moreira Franco, sogro de Maia.
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O balaio bolsonarista tá uma zorra
Por falar em Temer, a forma fria como o capitão comentou a prisão dele (“A justiça nasceu para todos e cada um responde pelos seus atos”) desagradou profundamente a bancada do Centrão, ligada ao ex-presidente, cujo apoio é estratégica para a aprovação da reforma. No mínimo, como fez a própria bancada petista, poderia ter criticado o açodamento da prisão. Nem isso ele fez.
Dentro do balaio bolsonarista tá uma zorra. Olavo xinga Moro; Onyx vai pegar uma fresca na Antártida com o país pegando fogo; ministros como esse da Educação inventando idiotices autoritárias como as filmagens dos meninos cantando o hino nacional e agora mandando censurar as provas do Enem, para evitar saliências, Damares em cima da goiabeira e o chanceler Ernesto com uma baita duma réiva porque um filhote do capitão teve a honra de ser convidado pra festa e beijou a mão do Trump, e pra ele não ponharam nem um recado na porta.
Pouco antes do último fim de semana, Bolsonaro deu uma demonstração pública de “apreço” por seus ministros, ao afirmar que sempre ouve um deles antes de tomar uma decisão, “até a Damares”.
Coitada.
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