O vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos), eleito senador pelo Rio Grande do Sul nestas eleições, avaliou, em entrevista publicada nesta quarta-feira (2) ao jornal O Globo, o pronunciamento de ontem do presidente Jair Bolsonaro (PL), além de reconhecer o resultado das urnas. “Aceitamos participar do jogo. Não considero que houve fraude na eleição. Mas um jogador não deveria estar jogando [o ex-presidente Lula]. Essa é minha visão”, comentou.
Sobre a demora de Bolsonaro em fazer um pronunciamento ao fim da eleição, Mourão disse que “cada um reage aos acontecimentos da sua maneira”. Ele destacou que aconselhou o presidente a fazer outro tipo de discurso, que não foi ouvido por Bolsonaro. A forma como o presidente falou ontem foi bastante criticada por especialistas. Foi o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, que ficou como o verdadeiro responsável pelo reconhecimento, de fato, da derrota do governo.
“Ele procurou a melhor forma de falar tudo o que queria falar sem incorrer em ofensas, ilegalidades”, disse Mourão sobre o silêncio de quase 48 horas de Bolsonaro. “Nós concordamos em participar de um jogo em que o outro jogador [Lula] não deveria estar jogando. Mas se a gente concordou, não há mais do que reclamar. A partir daí, não adianta mais chorar, nós perdemos o jogo”, completou.
O vice-presidente condenou enfaticamente os protestos de golpistas ligados ao presidente, que bloqueiam estradas brasileiras por não respeitarem os resultados das urnas. “Deveria ter sido realizado quando o jogador [o ex-presidente Lula] que não deveria jogar foi [autorizado a jogar]. Ali deveriam ter ido para a rua, buzina. Mas não fizeram. Existem 58 milhões de pessoas inconformadas, mas aceitaram participar do jogo. Então tem que baixar a bola”.
Diálogo com Lula
O vice-presidente confirmou o plano de se candidatar à presidência do Senado, mas depois de dois anos de mandato. Mourão justifica que quer “aprender” no Legislativo para entender como funciona e só assim buscará construir apoios para sua candidatura. Ele disse que pretende manter seu perfil conciliador e terá diálogo com o ex-presidente Lula, eleito para um terceiro mandato presidencial a partir de 2023.
“Não é nem uma questão de ser ou não ser conciliador. Você tem que entender que na política uma andorinha apenas não faz verão. Se você não consegue agregar as pessoas em torno das suas ideias, você não vai fazer nada, vai ficar igual um Dom Quixote bradando ao vento”, disse.