O ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, recorreu ao mensalão para rebater o ex-presidente Lula e defender o governo Jair Bolsonaro. Em evento do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST), no Paraná, o petista disse no sábado (19) que o atual Congresso é “deformado” e talvez “o pior” da história do país.
“Congresso deformado? Pior da História? Esqueceu do Mensalão? Nunca na história deste país Câmara, Senado e um governo, do presidente Bolsonaro, se relacionaram tantos anos sem nenhum escândalo de corrupção. O povo conhece o presente e não esquece o passado”, escreveu Ciro nas redes sociais ao ironizar o ex-presidente. Em 2017 ele chegou a chamar o petista de “melhor presidente deste país” e o atual chefe, Bolsonaro, de “fascista”.
Congresso deformado? Pior da História? Esqueceu do Mensalão? Nunca na história deste país Câmara, Senado e um governo, do presidente Bolsonaro, se relacionaram tantos anos sem nenhum escândalo de corrupção. O povo conhece o presente e não esquece o passado https://t.co/LuTVchx7sF
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Publicidade— Ciro Nogueira (@ciro_nogueira) March 20, 2022
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As gestões de Lula e Dilma foram marcadas pelo mensalão e pelo petrolão, respectivamente. Presidido por Ciro Nogueira, o PP esteve no centro dos dois escândalos. Ciro foi citado no primeiro e ainda convive com as acusações em relação ao segundo. Nos dois governos, era aliado dos petistas.
PublicidadeO ministro é alvo de cinco inquéritos no Supremo Tribunal Federal derivados da Operação Lava Jato, nos quais é acusado de receber e pagar propina. A Procuradoria-Geral da República ofereceu denúncia contra o ministro em dois casos. Ele virará réu se as acusações forem aceitas pelo Supremo.
Em uma dessas duas investigações ele é acusado de receber propina de R$ 7,3 milhões da Odebrecht em troca de apoio no Congresso; na outra, é suspeito de obstruir investigações ao atuar para mudar depoimento de um ex-assessor do PP que colaborava com a Justiça. O ministro é suspeito, em outro inquérito, de receber propina do grupo J&F para comprar apoio do PP à reeleição da ex-presidente Dilma.
A existência dos cinco inquéritos da Lava Jato contra Ciro Nogueira foi revelada pelo jornal O Globo em julho do ano passado, dias antes de o senador assumir a Casa Civil, como parte do plano do presidente Bolsonaro de consolidar sua base de apoio no Congresso, fortalecendo o chamado Centrão, grupo que tem no ministro e no presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), seus maiores expoentes.
O PP foi um dos partidos com mais investigados no mensalão e no petrolão. Os ex-deputados do partido Pedro Correa (PE) e Pedro Henry (MT) foram condenados por participação no primeiro esquema. O ex-líder da bancada na Câmara José Janene foi apontado como um dos mentores dos dois esquemas. Ele morreu em 2010, antes de ser julgado no mensalão. Seu nome foi associado ao petrolão quatro anos mais tarde, nas investigações da Lava Jato.
Em junho do ano passado o Supremo Tribunal Federal arquivou em definitivo o chamado inquérito do quadrilhão do PP, que envolvia Lira e Ciro, entre outras lideranças da legenda. O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, acusado de receber propina, era indicação do partido.
Em 2005, quando era corregedor da Câmara, Ciro foi citado pelo empresário Marcos Valério Fernandes como um dos beneficiários do mensalão. Mas não foram apresentadas provas de envolvimento do então deputado com o esquema. Ele não chegou a figurar entre os investigados.
Procurado pelo Congresso em Foco, o advogado Antonio Carlos de Castro, o Kakay, que defende Ciro, alega que as investigações contra o ministro são fruto de um processo de “criminalização da política” patrocinada pela Operação Lava Jato.
“Esta operação se notabilizou pela criminalização da política, numa tentativa- felizmente hoje desmascarada – do Ministério Público de capturar a pauta do Legislativo. Hoje está evidenciado que o juiz/político da Lava Jato e os seus comandados do Ministério Público corromperam o sistema de justiça em prol de um projeto político”, afirmou o advogado, que manteve o posicionamento divulgado na véspera da posse do ministro no ano passado, após a reportagem de O Globo.
A manifestação feita por Ciro Nogueira no Twitter agora contradiz o posicionamento dele em 2017. Em entrevista à TV Meio Norte, naquele ano, ele declarou que apoiaria a eleição de Lula, em 2018. “(Ao Jair) Bolsonaro, eu tenho muita restrição. Ele tem um caráter fascista, preconceituoso.” Na mesma ocasião, o senador declarou que considerava Lula “o melhor presidente deste país, especialmente para o Piauí e o Nordeste”. O petista não concorreu aquele por ter sido condenado na Lava Jato. Ele lidera as pesquisas de intenção de voto atualmente, depois de ter se livrado das acusações na Justiça.
Na semana passada, no programa Conversa com Bial, Ciro Nogueira disse que Bolsonaro perderá para Lula no Nordeste, mas será reeleito por ganhar com folga em outras regiões do país. “O presidente Bolsonaro vai ganhar a eleição no Nordeste? Não. Não vai ganhar no Nordeste. Mas ter uma votação muito maior do que a que ele teve na eleição passada. (…) Em algumas regiões vamos superar, mas no geral o Lula ganha no Nordeste, mas vai perder no resto do país de uma forma muito significativa. Por isso que vamos chegar na eleição fazendo as contas se o Bolsonaro vai ganhar no primeiro turno”, aposta.