Segundo pesquisa Ibope encomendada pelo jornal O Globo, 38% dos entrevistados consideram que o povo é o maior responsável pela situação da covid-19 no Brasil. Para outros 33%, o maior responsável é o presidente Jair Bolsonaro. O levantamento também aponta que 71% dos brasileiros concordam que o país sofreu mais do que o esperado com a pandemia.
O levantamento, publicado neste domingo (6), faz um recorte de ideologia, que aponta para diferenças de opinião de acordo com a preferência política de cada entrevistado. Entre os que se declaram de direita, apenas 8% veem Bolsonaro como principal agente do agravamento da epidemia, enquanto 45% põem maior parcela de culpa na população. Já no universo de esquerda, 78% responsabilizam o presidente, contra 15% que apontam para o povo brasileiro.
Outro dado mostra que o grupo que se declara de esquerda percebe a pandemia como tendo tido impacto mais intenso e acredita mais em uma valorização da ciência diante da crise imposta pela covid-19.
Desde o início da pandemia, o presidente Bolsonaro se colocou contra medidas de isolamento e distanciamento social, recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como forma de conter a propagação do vírus. Além disso, ele é um dos mais propagadores da hidroxicloroquina, medicamento que não tem eficácia científica comprovada no tratamento da covid-19.
Recentemente, o governo adotou um discurso antivacina após o presidente dizer a apoiadores que “ninguém pode obrigar ninguém a tomar vacina”. A mensagem foi compartilhada pela conta oficial da Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República (Secom) nas redes sociais.
“A gente já está vivendo há algum tempo essa polarização, essa radicalização de ideias, e a pandemia entrou nessa toada”, afirmou Márcia Cavallari Nunes, CEO do Ibope Inteligência. “Temos observado debates em vários campos, com divergências sobre fazer distanciamento social ou não, usar certa medicação contra covid-19 ou não, tomar a vacina ou não.”
No universo investigado pela pesquisa, o grupo que se autodenominou como de centro foi o maior de todos, com 28%. A direita representou 24%, e 16% se identificam com a esquerda. Do restante, 8% disseram não saber onde se encaixariam no espectro político, 7% disseram não saber o que é ser de direita ou de esquerda e outros 17% preferiram não responder.
O Ibope ouviu 2.626 adultos entre os dias 21 e 31 de agosto, no universo de classes A, B e C. O nível de confiança do levantamento é de 95% e a margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos. As respostas foram colhidas pelo painel de internautas do Ibope Inteligência, entre 21 e 31 de agosto, em todas as regiões do país.
Segundo dados do Ministério da Saúde atualizados ontem (5), o Brasil ultrapassou a marca das 126 mil mortes por covid-19. O número diário de mortes tem diminuído, mas o vírus ainda está circulando e o número de novos contaminados segue elevado.