O escândalo de corrupção no Ministério da Educação (MEC) é apenas o caso mais recente da trágica gestão da educação brasileira desde a posse do presidente Jair Bolsonaro (PL). Apesar de ter sido exonerado e preso preventivamente por conta das denúncias, Milton Ribeiro foi o ministro da Educação que teve a gestão mais duradoura.
Ribeiro passou a ser investigado após denúncias apontarem a existência de um “gabinete paralelo” dentro do Ministério. Pastor presbiteriano, ele era assessorado por outros dois pastores, que atuavam na distribuição de verbas federais destinadas à educação do país, mesmo sem terem vínculo com o MEC e com o governo federal. O ex-ministro, ainda no cargo, foi processado por falas apontadas como homofóbicas e transfóbicas.
Entenda as denúncias de corrupção no MEC.
Antecederam Ribeiro os ministros Ricardo Vélez Rodríguez, Abraham Weintraub e Carlos Decotelli — este último não chegou nem a tomar posse no ministério devido às polêmicas envolvendo o seu currículo. Relembre a passagem de cada um deles.
O governo Bolsonaro começou com Ricardo Vélez Rodríguez à frente do MEC. Seguidor dos ensinamentos do escritor Olavo de Carvalho, o ministro teve uma gestão polêmica e que durou apenas três meses, marcada por atritos entre os militares e os olavistas.
O ministro chegou a pedir a diretores de escolas que lessem para alunos uma carta que terminava com o slogan da campanha de Bolsonaro nas eleições, filmassem os alunos durante a leitura e enviassem os vídeos para o MEC. A ideia foi abandonada e Vélez admitiu ter se equivocado após a forte repercussão do caso.
Vélez também afirmou que determinaria mudanças no conteúdo de livros de História para negar que o Brasil tenha sido alvo de golpe de Estado em 1964, mas salvo por um “contragolpe” para impedir a instalação do comunismo no país. “Está bastante claro que não está dando certo o ministro Vélez. É uma pessoa honrada, mas está faltando gestão”, afirmou Bolsonaro, dois dias antes de demitir o ministro.
Vélez foi substituído por Abraham Weintraub, também seguidor das ideias de Olavo de Carvalho. Durante a gestão, ocorreram problemas na correção e atribuição de notas dos estudantes na edição de 2019 do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e tentou intervir na nomeação dos reitores das universidades federais.
Além das polêmicas, o ministro não foi um bom gestor, sendo alvo de insatisfação no Congresso, no Supremo Tribunal Federal (STF) e na ala militar do governo. O estopim para a saída do ministro foi a participação em um ato contra o STF. “Já falei a minha opinião, o que faria com esses vagabundos”, disse o ministro. Weintraub
Queimado, o ministro ganhou um cargo de diretor-executivo do conselho administrativo do Banco Mundial como forma de compensação. Em uma espécie de “fuga” do país, o ministro embarcou para os Estados Unidos afirmando que ele e sua família sofriam ameaças. A exoneração de Weintraub só foi publicada após o ministro desembarcar.
Carlos Decotelli foi anunciado como o novo ministro do MEC no dia 25 de junho. No anúncio publicado no Twitter, o presidente fez questão de exaltar o currículo do novo indicado. “Decotelli é bacharel em Ciências Econômicas pela UERJ, mestre pela FGV, doutor pela Universidade de Rosário, Argentina e pós-doutor pela Universidade de Wuppertal, na Alemanha”, escreveu o presidente.
No dia seguinte, o reitor da Universidade Nacional de Rosario, Franco Bartolacci, foi ao Twitter afirmar que Decotelli nunca obteve a titulação de doutor na instituição.
Nos vemos en la necesidad de aclarar que Carlos Alberto Decotelli da Silva no ha obtenido en @unroficial la titulación de Doctor que se menciona en esta comunicación. https://t.co/s4cipmc7Ur
— Franco Bartolacci (@fbartolacci) June 26, 2020
Em seguida, a Universidade de Wuppertal também desmentiu a informação de que o professor possuía pós-doutorado pela universidade. Por fim, o ministro indicado teve se explicar pelas acusações de plágio na dissertação de seu mestrado, defendida em 2008 pela FGV.
Decotelli tentou defender as titulações contestadas e a dissertação plagiada, mas não colou. Precisou desistir da indicação após as polêmicas e não assumiu o MEC.
Sob o comando do pastor Milton Ribeiro, o órgão da educação foi holofote de crises, que atingiram em cheio a pasta e às autarquias e empresas vinculadas. O ministro também se notabilizou por proferir falas consideradas homofóbicas e preconceituosas, a exemplo das críticas à inclusão de crianças com deficiência na educação escolar.
A menos um mês da realização do Enem, em novembro de 2021, 37 servidores do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão do MEC responsável pela prova, pediram demissão dos seus cargos devido a “fragilidade técnica e administrativa da atual gestão máxima” do órgão. Também foram mencionados episódios de assédio moral.
Em setembro de 2020, o ministro disse que jovens homossexuais são consequência de “famílias desajustadas”. O ministro pediu exoneração após as denúncias de corrupção envolvendo a sua gestão.
Após sair do ministério, o Ministro se viu sob os holofotes após disparar acidentalmente uma arma de fogo no aeroporto internacional de Brasília. Não repercutiu bem entre membros da comunidade evangélica a revelação de que o pastor presbiteriano andava armado.
Até então o secretário-executivo do MEC, Victor Godoy foi nomeado ministro interino no dia 30 de março após as denúncias envolvendo Milton Ribeiro. Desde então, o ministro tem tentado ficar longe de polêmicas e se distanciar da gestão de Ribeiro (apesar de ser o braço direito do ex-ministro).
Em audiência pública na Câmara dos Deputados, o ministro negou proximidade com o “gabinete paralelo” de pastores no MEC. “Informo que as únicas vezes que participei de eventos com as presenças dos pastores citados nas reportagens foi a convite do ministro [Milton Ribeiro] para compor a mesa de abertura. Todos os três eventos em que participei nessa qualidade foram realizados no auditório do MEC”, ressaltou.
O ministro também afirmou que Milton Ribeiro “nunca solicitou ou impôs” qualquer espécie de ato ilegal. “Os assuntos, porventura, tratados por eles e o ex-ministro da Educação não eram de meu conhecimento”, acrescentou.