Na visão de parlamentares do chamado Centrão, a relação entre o presidente Jair Bolsonaro e o Congresso parece ter superado a fase de embates e entrado em um novo momento, em que congressistas articulam assuntos e votações de interesse nacional sem consultar a opinião do governo.
> Maia diz que Bolsonaro demorou a reagir à crise do coronavírus
“A relação com ele nunca existiu. A gente resolveu trabalhar sem falar com ele. Deixamos ele tocar a vida dele lá, ele faz as merdas que ele quer fazer e a gente trabalha sem perguntar e sem conversar nada com o governo”, afirma o vice-líder do Centrão, Paulinho da Força (Solidariedade-SP).
O Centrão reúne mais de 200 deputados e é composto pelo PL, PP, PSD, MDB, Republicanos, DEM, Solidariedade, PTB, Pros, Avante e Patriota.
“No Congresso a gente conversa diretamente com os líderes do Congresso e com os presidentes dos partidos, sem ter a opinião do governo. Ele [Jair Bolsonaro] não é ouvido para nada. O que o governo faz que a gente acha que é positivo a gente aprova, e o que a gente não concorda… Enfim, o Congresso age com muita independência do governo”, afirmou.
Leia também
O deputado diz que essa é uma situação atípica. “Em 13 anos de Congresso em nunca vi isso. O governo sempre teve muita influência no Congresso, sempre está lá, dá opinião e participa. Em todas as comissões tem gente importante do governo que participa, no Plenário tem gente de importância do governo dando palpite”, conta
![MP 870](https://static.congressoemfoco.uol.com.br/2019/05/img20190423131406419-300x200.jpg)
Líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO) [fotografo]Pablo Valadares/Câmara[/fotografo]
> Deputados aprovam regulamentação do orçamento impositivo
Um dos nomes cogitados para assumir a presidência da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) na Câmara, Lafayette de Andrada (Republicanos-MG), acredita que as falas de Bolsonaro já não levam impacto negativo ao parlamento. “Eu não vejo nada que agrida e que piore a relação com o Congresso e com os deputados. Tudo permanece igual”, afirmou.
“É uma característica desse mandato, ele realmente não tenta tocar uma agenda com o presidente da Câmara nem com o do Senado. Aí a Câmara toca sozinha, naturalmente. Os projetos que chegam do governo, que a Câmara acha que é uma coisa boa, a Câmara vota. Permanece ele lá e a Câmara cá, assim vamos trabalhando pelo Brasil”, disse Andrada.
Questionado sobre Vitor Hugo, o deputado utilizou palavras mais brandas do que seu colega do Centrão, mas também deixou claro que o líder não exerce um papel de influência no parlamento. “Vitor Hugo conversa com demais líderes quando chega projeto do governo. Ele explica a importância de um projeto ou outro. Mas ele não é como nos governos anteriores”, analisou. “O líder, na verdade, é um intermediário, faz o meio do caminho. Ele vai aos demais líderes e explica a importância dos projetos. Aí os líderes checam e veem se a importância é aquela mesma e votam”, concluiu.
A reportagem procurou a liderança do governo na Câmara para falar sobre a relação com o parlamento, mas até a publicação dessa matéria, não obteve resposta.
> Prioridade deve ser saúde até para atenuar danos na economia, alerta Farol