Na visão de parlamentares do chamado Centrão, a relação entre o presidente Jair Bolsonaro e o Congresso parece ter superado a fase de embates e entrado em um novo momento, em que congressistas articulam assuntos e votações de interesse nacional sem consultar a opinião do governo.
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“A relação com ele nunca existiu. A gente resolveu trabalhar sem falar com ele. Deixamos ele tocar a vida dele lá, ele faz as merdas que ele quer fazer e a gente trabalha sem perguntar e sem conversar nada com o governo”, afirma o vice-líder do Centrão, Paulinho da Força (Solidariedade-SP).
O Centrão reúne mais de 200 deputados e é composto pelo PL, PP, PSD, MDB, Republicanos, DEM, Solidariedade, PTB, Pros, Avante e Patriota.
“No Congresso a gente conversa diretamente com os líderes do Congresso e com os presidentes dos partidos, sem ter a opinião do governo. Ele [Jair Bolsonaro] não é ouvido para nada. O que o governo faz que a gente acha que é positivo a gente aprova, e o que a gente não concorda… Enfim, o Congresso age com muita independência do governo”, afirmou.
O deputado diz que essa é uma situação atípica. “Em 13 anos de Congresso em nunca vi isso. O governo sempre teve muita influência no Congresso, sempre está lá, dá opinião e participa. Em todas as comissões tem gente importante do governo que participa, no Plenário tem gente de importância do governo dando palpite”, conta
Publicidade Questionado sobre se há uma tentativa de aproximação do líder do governo na Câmara, Vitor Hugo (PSL-GO) com os partidos de centro, Paulinho foi taxativo em afirmar que não. “Com nós não. A gente também não liga muito. É isso que eu estou te falando, a gente não conhece nada do governo. O Vitor Hugo é um bobo da corte. O cara tem pouco tempo de Casa, quem é que vai ouvir ele? O cara não entende nada dos bastidores do Congresso”, disse Paulinho.> Deputados aprovam regulamentação do orçamento impositivo
Um dos nomes cogitados para assumir a presidência da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) na Câmara, Lafayette de Andrada (Republicanos-MG), acredita que as falas de Bolsonaro já não levam impacto negativo ao parlamento. “Eu não vejo nada que agrida e que piore a relação com o Congresso e com os deputados. Tudo permanece igual”, afirmou.
“É uma característica desse mandato, ele realmente não tenta tocar uma agenda com o presidente da Câmara nem com o do Senado. Aí a Câmara toca sozinha, naturalmente. Os projetos que chegam do governo, que a Câmara acha que é uma coisa boa, a Câmara vota. Permanece ele lá e a Câmara cá, assim vamos trabalhando pelo Brasil”, disse Andrada.
Questionado sobre Vitor Hugo, o deputado utilizou palavras mais brandas do que seu colega do Centrão, mas também deixou claro que o líder não exerce um papel de influência no parlamento. “Vitor Hugo conversa com demais líderes quando chega projeto do governo. Ele explica a importância de um projeto ou outro. Mas ele não é como nos governos anteriores”, analisou. “O líder, na verdade, é um intermediário, faz o meio do caminho. Ele vai aos demais líderes e explica a importância dos projetos. Aí os líderes checam e veem se a importância é aquela mesma e votam”, concluiu.
A reportagem procurou a liderança do governo na Câmara para falar sobre a relação com o parlamento, mas até a publicação dessa matéria, não obteve resposta.
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