Durante o evento “Encontro Brasil Vencendo a Covid-19”, realizado na manhã segunda-feira (24) no Palácio do Planalto, o presidente Jair Bolsonaro voltou a atacar a imprensa ao comentar um episódio em que salvou a vida de um colega quando ainda estava no Exército, aos 23 anos. “Sempre fui atleta das Forças Armadas. É aquela história de atleta, né, que o pessoal da imprensa vai pro deboche. Mas quando pega algum bundão de vocês, a chance de sobreviver é bem menor. Só sabe fazer maldade, usar a caneta com maldade em grande parte (tem exceções como o Alexandre Garcia aqui). A chance de sobreviver é bem menor do que a minha”, disparou. O jornalista Alexandre Garcia, que está na CNN Brasil, participou do evento.
Ontem, ao ser questionado por um repórter do jornal O Globo sobre os cheques depositados por Fabrício Queiroz à primeira-dama Michelle Bolsonaro, o presidente ameaçou o jornalista. “A vontade que eu tenho é de encher sua boca de porrada”, disse o presidente. A fala foi repudiada por diversos veículos, associações de jornalismo e parlamentares.
Defesa da cloroquina
No evento o presidente e médicos convidados fizeram defesa enfática da hidroxicloroquina no tratamento da covid-19. Estudos apontam que não há eficácia comprovada do medicamento no combate ao vírus. A Organização Mundial da Saúde (OMS) retirou a hidroxicloroquina de seus testes científicos contra o novo coronavírus. O medicamento já havia sido suspenso pela OMS devido à falta de resultados.
“Se a hidroxicloroquina não tivesse sido politizada, muitas mais vidas poderiam ter sido salvas dessas 115 mil que o Brasil chegou nesse momento”, disse o presidente Jair Bolsonaro.
Bolsonaro fez um apanhado da forma como o Brasil vem enfrentando a pandemia e citou divergências com o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, que deixou o posto em abril. Ele citou uma primeira discordância entre os dois quando, em 2019, Mandetta defendeu que o Revalida (Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos Expedidos por Instituição de Educação Superior Estrangeira) fosse utilizado também pelas instituições particulares do país. “Assim como se muda de médico, eu mudei de ministro.”
“Aprendi no meio militar que pior que uma decisão mal tomada é uma indecisão”, disse Bolsonaro a respeito da cloroquina. Ele defendeu a permissão conferida aos médicos de receitar o medicamento e afirmou que a maioria das autoridades do governo diagnosticadas com covid-19 se trataram com a droga. O próprio presidente, quando contraiu o vírus, anunciou diversas vezes que fazia uso do medicamento. “A observação é de que está dando certo. Eu sempre ouvia do Mandetta: ‘não tem comprovação científica’. Oras bolas, eu sei que não tem”, afirmou.
Publicidade“Permitam que os pacientes tenham acesso a essas medicações”, disse a médica anestesiologista Luciana Cruz, acompanhada por outros dois médicos. O secretário-executivo do Ministério da Saúde, Élcio Franco, afirmou que em tempos de pandemia o uso de medicamentos off-label é permitido garantidos a autonomia do médico e o consentimento do paciente. O medicamento off–label é aquele cuja indicação do profissional assistente diverge do que consta na bula. “Já temos estudos randomizados que comprovam a eficácia e a eficiência desse medicamento associado a outros”, afirmou.
O assessor especial da Presidência Arthur Weintraub, irmão do ex-ministro Abraham Weintraub, defendeu que o médico tenha liberdade. “A questão da hidroxicloroquina e da cloroquina atingiu um patamar de discussão mais ideológica do que científica”, disse ele, que minimizou efeitos colaterais causados pelo uso da droga. Ainda em maio, a OMS alertou para esses efeitos, sendo a arritmia cardíaca um exemplo.
O evento também contou com a presença do deputado Osmar Terra, que questionou a gravidade da pandemia e a letalidade do vírus e já foi cotado para assumir o Ministério da Saúde.
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