Eduardo Horacio, do site Poder Goiás
O presidente estadual do MDB, Daniel Vilela, anunciou nesta segunda-feira (6), o rompimento formal do partido com a gestão do prefeito Rogério Cruz (Republicanos), depois de intensa fritura. Em carta à população goianiense, o partido diz que o prefeito foi “desleal” ao trazer novos auxiliares que desconhecem e sequer têm compromisso com a capital e ao se distanciar completamente do projeto de governo que elegeu Maguito Vilela (MDB) em novembro do ano passado. Ex-deputado federal e filho de Maguito, Daniel coordenou a campanha e representou o pai desde sua internação, em outubro.
A decisão foi tomada após uma série de desgastes que teve início com a abrupta substituição de auxiliares nomeados pelo prefeito eleito, que morreu em consequência da doença em 13 de janeiro. Acompanham a decisão do MDB todos os auxiliares do primeiro escalão escolhidos pela legenda, incluindo nomes sem filiação partidária. São 14 secretários ao todo.
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Pastor licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), Rogério Cruz foi chefe de uma divisão do Grupo Record responsável por exportar conteúdo da emissora para países africanos e chegou a Goiânia em 2010 para reestruturar emissoras da Record estado. Virou vereador em 2012, reelegendo-se em 2016. A escolha de seu nome como vice de Maguito, referendada por segmentos evangélicos, pegou observadores políticos locais de surpresa devido à sua pouca densidade eleitoral.
Desmanche
A saída em massa de auxiliares soma-se a outros cinco nomes ligados ao MDB que já foram substituídos ou que estavam com demissão anunciada por Rogério Cruz. O primeiro a ser exonerado foi Andrey Azeredo, que ocupava a secretaria de Governo. Depois dele, o Paço trocou os comandos das secretarias de Comunicação, Bruno Rocha Lima; Administração, Marcela Araújo; Educação, Marcelo Costa, além da presidente da Agência Municipal de Meio Ambiente (Amma), Zilma Campos Peixoto. O secretário de Infraestrutura Urbana (Seinfra), o ex-deputado federal Luiz Bittencourt, antecipou-se e pediu demissão após decreto que suspendeu o contrato de reconstrução asfáltica de ruas e avenidas da Capital, um dos maiores investimentos do Paço em andamento.
Publicidade“O MDB não está saindo da gestão. Quem está saindo é Daniel Vilela e seu grupo. Respeito essa decisão”, disse Rogério Cruz em pronunciamento feito nesta segunda-feira (veja a íntegra mais abaixo) em resposta ao rompimento anunciado pelo presidente estadual do MDB.
A decisão do prefeito de promover uma ampla reforma administrativa antes mesmo de completar três meses de mandato – e dois meses depois da morte de Maguito Vilela – atende às vontades de seu partido em nível nacional e ao desejo da Igreja Universal do Reino de Deus por postos estratégicos da Prefeitura de Goiânia. As mudanças vieram após pressão da direção nacional do partido e sequer levam em conta o trabalho deixado pelo ex-prefeito Iris Rezende (MDB), principal liderança da história do partido no estado.
Rogério Cruz assumiu em definitivo o comando do Paço em 15 de janeiro, dois dias após a morte de Maguito Vilela, por complicações da covid-19. Ao assumir, o prefeito foi claro em anunciar tom conciliador e enfatizar o propósito de levar adiante do plano de governo deixado por Maguito e a continuidade da gestão de Iris, mote vencedor da eleição.
Republicanos
Não demorou muito e Cruz passou a ser pressionado pela cúpula de seu partido e pela Iurd a promover mudanças. A decisão de Rogério Cruz de ceder a esses dois desejos veio no início de março. Na visão da cúpula, encampada pelo prefeito, o luto já havia passado e as mudanças deveriam começar logo.
Em reuniões com o presidente do MDB, Daniel Vilela, as primeiras alterações foram anunciadas. Apesar da resistência inicial e do alerta das consequências que tais mudanças ocasionariam, a decisão já estava tomada. A surpresa maior estava no interlocutor: Wanderley Tavares, presidente do Republicanos no Distrito Federal.
Mesmo contrariado, o MDB pretendia se adaptar e acatar as mudanças. O partido considerava natural um maior espaço para o Republicanos, mesmo avaliando como precipitadas as mudanças com menos de dois meses da morte de Maguito, sem contar a preocupação com a chegada de nomes que não conheciam Goiânia. A temperatura voltou a subir com o rompimento de acordos, alguns menores e outros maiores, e novas decisões consideradas precipitadas.
Depois de diversas reuniões e consultas internas, Daniel Vilela decidiu colocar o rompimento em pauta com a decisão de Rogério Cruz de substituir também Zilma Campos Peixoto da presidência da Amma. A secretária era um dos símbolos do mandato exitoso de Iris Rezende. Além disso, estava claro que o Republicanos e a Igreja Universal não estavam dispostos a acordos e continuariam a fazer mudanças.
Obras paralisadas
A substituição acelerada de auxiliares não foi o único fator a causar incômodo entre os emedebistas. A decisão de Rogério Cruz de suspender o contrato de reconstrução do asfalto de 630 quilômetros de ruas e avenidas da capital deixou perplexo o comando do MDB. A medida, sem nenhuma comprovação de irregularidade, não representava apenas paralisação da atual gestão, mas também era vista como afronta ao ex-prefeito Iris Rezende.
O mesmo Diário Oficial que trouxe o decreto de suspensão do contrato também trouxe outras surpresas, criando comitês de gestão e concentrando poderes na Secretaria de Governo, agora sob o comando de Arthur Bernardes, nome forte da “nova gestão” e que foi sugerido por Wanderley Tavares.
Em reunião com todo secretariado para detalhar um dos decretos, que cria um plano de governança para o município, o secretário de Finanças, Alessandro Melo, rebateu com veemência as mudanças. Melo classificou os decretos como “retrocessos” e afirmou haver grande desconhecimento dos méritos da gestão de Iris Rezende e que o atual governo se propunha a dar continuidade. Rogério Cruz ouviu as queixas, mas não se manifestou.
QG em condomínio de luxo
Como é natural em qualquer gestão, não é só no quinto andar do Paço Municipal que são tomadas as principais decisões do prefeito Rogério Cruz. Os novos “homens fortes” da administração municipal alugaram uma casa no Residencial Alphaville, um dos principais condomínios de luxo da capital, formando um QG que aconselha diariamente o prefeito.
Na casa são realizadas reuniões e tomadas decisões sobre as mudanças em andamento na administração do município – e não há nenhuma ilegalidade nisso. Presidente do Republicanos do Distrito Federal, Wanderley Tavares é considerado o “homem forte” da gestão ou, em outras palavras, o que mais influencia a cabeça do prefeito Rogério Cruz. Ele sempre avalia qualquer mudança na Prefeitura. O atual secretário de Governo, Arthur Bernardes, considerado homem de confiança de Wanderley, participa diretamente das reuniões e tem muita influência sobre o prefeito. Além deles, é comum membros de uma emissora de TV de Goiânia estarem presentes em algumas reuniões.
Neste novo cenário, o prefeito Rogério Cruz escolheu ser influenciado por nomes da Igreja Universal e da direção nacional dos Republicanos em vez de dar ouvidos ao MDB. Já os deputados João Campos (federal) e Jeferson Rodrigues (estadual), que exercem mandato pelo mesmo partido, participam de algumas reuniões, mas, em geral, são escanteados pela cúpula da Prefeitura.
Segundo o prefeito, seu plano de governo é o mesmo de Maguito. “Não existe mudança de rumo, vamos cumprir o plano de governo. E o líder deste processo sou eu, o prefeito da cidade. Não fugirei das minhas responsabilidades”, afirmou Cruz.
Integrante do chamado Centrão e integrante da base de apoio do presidente Jair Bolsonaro, o Republicanos dobrou, em 2020, o número de prefeitos eleitos na comparação com a eleição anterior. Apesar de ter perdido o Rio de Janeiro, com Marcelo Crivella, viu pular de 105 para 212 o número de prefeituras conquistadas, considerando-se também o mandato herdado de Maguito em Goiânia. A legenda também comanda outras cidades importantes, como Vitória e Campinas (SP). O Republicanos comanda hoje o Ministério da Cidadania, com o deputado licenciado João Roma (BA).
Veja nota do prefeito Rogério Cruz:
Maguito Vilela, prefeito de Goiânia, morre de covid-19
Intubado, Maguito vence com liderança do filho e tropeços de senador