Vida é vontade de potência, de força, de luta, de combate (Nietzsche). Quem luta por uma revolução luta por uma forma de vida. E tudo que vive sempre quer ser hoje mais do que ontem. A própria essência da vida, sobretudo quando revolucionária, é o expandir, é o conquistar mais, ir mais longe, avançar, progredir, ocupar mais espaços, mais protagonismo.
Com a crise das ideologias (da direita e da esquerda, do comunismo, da democracia-liberal) abriu-se um vácuo no poder. Duas revoluções em curso estão querendo ocupar esse espaço. Tendo Demétrio Magnoli como ponto de partida, eis as duas visões de mundo que não são, evidentemente, as únicas):
Paulo Guedes (PG) X Olavo de Carvalho (OC)
Paulo Guedes (PG) perguntou a Olavo de Carvalho (OC): “Por que o líder dispara contra a revolução que inspirou”? ➡ A revolução do OC não é a mesma revolução do PG. Mais: são coisas conflitantes, que estão em guerra. OC não é líder da revolução de PG.
PG defende o liberalismo econômico radical (Estado mínimo, fim do bem-estar social etc). ➡ OC defende um passado mítico, com soberanias absolutas, hierarquias patriarcais + liberdades naturais, como colono armado.
O liberalismo do PG é o do século 19, recrudescido a partir dos anos 70-80, com Reagan e Thatcher. ➡ A revolução de OC inspira-se em algo muito anterior, perdido no tempo.
PublicidadeA Escola de Chicago é sua fonte (Milton Friedman é um dos guias). ➡ OC tem como fonte o conservadorismo europeu + o nativismo individualista americano.
“Dirigentes de empresa não podem ter nenhuma responsabilidade social que não seja dinheiro para os acionistas” (Milton Friedman). ➡ É preciso combater o envenenamento cultural provocado pelas bactérias do Iluminismo. Daí nasceu a direita nacionalista (alt-right).
O liberalismo econômico radical é uma ideologia que não prega mudanças nos costumes. ➡ Os liberais globalistas (adeptos da globalização e do livre mercado mundial) estão associados aos “marxistas” e conspiram contra os povos.
PG não tem nada de marxista. ➡ Mas OC fuzilaria ele junto com os comunistas e marxistas (teoricamente).
O liberalismo de PG pretende a privatização de tudo, “tudo, tudo” (ele disse). ➡ A revolução de OC é um populismo fundado em valores tradicionais (família tradicional, patriarcalismo tradicional, nação unificada, etc).
Afirma-se que o Estado intervencionista é ineficiente e burocratizado. O Mercado seria lépido e criativo. Por si só resolveria os problemas da nação. ➡ A revolução de OC é uma guerra cultural permanente (não especificamente econômica). Não pode parar e assim mantém seus seguidores.
A economia deve ser liberalizada unilateralmente, estimulando-se a competitividade. ➡ OC clama por uma utopia: “A volta dos ponteiros da História a uma Idade de Ouro imaginária”.
Mercado acima de tudo, sem regulamentação. ➡ Deus acima de tudo.
Reformas da previdência e do Estado, corte de gastos, para que o Mercado tenha prosperidade total. ➡ Denúncia contínua dos “traidores da causa”, adeptos do “marxismo cultural”. A guerra permanente exige “atualizar o discurso das campanhas em todo momento”. Nunca deixa de ter um inimigo para manter acesa a chama ideológica.
Governabilidade regida pelas leis do mercado e da mão invisível que tudo soluciona. ➡ Perene ingovernabilidade (falta de coesão, perda da autoridade e da capacidade de agregação). Separar para mandar.
Reforma previdenciária como ato inaugural do liberalismo radical. ➡ Falta de coesão parlamentar e de consensos para aprovar reformas.
PG joga em favor do Mercado (que é um segmento elitizado da sociedade). ➡ O governo populista, patriótico e nacionalista dificilmente abandona seus seguidores fieis.
Uma terceira visão de mundo vem de Raghuram Rajam, da Universidade de Chicago, ex-economista-chefe do FMI e ex-presidente do Banco Central da Índia. Seu livro (O terceiro pilar) agrega ao Estado e ao Mercado a Comunidade. Trata-se de uma visão humanista (inclusiva) que vamos aprofundar em outro artigo.
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