O governo do Distrito Federal, responsável pela saúde pública em Brasília, afirmou não ter informações sobre que empresas deverão fornecer as vacinas para que o governo possa imunizar a população a covid-19. O GDF também não possui informações sobre quem deverá ser imunizado primeiro contra a doença caso uma imunização esteja disponível, nem trabalha com o cronograma para tal.
A resposta foi dada pela Diretoria de Vigilância Epidemiológica do Distrito Federal, a um questionamento via Lei de Acesso à Informação feita por Marivaldo Pereira, advogado e assessor parlamentar, e colunista deste Congresso em Foco. À pergunta sobre quais tratativas o governo do DF tem tomado em relação às vacinas, o GDF deu uma resposta concreta – e preocupante.
“O Ministério da Saúde tem conversado com os estados sobre a vacinação contra o covid-19, mas até o momento não recebemos informações sobre empresas, qual a população será vacinada e nem quando a vacinação será iniciada”, escreveu a gerente de Vigilância das Doenças Imunopreveníveis e de Transmissão Hídrica e Alimentar do DF, Renata Brandão. Ela ainda concluiu:
“Esta gerência desconhece sobre negociação para compras de vacina pela SES DF”, concluiu. A resposta ainda conta com a aprovação do Secretário Adjunto de Assistência à Saúde do DF, Petrus Leonardo Barron Sanchez.
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“Ao contrário de outros estados, que se articularam para conseguir suas próprias vacinas, o DF amarrou seu destino ao Ministério da Saúde – que não consegue sequer distribuir testes para a covid-19 e que não tem um planejamento para a vacina”, explicou Marivaldo, o autor do questionamento. “O Distrito Federal possui a maior taxa de mortalidade por milhão de habitantes em termos de covid, e não há nenhum planejamento do governo do DF, aguardando um Ministério da Saúde acéfalo.”
A estratégia do Distrito Federal, de entregar seu planejamento diretamente ao governo federal, difere da postura de outros estados. São Paulo tem apostado, desde o início da pesquisa em vacinas, em uma imunização própria, a Coronavac – desenvolvida em parceira com o laboratório chinês Sinovac. O estado do Paraná tem contrato com o governo russo para a produção da Sputnik V, vacina desenvolvida em tempo recorde por Moscou.
O médico sanitarista e professor da Fundação Getúlio Vargas, Adriano Massuda, aponta que estes dois estados tem vantagens logísticas neste caso, uma vez que tem cadeias produtoras de insumos. Aos outros estados sem esta vantagem competitiva, cabe aguardar mesmo o planejamento do Ministério da Saúde.
O problema é que muitos estados estariam, na visão do professor, postergando o esforço. “Há certa comodidade de secretarias estaduais em deixar para o governo federal”, disse, lembrando que a disputa do governo pela narrativa das vacinas e a aposta em uma ficha única, da imunização da AstraZeneca com a Universidade de Oxford, é o pior cenário possível para o país.
Massuda aponta que a paralisia do ente federal poderia ser contornada pelo Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass), que teria a capacidade técnica de criar um plano de imunizações à parte – isso, porém, ainda não ocorreu. “Independente de ter ou não a vacina, deveria haver um plano montado”, explicou.
Apesar do tamanho, o DF tem a terceira maior região metropolitana do país, Brasília, com 3 milhões de habitantes. Enquanto o papel dos estados é de coordenar a saúde pública e a eventual imunização da população, o Distrito Federal também é responsável pelo sistema de saúde público, uma vez que não tem municípios.
A capital federal foi uma das primeiras a tomar medidas contra o contágio do coronavírus, ordenando o fechamento de escolas e de atividades não essenciais ainda no início de março.
Os cuidados – hoje já em uma fase mais relaxada – não impediram que os casos se avolumassem: segundo os dados do portal de Transparência do governo, o DF registrou quase 227 mil casos da doença, com 3.810 mortes. Com 1.214 mortes por milhão de habitantes, o Distrito Federal vem experimentando um aumento no número de casos, assim como em outros estados brasileiros.
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