A CPI da Saúde ouviu nesta quarta-feira (2) a médica Luana Araújo, ex-secretária de enfrentamento à Covid do Ministério da Saúde. A convocação atendeu ao requerimento apresentado pelo senador Humberto Costa (PT-PE).
No pedido de depoimento, o parlamentar lembrou que ela foi demitida “a mando do presidente da República”, dez dias após a médica assumir o cargo. Luana foi ouvida como testemunha e, portanto, não tinha o direito de optar por ficar em silêncio.
Tratamento precoce
Luana Araújo, afirmou que a discussão sobre o tratamento precoce –defendido pelo próprio presidente Jair Bolsonaro -, é “delirante, anacrônica e contraproducente”.
“Quando eu disse um ano atrás que nós estávamos na vanguarda da estupidez mundial, eu infelizmente ainda mantenho isso em vários aspectos, porque nós ainda estamos aqui discutindo uma coisa que não tem cabimento. É como se a gente estivesse escolhendo de que borda da Terra plana a gente vai voar; não tem lógica”, afirmou.
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A declaração foi dada após ser questionada pelo relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), se debateu a possibilidade de tratamento precoce contra a covid-19 com o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga.
PublicidadeAinda em depoimento, a médica classificou o tratamento precoce como “perda de tempo”.
“Perder tempo na pandemia é perder vidas. Tempo e energia gastos em uma discussão anacrônica e contraproducente, tanto pelo tamanho quanto pela sua ineficiência”, disse ela.
Questionada pelo senador Eduardo Girão (Podemos-CE) sobre as consequências da corrupção na pandemia, a médica respondeu que “na saúde, a corrupção mata”.
“Corrupção rouba dinheiro da onde ele deveria ser investido. Se esse dinheiro é desviado de áreas que são cronicamente sub-financiadas, isso é ainda mais complexo. Então, a resposta curta e direta é que corrupção mata”, afirmou.
Negacionismo
Em sabatina, a médica se emocionou ao ver um compilado de vídeos exibidos pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), em que o presidente Jair Bolsonaro dispara falas negacionistas e que minimizavam a pandemia. “A mim, me dói”, diz Luana.
A infectologista também afirma que, para quem trabalha com saúde pública, é impossível não se sentir atingido esse tipo de declarações.
Em um dos momentos, a senadora Leila Barros (PSB-DF) questionou a médica sobre divulgação de tratamento precoce que supostamente cura Covid e a falsa sensação de segurança que isso poderia gerar na população. Confira este momento:
Dez dias
Luana Araújo foi anunciada como chefe da Secretaria Extraordinária de Enfrentamento à Covid-19 e depois de dez dias foi informada de que sua nomeação não seria concretizada. Aos parlamentares, ela disse que não soube o motivo da demissão, mas afirmou ter sido informada que seu nome “não passou na Casa Civil”.
A indicação da médica foi anunciada em 12 de maio pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. Apesar de indicada ao cargo, Luana se mostrou contra as teses impostas pelo governo.
Amédica negou ter enfrentado resistências internas durante o período que integrou o ministério. Porém, ela relatou que uma “politicagem incabível” na condução da pandemia no governo federal tem afastado grandes talentos da possibilidade de integrar a equipe. Veja:
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