O Comando Militar do Norte, sediado em Belém (PA), vai organizar na capital paraense uma solenidade na próxima sexta-feira (29) em alusão a 31 de março de 1964, início do regime militar no Brasil. Assinado pelo general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, o convite afirma que a solenidade é alusiva à “Revolução Democrática” de 31 de março.
Procurado pelo Congresso em Foco, o Comando Militar do Norte confirmou que a cerimônia está agendada e o convite é verdadeiro. O comando informou que optou por incluir este evento no calendário após a recomendação do governo Bolsonaro de fazer “as comemorações devidas” pelo dia do golpe militar, mas que as “celebrações são restritas e de caráter interno”.
Como o dia 31 cairá num domingo, a solenidade foi antecipada para sexta-feira às 8h. O comando informa que não instruiu a tropa a levar os parentes para a solenidade, mas o convite é extensivo a familiares e militares da reserva, que são orientados a usar traje esporte fino.
Procurado, o Exército confirmou o evento, mas afirmou que será “uma formatura militar interna e com a participação exclusiva de militares”. O Congresso em Foco questionou se outros eventos semelhantes em outros comandos, mas não obteve resposta.
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Rixa antiga
A sensibilidade do tema vem de longe. Em março de 2011, no primeiro ano de mandato da presidente Dilma Rousseff, o então ministro da Defesa, Nelson Jobim, recebeu a inesperada visita de um dos seus mais próximos assessores civis. Esbaforido, ele contou que no dia 31, data atribuída à deflagração do movimento de 1964 (erroneamente, já que a data em que o levante se consumou foi 1º de abril), seria realizada uma palestra no Setor Militar Urbano, em Brasília, sobre a herança do que os militares mais antigos chamam até hoje de “revolução”.
PublicidadeO palestrante seria o general Augusto Heleno, à época chefe do Departamento de Ciência e Tecnologia, que iria para a reserva em maio daquele mesmo ano. Jobim imediatamente pegou o telefone e determinou o cancelamento do evento. Dirigindo-se ao comandante do Exército, general Enzo Martins Peri, limitou-se a afirmar: “General, o senhor sabe que essa palestra não pode acontecer, né?”. Não aconteceu.