A morte do servidor Sérgio Ricardo Batista, diretor de controles internos e integridade da Caixa, disparou um novo alerta para as condições de trabalho do banco estatal. O episódio, investigado como suicídio, se deu em meio a revelação de denúncias de assédio moral e sexual por parte de gestores. De acordo com Sergio Takemoto, presidente da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa (Fenae), os fatos recentes da empresa são parte de uma crise na atenção à saúde mental dos funcionários, agravados pelos assédios.
Takemoto conta que esse já era um problema crescente na estatal, e, nos últimos anos, passou a atingir a saúde mental de grande parte dos servidores. E a função de Sérgio Ricardo era justamente apurar as denúncias de assédio. “Não sabemos exatamente o que levou ele a cometer esse gesto tão duro, mas a gente sabe que a saúde dos trabalhadores vinha piorando ano a ano”.
Antes mesmo de Sérgio Ricardo assumir a diretoria de controle interno, a Fenae já percebia que os assédios morais e sexuais eram a principal ameaça à saúde mental dos servidores. “No final de 2021, nós concluímos uma pesquisa sobre as condições de saúde mental dos trabalhadores da Caixa. Os índices foram alarmantes, 60% dos funcionários já vivenciaram cenas de assédio moral”, relatou Takemoto.
Takemoto afirma não ter dúvidas de que essa crise foi fruto da gestão do ex-presidente da estatal. “A gestão por medo de Pedro Guimarães deixou os trabalhadores doentes e a pesquisa confirmou isso”, disse em nota. Guimarães pediu demissão no final do mês de junho, quando foram divulgadas denúncias de assédio por parte dele e de seus subalternos.
Perda de controle
A crise de denúncias na Caixa começou com as que resultaram no pedido de demissão de Pedro Guimarães. Na sequência, assumiu a atual diretora Daniella Marques, que instituiu uma série de reformas na estrutura de gestão da empresa. Takemoto teme que as mudanças não apenas não ajudem a solucionar o problema dos assédios morais e sexuais, como também atrapalhem.
A primeira mudança vai justamente na contramão do que os servidores reivindicavam na gestão anterior. “Ela criou uma vice-presidência que vai cuidar dos recursos humanos e da área de logística. Ou seja: não voltou o que havia antes do Pedro Guimarães, que era uma vice-presidência exclusiva para cuidar de pessoas”, explicou.
Outra reforma que preocupa os servidores é a alteração na responsabilidade sobre denúncias de assédio moral, que antes eram de apuração da diretoria de controle interno e agora passam para o conselho de administração. “Aparentemente seria uma medida boa. Mas a gente sabe que o conselho da Caixa é formado por sete pessoas, com apenas um dos membros indicado pelos empregados. Os outros seis são indicados pelo governo e pela direção da Caixa. Será que vai haver isenção nas apurações?”, questiona.