Pedro Sales *
Em busca de apoio no Congresso Nacional para a aprovação de pautas de interesse do governo, o presidente Lula tem colocado as negociações com o Centrão na linha de frente dos debates no Palácio do Planalto. O mais recente agrado ao grupo veio por meio da nomeação do ex-deputado Gil Cutrim (Republicanos-MA), antigo apoiador do ex-presidente Bolsonaro, para a diretoria de Estratégias e Finanças da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf).
A recente minirreforma ministerial contemplou parlamentares alinhados com o Centrão, assim como a nomeação do novo presidente da Caixa. Mas outros aliados do grupo que se consolidou na gestão de Jair Bolsonaro ainda devem ser beneficiados.
“Eu não quero conversar com o Centrão enquanto organização, eu quero conversar com o PP, quero conversar com o Republicanos, com PSD, União Brasil. É assim que a gente conversa.”, disse Lula em julho. “E é normal que, se esses partidos quiserem apoiar a gente, eles queiram participar do governo, você tenta arrumar um lugar para colocar para dar tranquilidade ao governo nas votações que precisamos para melhor aprimorar o funcionamento do Brasil”, completou na ocasião.
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O bloco chamado “Centrão”, liderado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), pressiona o governo por indicações políticas e também por mais emendas parlamentares em 2024. Em troca, os deputados apoiam projetos de Lula em tramitação na Casa, sobretudo pautas econômicas, que miram o equilíbrio das contas públicas e o aumento da arrecadação. Inclusive, alguns deles já foram aprovados, como a reforma tributária, o novo arcabouço fiscal e a tributação das offshores.
A primeira negociação teve como alvo o Ministério do Turismo. A então ministra da pasta, Daniella Carneiro, casada com o prefeito de Belford Roxo (RJ), conhecido como Waguinho, pediu para sair da União Brasil em abril. O partido, por sua vez, pressionou o governo para retomar a cadeira. O nome escolhido foi o do deputado do Pará, Celso Sabino. Nomeado em julho, ele assumiu o ministério em agosto, sendo a primeira troca ministerial assumidamente política como manutenção da relação com o Centrão.
PublicidadePara dar andamento à votação do arcabouço fiscal, em agosto, o governo federal negociou mais uma vez com o Centrão. Dessa vez, foram duas cadeiras no Executivo. A ministra dos Esportes e ex-atleta de vôlei, Ana Moser, uma das onze mulheres escolhidas por Lula para iniciar o governo, foi demitida em setembro. No lugar dela, André Fufuca, do PP, assumiu o cargo.
A reforma ministerial que buscava incluir PP e Republicanos na base do governo na Câmara ainda contou com troca no ministério de Portos e Aeroportos. Márcio França foi substituído pelo deputado do Republicanos Sílvio Costa Filho. Mesmo com o governo federal cedendo ao Centrão em troca de apoio na votação de projetos do seu interesse, não significou apoio pleno do partido.
O presidente nacional do PP, senador Ciro Nogueira (PP-PI), por exemplo, reforçou em entrevista dada em agosto que deputados da sigla que integrarem o governo “serão afastados”. Nogueira ainda criticou o presidente um dia após a reforma ministerial. O senador questionou o número de pessoas durante o desfile do Dia da Independência, disse que Lula estava “sem povo, só com o aplauso da companheirada de aluguel”.
Mais recentemente, no último mês, a fim de agilizar a votação da tributação das offshores, projeto que pretende arrecadar R$ 20 bilhões em impostos entre 2024 e 2026, o governo fez alterações na presidência da Caixa Econômica Federal. A presidente do órgão, Rita Serrano, foi substituída por Carlos Vieira, servidor da Caixa e aliado do presidente da Câmara, Arthur Lira, e do líder da maioria na Casa, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB).
Cutrim, o último beneficiado pelas negociações de Lula com o Centrão, assume cargo de diretoria na Codevasf , que é presidida por Marcelo Moreira, ligado ao líder do União Brasil, deputado Elmar Nascimento (BA), candidato de Lira para sua sucessão à presidência da Câmara. A companhia é cobiçada por ter grande capilaridade, sobretudo no Norte e Nordeste do país, e por fazer investimentos diretos para o cidadão.
*Estagiário, sob supervisão da editora Iara Lemos