Em meio a discursos insinuando um possível golpe de Estado, o presidente Jair Bolsonaro intensificou sua agenda com militares nos últimos 30 dias. Foram dez participações em atos ao lado de integrantes das Forças Armadas e da Polícia Militar nesse período. Oito delas apenas em agosto. Bem mais que os três encontros registrados com membros da corporação em julho. Em todas as reuniões, Bolsonaro pregou sua ascensão sobre os militares e o seu papel de “chefe supremo” das tropas, na condição de presidente da República.
Com linguagem belicosa, Bolsonaro indicou estar preparado para usar de seu poder para tentar conter seus adversários e a reafirmar o seu poder em nome, segundo ele, da “democracia” e das “liberdades”. Sem a realização dos desfiles militares neste Sete de Setembro, devido à pandemia, Bolsonaro testa nas ruas o alcance do grito por uma possível intervenção militar, com atos convocados para todo o país. “Só posso fazer uma coisa se vocês assim o desejarem”, afirmou para apoiadores no último dia 20. Ele deve participar, nesta terça-feira (7) dos atos em Brasília e em São Paulo.
A desenfreada busca por amparo nas Forças Armadas e nas polícias militares também foi acompanhada de ataques a governadores e ministros do Supremo Tribunal Federal, notadamente Alexandre de Moraes e Luis Roberto Barroso, seus principais desafetos.
No dia 1º de setembro, Bolsonaro afirmou em cerimônia da Marinha que “com flores não se ganha guerra” e convocou seus aliados às ruas para darem “ultimato” aos ministros da suprema corte. O discurso faz parte de uma série de ataques do Bolsonaro às instituições democráticas do país.
A maratona de encontros públicos com militares começou em 6 de agosto, na cerimônia de entrega da Ordem da Machadinha, em Joinville (SC), concedida pelo Corpo de Bombeiros Voluntários. Na ocasião, Bolsonaro visitou o 8º Batalhão de Polícia Militar e o 62º Batalhão de Infantaria Batalhão Francisco de Lima e Silva.
Dos atos dos quais o presidente participou, o principal ocorreu em 10 de agosto, quando o presidente recebeu o convite para a Operação Formosa. Em desfile, dezenas de tanques de guerra passearam nas ruas em frente ao Palácio do Planalto. O episódio ocorreu no mesmo dia em que a Câmara tentava votar a PEC do Voto Impresso, defendida por Bolsonaro, mas que acabou rejeitada pelos deputados.
PublicidadeO regulamento interno do Exército, da Marinha e da Aeronáutica proíbe que militares participem de manifestações políticas. Segundo militares ouvidos pelo Congresso em Foco sob condição de anonimato, a participação deve ser cautelosa e sem farda. Eles tendem a evitar o discurso direto pró-ditadura e investir seu coro em defesa do “direito ao exercício de cidadania e à liberdade de expressão”.
No último dia 27, a agenda oficial do presidente se resumiu à participação na solenidade de passagem do Comando de Operações Especiais em Goiânia. Com a tarde livre, o presidente realizou uma motociata na capital goiana.
Após o passeio, Bolsonaro discursou aos presentes: “Uma das poucas coisas que me conforta como Presidente da República é saber que vocês existem. Que vocês estão a favor da lei, da ordem e da defesa da nossa liberdade, bem maior de um povo”. Esta também foi a oitava motociata da qual o presidente participou e a primeira que ocorreu no meio de semana. Em quase todos os eventos, Bolsonaro esteve acompanhado do ministro da Defesa, general Braga Netto.
Veja a participação de Bolsonaro em atos militares no último mês:
6 de agosto – Cerimônia de Entrega da Ordem da Machadinha em Joinville (SC) e visita a batalhão da Polícia Militar;
10 de agosto – Participa de exibição de comboio militar em Brasília para receber convite da Operação Formosa-2021;
12 de agosto – Solenidade de Promoção de Oficiais-Generais em Brasília;
14 de agosto – Cerimônia de Entrega de Espadim aos Cadetes da Turma Bicentenário do General João Manoel Menna Barreto, no Rio de Janeiro;
16 de agosto – Participa de demonstração da Operação Formosa-2021, no Goiás;
22 de agosto – Cerimônia alusiva ao início da missão humanitária multidisciplinar brasileira ao Haiti na Base aérea de Brasília;
25 de agosto – Cerimônia do Dia do Soldado, com a imposição de condecorações em Brasília;
27 de agosto- Solenidade de Passagem do Comando de Operações Especiais, em Goiânia.
1 de setembro – Cerimônia de Imposição da Medalha Mérito Desportivo Militar, no Rio de Janeiro;
3 de setembro – Solenidade de Passagem do Comando Militar do Nordeste, em Recife.
> Bolsonaro reforça convocação para atos do Sete de Setembro via redes sociais