Em silêncio desde o fim do segundo turno no domingo (30), o presidente Jair Bolsonaro (PL) finalmente saiu do mutismo nesta terça-feira (1), mas continuou sem dizer nada. Depois de deixar a todos esperando por 40 horas desde que foi derrotado por Luiz Inácio Lula da Silva, candidato do PT, Bolsonaro somente agradeceu os 58 milhões de votos que obteve, fez críticas ao processo eleitoral, mas não fez o reconhecimento do resultado (ver o pronunciamento na íntegra abaixo).
O presidente saiu, e, então, o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, é que acabou fazendo o reconhecimento, ao afirmar que o processo de transição se iniciará assim que o lado vencedor oficialmente indicar, como já anunciou, que o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB) é quem será o coordenador do processo.
Bolsonaro convocou os jornalistas para o Palácio da Alvorada para o seu pronunciamento e ainda levou mais de uma hora para se pronunciar. Ainda tentou justificar os movimentos de protesto ao resultado. “Os atuais movimentos populares são frutos de injustiça”, afirmou.
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Confira o pronunciamento do presidente:
Manifestações pacíficas
O único ponto importante do pronunciamento é que Bolsonaro desestimulou reações como os bloqueios dos caminhoneiros às rodovias, que já começaram a ser dispersados. “As manifestações pacíficas são bem-vindas. Nossos métodos não podem ser como os da esquerda. A direita surgiu de verdade em nosso país”, disse. Ou seja, Bolsonaro disse aos bolsonaristas que eles devem se recolher. Resta agora esperar que os bolsonaristas entendam o recado dado.
Após Bolsonaro sair, sem concretamente dizer muito, Ciro Nogueira assumiu a palavra e informou, então, que dará início ao processo de transição. Estava terminada a pantomima.
Publicidade“O presidente Jair Messias Bolsonaro me autorizou, quando for provocado com base na lei, nós iniciaremos o processo de transição. A presidente do PT [a deputada federal Gleisi Hoffmann], segundo ela, em nome do presidente Lula, disse que, na quinta-feira, será formalizado o nome do vice Geraldo Alckmin [PSB]. Aguardaremos que isso seja formalizado para cumprir a lei do nosso país”, disse o ministro.
O presidente estava acompanhado dos ministros da Ciência e Tecnologia, da Educação, do Meio Ambiente, da Justiça, da Cidadania, da Mulher, Família e Direitos Humanos, da Agricultura, da Saúde, das Relações Exteriores, do Desenvolvimento Regional, do Trabalho e Previdência Social, da Infraestrutura, da Casa Civil e da Economia.
Bolsonaro estava em silêncio e recluso desde a confirmação de sua derrota. Enquanto isso, seus apoiadores seguiam realizando bloqueios nas estradas federais do país com manifestações antidemocráticas e contestando o resultado das urnas.
O bloqueio das estradas prejudicou o transporte de cargas, especialmente de produtos do agronegócio, uma das principais base políticas do país.
Bolsonaro é o primeiro presidente que não conseguiu se reeleger desde a promulgação da Constituição Federal de 1988. Na eleição mais disputada da história do país desde a redemocratização, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) derrotou Bolsonaro por um placar apertado, uma diferença de aproximadamente 2 milhões de votos. O petista teve 60.345.999 votos, equivalente a 50,90% dos votos válidos, contra 58.206.354 votos de Bolsonaro (49,10%).
Veja abaixo a íntegra do pronunciamento de Bolsonaro:
“Quero começar agradecendo os 58 milhões de brasileiros que votaram em mim no último dia 30 de outubro.
Os atuais movimentos populares são fruto da indignação desse sentimento de injustiça de como se deu o processo eleitoral. As manifestações pacíficas sempre serão bem-vindas.
Mas os nossos métodos não podem ser iguais aos da esquerda, que sempre prejudicaram a população, como invasão de propriedades, destruição de patrimônios e cerceamento do direito de ir e vir.
A direita surgiu de verdade em nosso país. Nossa robusta representação no Congresso mostra a força de nossos valores: Deus, pátria, família e liberdade. Formamos diversas lideranças pelo Brasil. Nossos sonhos seguem mais vivos do que nunca. Somos pela ordem e pelo progresso.
Mesmo enfrentando todo o sistema, superamos uma pandemia e as consequências de uma guerra.
Sempre fui rotulado de antidemocrático e, ao contrário de meus acusadores, sempre joguei dentro das quatro linhas da Constituição. Nunca falei em controlar ou censurar a mídia e as redes sociais. Enquanto presidente da República e cidadão, continuarei cumprindo todos os mandamentos de nossa Constituição.
É uma honra ser o líder de milhões de brasileiros que, como eu, defendem a liberdade econômica, a liberdade religiosa, a liberdade de opinião, a honestidade e as cores verde e amarela de nossa bandeira.”