O Senado Federal realizou nesta quinta-feira (27) uma sessão de debate temático sobre juros, inflação e crescimento econômico. Principais representantes da área econômica do governo, os ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, ficaram frente a frente ao presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto.
O encontro requerido pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), ocorre em um momento que o governo trabalha para avançar com o arcabouço fiscal e a reforma tributária no Congresso Nacional. Paralelamente, o presidente Lula (PT) tem feito críticas públicas à taxa de juros básica (Selic) praticada pelo Banco Central. Atualmente, a taxa está em 13,75% ao ano, maior patamar desde 2017.
Leia também
O debate no Senado durou mais de quatro horas e também contou com a presença de representantes de instituições financeiras, do empresariado e dos consumidores.
Confira os principais pontos da fala de cada um:
Haddad: “teremos problemas fiscais se a economia continuar desacelerando”
Em sua fala, o ministro da Fazenda Fernando Haddad defendeu a harmonia entre as políticas monetária e fiscal. “Não vejo a política fiscal, a política monetária e a política prudencial separadas umas das outras, elas fazem parte da mesma engrenagem. Se a economia continuar desacelerando, por razões ligadas à política monetária, nós teremos problemas fiscais porque a arrecadação será impactada”, afirmou Haddad.
“Nós estamos tomando medidas difíceis, impopulares, sobretudo por causa do populismo praticado pela gestão anterior que surrupiou quase 40 bilhões de reais dos estados no ano passado, mais 60 bilhões de Receita Federal no ano passado. Só nessa conta foram 100 bilhões de reais retirados dos cofres públicos no âmbito estadual e no âmbito federal”, Fernando Haddad, ministro da Fazenda.
Publicidade
Haddad aproveitou para mencionar um rombo de cerca de R$ 100 bilhões deixado nas contas do governo pela gestão anterior reforçou que que o país terá muita dificuldade de crescer com sustentabilidade “se nós não integrarmos as políticas monetária e fiscal”. “Estamos com vários setores da economia drasticamente afetados. Precisamos compreender que essa harmonização é imprescindível para a gente crescer com robustez a partir do ano que vem”, concluiu.
Tebet: “ações do Banco Central interferem na política”
A ministra do Planejamento, Simone Tebet, aproveitou o encontro para abordar o impacto das decisões do Banco Central na economia brasileira. “A autonomia do Banco Central é importante para a estabilidade econômica e, portanto, o governo não interfere nas decisões técnicas da autarquia. Mas o Banco Central não pode considerar que suas ações são apenas técnicas. São técnicas, mas são decisões que interferem na política, especialmente os seus comunicados e as suas atas”, afirmou a ministra.
“Sabemos intramuros que temos que fazer o dever de casa, que não podemos gastar mais do que arrecadamos e que temos que zerar o déficit público nos próximos anos. Nossa meta é zerar em 2024”, Simone Tebet, ministra do Planejamento.
Segundo Tebet, a taxa de juros “é o remédio e o veneno” e a única diferença é “se essa dose está ou não está equivocada”. A ministra destacou que a situação atual de estabilidade no país é “muito melhor” do que quando a Selic chegou a 13,75%, em setembro do ano passado. “A realidade é outra”, pontuou.
Tebet destacou medidas como o arcabouço fiscal apresentado pelo governo federal e a tramitação da reforma tributária no Congresso Nacional. A ministra concordou com a posição do BC de que não se pode descuidar da inflação, mas destacou que isso não pode atrapalhar o “crescimento sustentável e duradouro”.
Campos Neto: “juro real brasileiro já foi muito mais alto”
Se atendo a detalhes técnicos, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, detalhou as metas de inflação no país, destacando que ela foi estourada apenas sete vezes nos último 24 anos. “O sistema de metas faz a inflação cair rapidamente”, pontuou Campos Neto.
“Nós temos um sistema de metas, que funcionou muito bem. É um sistema que funcionou em todos os países. Temos uma meta que vem caindo e chega a 3% em 2024. A meta é determinada pelo governo e o BC tem autonomia para executá-la”, Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central.
Sobre a taxa de juros praticada no país, Campos Neto defendeu as decisões tomadas pelo Comitê de Política Monetária (Copom) de aumentar a taxa para controlar a inflação. “O juro real brasileiro é alto, sim, mas já foi muito mais alto. Ele está, inclusive, abaixo da média histórica e da média recente. Não estou defendendo juro real alto, só estou dizendo que é uma ferramenta utilizada”, destacou.
Segundo o presidente do BC, “a inflação do curto prazo tem caído, mas muito lentamente”. “Nosso diagnóstico é que a inflação não é uma inflação de oferta e, portanto, precisa do trabalho que vem sendo feito”, pontuou. Campos Neto voltou ao Senado após ter participado de uma audiência pública da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) na terça-feira (25). Na ocasião, o presidente do BC foi convidado justamente para abordar a manutenção da taxa de juros em um patamar tão alto.
Reveja o debate no Senado: