O ex-presidente do Senado e agora líder da maioria na Casa, Renan Calheiros (MDB-AL), criticou o também ex-presidente do Senado Davi Alcolumbre (DEM-AP). Para o alagoano, Davi demonstra ter interesses “individuais, pessoais e personalistas” ao tentar presidir a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) logo após sair do comando do Senado.
“Isso é terrível para a Casa, me apavora a coisa do dono do Senado. Essa coisa do Senado ter dono não rima com democracia”, disse o emedebista em entrevista ao Congresso em Foco.
“Davi precisa acabar com esse sentimento de gigantismos, coisa que ele expressou na eleição que disputou, quis mudar o regimento, sentou na Mesa como suplente, botou mais um voto para anular a eleição que me obrigou a sair. Ele se elegeu com 42 votos, provavelmente com grande parte dos meus votos”, comentou Renan sobre a eleição para a presidência do Senado em 2019.
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Sou contra alguém sair da presidência do Senado e assumir a mais importante comissão da Casa. Quando o mandato acaba, é preciso desencarnar do cargo.
Publicado por Renan Calheiros em Quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021
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>Davi Alcolumbre deve presidir a Comissão de Constituição e Justiça
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A CCJ é a mais importante comissão da Casa porque ela é parada obrigatória da maioria das matérias que tramitam no Senado. É a comissão que analisa a constitucionalidade de todas as propostas de emenda à Constituição (PEC) que passam pelos senadores.
Davi Alcolumbre deixou o comando do Senado na última segunda-feira (1º), quando Rodrigo Pacheco (DEM-MG), seu apadrinhado, foi eleito seu sucessor.
Renan elogiou Rodrigo Pacheco, mas cobrou dele um posicionamento sobre a CCJ. “Ele demonstra ter equilíbrio, ser preparado, mas acredito que a ida do Davi para a CCJ seria o primeiro mal estar.”
Leia a íntegra da entrevista:
Congresso em Foco: o senhor é contra Davi Alcolumbre ser presidente da CCJ?
Renan Calheiros: Eu disse que não é um bom exemplo para o Senado. Primeiro, nenhum presidente ao longo da história deixou a presidência para ir para a CCJ. É um mal estar para o Senado, concentra poder, conflita poder com o presidente do Senado, vira um sentinela na porta do presidente. Isso causa um mal estar muito grande. Davi precisa acabar com esse sentimento de gigantismos, coisa que ele expressou na eleição que disputou, quis mudar o regimento, sentou na Mesa como suplente, botou mais um voto para anular a eleição que me obrigou a sair. Ele se elegeu com 42 votos, provavelmente com grande parte dos meus votos.
Verdade, a eleição foi tumultuada.
Tumultuada não, foi uma coisa feia, nunca aconteceu no Senado.
O MDB vai lançar candidato para presidir a CCJ?
O MDB não necessariamente, o que o MDB quer é equilibrar as forças no Senado. Como um partido [DEM] com seis senadores quer presidir, ter várias comissões, um ex-presidente quer ir para a CCJ deixando a presidência?
Isso é terrível para a Casa, me apavora a coisa do dono do Senado. Essa coisa do Senado ter dono não rima com democracia.
O MDB não pode individualizar uma candidatura, mas o MDB como a maior bancada, como maior eleitor na CCJ, está disposto a colaborar com qualquer candidatura que crie obstáculos a essa pretensão individual, pessoal, exclusivista.
O senhor estava mais quieto nos últimos anos.
Não é quieto, esse ano para mim eu me submeti a cirurgia. Agora eu vou voltar a trabalhar de uma forma intensa, como sempre trabalhei. Mas não postulo cargo, não quero cargo, quero encargo.
Continua oposição ao governo de Jair Bolsonaro?
Eu não tenho proximidade com o governo, nunca tive, mas não recuso propostas que considero acertadas, sobretudo na economia.
Por isso o diálogo com o ministro Paulo Guedes?
Com o Paulo Guedes, sou amigo do Paulo há outras eras, conheço Paulo de outras eras. Sempre tive boa relação com ele, não para concordar com tudo.
Como avalia que será a gestão de Rodrigo Pacheco na presidência do Senado?
Eu acho que ele é um quadro político, ele demonstra ter equilíbrio, ser preparado, mas acredito que a ida do Davi para a CCJ seria o primeiro mal estar, aquilo que botei no tuíte, você viu o tuíte? É aquilo ali. A nota foi um pouco em defesa dele, da independência do papel que ele pode exercer, que nós precisamos preservar.
Na Câmara, Arthur Lira, um adversário local seu, foi escolhido para presidir.
Não é adversário local, é deputado. Disputo eleição com o pai [Benedito de Lira, prefeito da cidade alagoana de Barra de São Miguel e ex-senador] dele, que foi derrotado na última eleição [ficou em quarto lugar em 2018, pleito que elegeu Renan Calheiros e Rodrigo Cunha, do PSDB]. Com ele [Arthur Lira] sempre tive um bom relacionamento.