O único depoimento da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Atos Golpistas focado em ouvir um dos financiadores de ações antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023 se dedicou a colher o depoimento do empresário do ramo da soja Argino Bedin, que atua no Mato Grosso. Classificado como referência do agronegócio pela relatora da Comissão, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), Bedin exerceu o direito de permanecer calado durante a audiência desta terça-feira (3).
De acordo com Eliziane, uma das linhas de investigação da CPMI é buscar os financiadores que investiram não só na fixação de acampamentos pelo Brasil para protestar contra o resultado das eleições de 2022, mas também contribuíram com os ataques do dia 12 de dezembro, quando houve tentativa de invasão da sede da Polícia Federal; no dia 24 de dezembro, data em que atentaram contra o aeroporto de Brasília com uma bomba; e o dia 8 de janeiro de 2023, quando a Praça dos Três Poderes foi atacada por manifestantes bolsonaristas.
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A senadora explicou a Argino no início da oitiva que ele estava na CPMI na condição de militante bolsonarista e mencionou o relatório da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) que aponta nomes de empresário que financiaram bloqueios de estrada e envio de comboios de caminhões à Brasília para colaborar com os protestos ilegais.
Ao todo, 272 caminhões foram direcionado para a Capital Federal. Desse montante, 72 vieram da cidade de Sorriso, que possui cerca de 70 mil habitantes. Segundo Eliziane, a família Bedin enviou 16 caminhões à Brasília e 5 pertencem ao empresário. Questionado sobre o relatório e o investimento que teria feito para estimular atos golpistas, Argino preferiu se manter calado.
Na segunda (2), o ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), não autorizou Argino Bedin a faltar na sessão desta terça, porém concedeu o direito do empresário conhecido como o “pai da soja” de não se incriminar. Argino Bedin, conforme Eliziane, está associado à Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja), entidade que congrega produtores e que teve R$ 20 milhões bloqueados pelo STF em 2021 por suspeita de organizar atos golpitas, e ao Movimento Brasil Verde Amarelo. Ambas as entidades são indicadas como articuladores da tentativa de golpe pela Abin.
Fim da CPMI
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Antes do início da oitiva, Eliziane defendeu a vinda do general Walter Braga Neto como um dos últimos depoimentos da CPMI, prevista para ter seu relatório discutido e votado no dia 17 de outubro.
A relatora afirma que com os documentos, as quebras de sigilo e as oitivas já reúnem elementos suficientes para finalizar o relatório. No entanto, ela avalia que a presença do Almirante Almir Garnier, da Marinha, Freire Gomes, general do Exército e o Brigadeiro Baptista Jr., da Aeronáutica, seriam necessários para contribuir com o documento que pedirá indiciamentos de envolvidos nos atos golpistas.
A senadora ainda rebateu críticas da oposição de que seria muito próxima do ministro da Justiça e, portanto, o estaria protegendo para não comparecer à CPMI. Ela classificou as críticas como “cortina de fumaça para inviabilizar os trabalhos da Comissão”.
Voto em separado
O presidente da CPMI, deputado Arthur Maia (União-BA), disse que a oposição apresentará um relatório destacado do que será entregue pela relatora.
Maia ainda fez questão de salientar, mesmo diante da pressão da oposição, que afastar a relatora de suas funções “é uma mentira deslavada de quem quer iludir os que vêm acompanhando a Comissão”.
O presidente enfatizou que não há precedente e nem sequer um artigo no regimento que possibilite a remoção da senadora do cargo.