A relatora da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Atos Golpistas, Eliziane Gama (PSD-MA), disse que os elementos apresentados pelo hacker Walter Delgatti na quinta-feira (17) dão “fortes condições” para indiciar o ex-presidente Jair Bolsonaro. A senadora afirmou que terá uma conversa com o presidente da CPMI, Arthur Maia (União-BA), para que na próxima terça (22) ocorra uma sessão deliberativa para requerimentos de quebra de sigilos bancários e telemático e obtenção de relatórios do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) envolvendo também a ex-primeira dama, Michelle Bolsonaro.
A senadora também cogita fazer uma acareação entre Delgatti, a deputada Carla Zambelli (PL-SP) e o general Paulo César Nogueira, ministro da Defesa de 1º de abril a 31 de dezembro de 2022. Segundo Delgatti, ambos estavam em uma reunião que contou também com o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, que culminou em visitas ao ministério da Defesa que resultaram em relatórios minando a confiabilidade das urnas que foram enviados ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
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Eliziane classificou o depoimento como “absolutamente bombástico” porque Delgatti afirmou de modo categórico que o ex-presidente assegurou não só um grampo telefônico do ministro Alexandre de Moraes do Supremo Tribunal Federal (STF) como também garantiu impunidade ao hacker por assumir uma investigação ilegal das informações com um indulto presidencial. Outro ponto citado pela senadora como relevante no discurso de Delgatti foi “uma tentativa de fraude eleitoral e automaticamente substanciar uma possível aplicação de um golpe no Brasil”.
O deputado Duarte Jr. (PSB-MA) fez um requerimento já na semana passada pedindo o comparecimento de Bolsonaro à CPMI, mas o objetivo era questioná-lo principalmente sobre o desvio e venda de joias sauditas. Entretanto, diante do depoimento de Delgatti, o deputado afirmou que a presença de Nogueira também é necessária para que ambos sejam inquiridos sobre os acontecimentos narrados pelo hacker.
“O que o Delgatti falou é muito sério: que Bolsonaro falou com ele diretamente, demonstrou o interesse de fraudar as eleições de 2022 e de tirar a credibilidade do processo eleitoral, bem como das urnas eletrônicas ao invadir uma urna para demonstrar que é de fato não são confiáveis.”
Para Duarte, a presença de Bolsonaro e do ex-ministro da Defesa são fundamentais na CPMI não apenas para esclarecer os fatos o quanto antes, mas também para acelerar a acareação entre os depoimentos entre todos os envolvidos.
PublicidadePara o deputado Ruben Pereira Jr. (PT-MA), um pedido de prisão de Bolsonaro não cabe ao colegiado porque a CPMI está ainda na fase de investigação, porém “a convocação agora é indispensável”. Rubens qualificou o depoimento desta quinta como o mais importante da CPMI.
“[O depoimento] Colocou a participação direta do ex-presidente, mostrou mais uma tentativa de golpe de estado. Então. o que está claro foi que houve várias tentativas de golpe. Invasão a sede da PF, bomba no aeroporto de Brasília, dia 8 de janeiro, minuta a golpista e ataque hacker.”
Zambelli
De acordo com o advogado Daniel Bialski, a defesa da deputada Carla Zambelli refuta e rechaça qualquer acusação de prática de condutas ilícitas e ou imorais pela parlamentar, inclusive, negando as informações mencionadas por Delgatti.
“Observa-se que citada pessoa, como divulgado em diversas reportagens, usa e abusa de fantasias em suas palavras. Suas versões mudam com os dias, suas distorções e invenções são recheadas de mentiras, bastando notar que a cada versão, ele modifica os fatos, o que é só mais um sintoma de que a sua palavra é totalmente despida de idoneidade e credibilidade. Ademais, esclareça-se que a defesa ainda não teve acesso aos autos da investigação e assim que possível, se manifestará de forma mais ampla, justamente para desmerecer publicamente os embustes criados.”