Pais, irmãos e demais parentes que perderam os entes durante a pandemia participaram de uma audiência na CPI da Covid nesta segunda-feira (18). Acompanhados do luto, os familiares criticaram as ações tomadas pelo presidente Jair Bolsonaro durante a crise sanitária. O país contabiliza 603.521 mortos pelo vírus.
Os depoentes pediram mudanças na lei e um relatório final que explicite as falhas na gestão do governo federal e posicionado contra o uso de medicamentos sem eficácia, como hidroxicloroquina.
Um dos depoimentos que marcou a sessão da audiência foi a do taxista Márcio Antonio do Nascimento Silva, pai de Hugo Dutra, que faleceu aos 25 anos, em abril de 2020. Emocionado, o pai disse que precisava desabafar na comissão.
“O último momento que eu tive com o meu filho, que eu fui reconhecer, ele estava dentro de um saco. Eu não pude dar um abraço no meu filho, eu não pude dar o último beijo.”, lamentou.
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Em resposta às declarações feitas por Bolsonaro durante a pandemia, Márcio ressaltou que não aceita ter o luto visto como “mimimi”.
“A minha dor não é ‘mimimi’. Não é, não é. Dói para caramba mesmo – dói, dói. Não aceito que ninguém aceite isso como normal. Não é normal. Não é minha só, não. É de todas as pessoas que perderam, de todas as pessoas que perderam pessoas tão queridas, porque todas são queridas.”, afirmou.
PublicidadeDesde o início da pandemia o presidente contraria as recomendações médicas de proteção contra o vírus. Seguindo a linha do tratamento precoce, Bolsonaro defendeu a imunização de rebanho para a população.
Outro depoimento marcante foi da enfermeira obstetra Mayra Lima, que trabalhou à frente do colapso no Amazonas no início do ano e perdeu a irmã. A crise enfrentada por Mayra se deu pela falta de oxigênio nos hospitais do estado.
A enfermeira contou que hoje cuida dos quatros sobrinhos que a irmã deixou. “Só em Manaus nós temos mais de 80 órfãos da covid. Só na minha família são quatro”, disse.
O senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI, destacou que pretende incluir no relatório as propostas apoiadas pelas vítimas da covid. Entre elas, o projeto de lei que cria um fundo de pensão para órfão do coronavírus.
“Nós pretendemos criar uma pensão para os órfãos cuja renda recomende o pagamento. E pensamos em incluir a covid na relação daquelas doenças que ensejarão a aposentadoria por invalidez quando a perícia médica atestar”, destacou Renan.
A proposta também faz parte de um documento apresentado pela senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA).