Em suas três eleições, o deputado Tiririca (PL-SP) recebeu quase 3 milhões de votos dos eleitores paulistas. A votação recorde, no entanto, não garante a proximidade entre o representante e os seus representados. Desde o início do ano, Tiririca só voou uma vez para São Paulo, de acordo com os registros oficiais da Câmara. Nascido no Ceará, ele está cada vez mais perto de seus conterrâneos: foram 70 trechos voados entre Brasília e Fortaleza no mesmo período, ou seja, 35 viagens de ida e volta. Somente com esses deslocamentos aéreos a Câmara gastou R$ 70.760,57.
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De acordo com as regras da Casa, a cota de passagens aéreas só deve ser utilizada para atividades relacionadas ao mandato e deslocamento do parlamentar para sua base eleitoral. Servidores só podem viajar se estiverem a serviço. A Câmara expediu, ao todo, R$ 142,9 mil para o gabinete de Tiririca. Foram R$ 70,5 mil apenas para custear passagens de três servidores. Procurados, o deputado e sua assessoria declararam que não comentariam os motivos das viagens.
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As passagens de uma assessora custaram R$ 40,2 mil, dos quais R$ 24,9 mil em viagens entre Brasília e Fortaleza, capital distante 2,3 mil km (em trajeto aéreo) da paulista, principal base eleitoral de Tiririca. Com outro assessor os gastos chegaram a R$ 20,7 mil. Já o terceiro somou R$ 5,6 mil. Com exceção de um trecho, os demais voos desses dois foram entre Brasília e cidades paulistas, como São Paulo, São José do Rio Preto, Campinas e Ribeirão Preto.
A informação sobre os frequentes deslocamentos de Tiririca entre Brasília e Fortaleza foi publicada em primeira mão pelo site da revista Época nesta semana. Os dados foram confirmados pelo Congresso em Foco em parceria com o Instituto OPS, que encontraram ainda novos voos fora da “rota” parlamentar.
Primeiro palhaço profissional a se eleger para a Câmara, Tiririca foi o deputado mais votado entre os 513 em 2010, quando recebeu 1,3 milhão de votos – então a segunda maior votação da história da Casa. Quatro anos depois, foi o segundo mais votado, novamente ultrapassando a barreira do 1 milhão de votos. Em 2018 recebeu 445 mil, ficando outra vez entre os mais votados.
PublicidadeO distanciamento da base eleitoral não significa que Tiririca não esteja trabalhando. Este ano, por exemplo, ele apresentou 17 propostas voltadas para as áreas da saúde, da educação, dos idosos e da comunidade circense. Desde 2012 ele foi autor ou coautor de 53 proposições. Sua assiduidade, que chegou a 100% nos dois primeiros mandatos, ainda é alta. O deputado registrou presença 110 vezes na Câmara e justificou oito de suas 15 ausências. Deixou apenas uma sem justificativa.
Íntimo do microfone como artista, o palhaço não demonstra a mesma familiaridade com o instrumento no papel de deputado: falou apenas seis vezes em seus nove anos de mandato. A primeira delas durou 20 segundos, foi a declaração de voto favorável ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em abril de 2016.
Antes de concorrer à sua terceira eleição, Tiririca fez um discurso em que dizia ter vergonha de ser político e que estava abandonando a atividade parlamentar. Em agosto do ano passado, porém, mudou de ideia. Contou que havia decidido disputar mais um mandato a pedido do povo, conforme apelo em seus shows país afora. “Mudei de ideia. Quando eu separei eu disse que nunca casaria de novo e estou casado. A gente muda de ideia”, justificou-se.
As normas restritivas para o uso da cota de passagens aéreas foram instituídas em 2009 após uma série de reportagens do Congresso em Foco revelar que deputados e senadores utilizavam o recurso público para voar com familiares, amigos e eleitores para os mais variados destinos, sobretudo turísticos, mundo afora. Nova York, Miami, Roma, Londres e Paris eram alguns dos lugares preferidos pelos parlamentares para passar feriados e férias com suas famílias às custas do contribuinte.
Até artistas, como Adriane Galisteu, que havia terminado o namoro com o deputado Fábio Faria (PSD-RN), haviam sido beneficiados com bilhetes emitidos pela Câmara. Pressionados, os deputados aceitaram mudar as regras, que passaram a limitar o uso do dinheiro público apenas às passagens atribuídas aos mandatos. Além dos parlamentares, somente assessores próximos, que estejam em serviço, podem voar.
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