Surgido como uma mobilização política em novembro de 2014, logo após a reeleição da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), o Movimento Brasil Livre (MBL) ensaia a construção de um partido. O grupo espera um sinal verde do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para começar a coleta de assinaturas e pedir a criação da legenda. A intenção das lideranças é que a nova sigla possa disputar as eleições em 2022.
O trabalho ocorre em um momento no qual o MBL tem subido o tom das críticas ao governo Bolsonaro e à base de apoio do presidente. Na última quarta-feira (15), o Twitter oficial do movimento responsabilizou o Planalto pelo tamanho das manifestações ocorridas pelo país contra os bloqueios orçamentários no ensino superior.
“Governo se embananou todo com a história da balbúrdia, ficou uma semana em cima de uma narrativa falsa e a esquerda soube aproveitar”, criticou o MBL em uma mensagem. “Para completar, o presidente chama a todos de ‘idiotas’. Vi nas redes sociais ‘idiotas’ que eram antipetistas. Jogar essa turma no colo da esquerda é um presente que Bolsonaro dá hoje”, completou o perfil.
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Mais recentemente, na última sexta (17), o MBL publicou também no Twitter um puxão de orelha às deputadas Carla Zambelli (PSL-SP) e Joice Hasselmann (PSL-SP), que discutiram publicamente a postura do partido na votação da MP 870, da reforma administrativa. “Precisa o governo ficar se matando em público? Precisa ficar queimando pontes? Os caras ganharam uma eleição majoritária, é [preciso] construir consenso e ir pra frente, mas é briga toda hora entre eles próprios”, publicou o perfil.
O futuro partido
O MBL elegeu seu primeiro integrante nas eleições de 2016, quando Fernando Holiday (DEM-SP) conquistou uma cadeira na Câmara Municipal de São Paulo. Mas o DEM não é o único partido que abriga o movimento: o MBL lista, em seu site oficial, ter legisladores federais, estaduais ou municipais espalhados por PSDB, PP, PSC, PV e até PSB, legenda tida como de centro-esquerda, que é oposição ao governo federal.
Segundo o deputado Kim Kataguiri (DEM-SP), um dos líderes do movimento, a ideia de criar a própria agremiação surgiu de forma “despretensiosa”. Por meio de Jerônimo Goergen (PP-RS), colega de Kim na Câmara, o MBL consultou o TSE para verificar a possibilidade de coleta digital de assinaturas. Já foi dado um parecer técnico favorável, mas o grupo espera do tribunal um aval definitivo, que deve sair em junho.
Kim explicou ao Congresso em Foco que a ideia surgiu após a aprovação, no final de 2017, de uma reforma política que aprovou o fim das coligações entre partidos para eleições proporcionais (para deputados e vereadores) a partir de 2020.
“Provavelmente, vão sobrar aí uns nove ou dez partidos. Só aqueles que realmente tenham militância, tenham uma linha de pensamento e representatividade. Acabou aquele balcão tradicional pra construir coligação em eleição majoritária, em que o partido negociava tempo de televisão e em troca encaixava um ou dois candidatos na coligação”, explica Kim. “Isso beneficia os que querem ter um debate programático. Se fosse no sistema antigo, a gente [MBL] não teria condições. A gente não tem uma estrutura de partidária de prefeitos e vereadores para ficar formando chapa e gerar quociente eleitoral”, afirma o congressista.
Caso o partido saia do papel de fato, os integrantes já eleitos devem terminar seus mandatos atuais nas legendas em que se encontram. A tendência, segundo Kim, é que a eventual migração só ocorra na janela partidária anterior à eleições 2022. Goergen ainda não garante que fará a mudança. “Não significa que eu esteja saindo do meu partido [PP]. Agora, também tenho deixado bem claro: tenho bastante insatisfação com a postura politica que o partido vem tendo no Brasil. E como eu vejo uma juventude, uma moçada com vontade de fazer uma política clara, de direita, eu fiz a consulta ao TSE”, contou o deputado ao Congresso em Foco.
Distanciamento
Deputados e senadores do PSL de Jair Bolsonaro têm convocado os eleitores a irem às ruas no dia 26 de maio para pressionarem o Congresso a manter a MP 870 como saiu do Planalto, ou seja, mantendo a estrutura que o presidente desenhou para o governo. O MBL, no entanto, negou apoio à mobilização por considerá-la autoritária.
“Entre as hashtags divulgadas por essas pessoas, estão #Artigo142Já – focado em fechar o STF – e #OPovoVaiInvadirOCongresso, autoexplicativa. Obviamente, tais pautas antirreupubicanas não são compartilhadas pelo MBL, e pelo bem das reformas e do país ficaremos de fora deste ato”, afirma a nota.
>> Joice Hasselmann e Kim Kataguiri trocam ofensas nas redes sociais