Em uma semana de fechamento de cerco para a deputada Carla Zambelli (PL), o relator João Leão (PP-BA) leu nesta quarta-feira (2), durante reunião deliberativa do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, o voto que admitiu a representação do deputado Duarte Júnior (PSB-MA) contra a deputada. O motivo foi uma ofensa cometida por Zambelli contra o deputado em um audiência da Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado, realizada em 11 de abril de 2023.
Zambelli mandou o deputado Duarte “tomar no cu” em uma sessão que contava com a presença do ministro da Justiça, Flávio Dino, para dar explicações sobre visitar feitas à comunidade do Complexo da Maré, no Rio de Janeiro. O deputado Leão, em uma tentativa apaziguadora, ainda questionou a deputada se ela estaria disposta a fazer um pedido de desculpas formal ao deputado Duarte no Plenário da Câmara.
Prontamente, Zambelli aceitou a proposta, mas o deputado Duarte pediu a palavra e disse que não retiraria a representação no Conselho de Ética contra a bolsonarista. Duarte alegou que Zambelli mentiu ao dar a versão do que ocorreu no dia 11 de abril, pois ela o teria ofendido diretamente em vez de tentar se defender, conforme se justificou na sessão. Zambelli afirma que foi “achincalhada” ao ser chamada de pistoleira, prostituta e espanhola, em alusão ao boato de que foi garota de programa na Espanha, durante a audiência e em certo ponto perdeu a linha.
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“Não quero lhe crucificar. Eu sei que esses dias agora a senhora vai ser crucificada de tudo quanto é maneira, mas vamos nos ater apenas à questão do deputado Duarte Júnior. Tendo em vista o teor dos fundamentos alinhavados, voto pela admissibilidade da representação número 1 de 2023 com a consequente continuidade deste processo, notificando desde já a representada para apresentação da defesa no prazo regimental”, determinou o relator.
Zambelli procurou inserir o xingamento dentro de um contexto. Segundo a deputada, enquanto ela se pronunciava na sessão com a presença de Dino, vários parlamentares a provocavam com ofensas e em dado momento, comentando com um colega que estava a seu lado, ela teria dito: “Agora só falta ele me mandar tomar no cu.” Zambelli ainda acrescentou que foi criada por uma nona italiana acostumada a falar palavrões, mas por ser uma mulher não deveria se furtar o direito de falar baixarias.
Os deputados Carlos Jordy (PL-RJ) e o deputado Cabo Gilberto Silva (PL-PB) testemunharam a favor da deputada ao afirmarem que ela não mandou para aquele lugar diretamente.
O ofendido
Para o deputado Duarte, há provas que simplesmente anulam qualquer versão de Zambelli, uma vez que os registros taquigráficos e as filmagens da data em questão apresentam de modo claro a quebra de decoro da deputada.
“Não tem condição de aceitar a retratação quando a deputada comparece a essa Comissão e dá continuidade a um processo de inverdades. Se ela desse início a sua fala reconhecendo seu erro, nós poderíamos de fato imaginar que ela está arrependida, mas ao contrário: a sua fala é repleta de contradições.”
Duarte ainda reforçou que a postura da deputada mina a credibilidade da classe política e estimula atos de agressão a toda a categoria.
Semana Zambelli
A Polícia Federal fez operação, na quarta-feira, contra a deputada Carla Zambelli (PL-SP) e o hacker Walter Delgatti Neto. Os policiais cumprem mandado de prisão contra o chamado “hacker da Vaza Jato”, que assim ficou conhecido por invadir telefones de autoridades envolvidas na megaoperação, e de busca e apreensão no gabinete e no apartamento da deputada em Brasília.
Segundo a PF, a Operação 3FA tem o objetivo de esclarecer a atuação de indivíduos na invasão aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e na inserção de documentos e alvarás de soltura falsos no Banco Nacional de Mandados de Prisão (BNMP). Entre os documentos forjados, havia um mandado de prisão falso contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).