A deputada Carla Zambelli (PSL-SP), apoiadora de Jair Bolsonaro e, até ontem (24), aliada de primeira hora do ex-ministro Sergio Moro, manifestou decepção quanto a atitude do ex-juiz de expor uma troca de mensagens com ela no Jornal Nacional, da Rede Globo. Moro foi padrinho de casamento de Zambelli e a deputada mantinha uma relação de amizade próxima a ele. “Eu sempre defendi os ideais tanto de Bolsonaro, como de Moro, por quem já fui presa e denunciada pela Polícia Federal”, disse. A deputada expôs novas conversas que teve com Sergio Moro para a CNN Brasil.
A prisão citada pela parlamentar, é uma detenção que aconteceu no dia 30 de novembro de 2017, quando a então militante foi detida pela polícia legislativa da Câmara ao afirmar que os deputados Paulo Pimenta (PT-RS) e Wadih Damous (PT-RJ) roubam. Zambelli foi defender o ex-juiz Moro e disse: “Vocês estão roubando”. Sem apresentar provas, ela foi detida e indiciada.
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Veja abaixo a íntegra das conversas divulgadas pela deputada, durante entrevista para a CNN Brasil.
Segundo os novos diálogos mostrados, a deputada Carla Zambelli aparece tentando intermediar uma solução para a crise entre Sergio Moro e o presidente Jair Bolsonaro. A congressista chega a sugerir para que os dois conversem sobre o assunto. “Já foi conversado um milhão de vezes”, rebate Moro.
A bolsonarista também tenta agendar um almoço com Moro e Bolsonaro, que aconteceria no domingo (26).
O discurso que Bolsonaro e seus aliados estão tentando cravar agora, é o de que o ex-ministro é um traidor. “Fazer isso com o presidente, era uma briga de homem para homem. Mas fazer isso comigo? Ele era meu padrinho”, disse Zambelli para a emissora.
PublicidadeA deputada chegou a comparar a atitude de Moro com a do site The Intercept Brasil, que divulgou as mensagens entre Sergio Moro e os procuradores da Lava Jato. “Ele agiu exatamente igual o Gleen [Greenwald, editor chefe do site] , com a diferença que o Gleen invadiu uma terceira pessoa e ele traiu um amigo e uma amiga”, se queixou Zambelli. “Olha o tamanho da traição”, de queixou a deputada.
Assim como Zambelli, Jair Bolsonaro também tem tentado vender o discurso de que foi traído pelo ex-juiz responsável pela condenação do ex-presidente Lula. O chefe do Executivo publicou em seu Twitter uma imagem em que mostra que durante o vazamento as conversas de Sergio Moro com os procuradores da Lava Jato, o presidente esteve do lado do ministro, dando a entender que Moro o traiu.
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) April 25, 2020
Também através do Twitter, Sergio Moro respondeu. Publicou uma matéria mostrando que também defendeu o presidente quando o nome dele foi relacionado ao assassinato da vereadora do Psol, Marielle Franco. Mas, nas palavras do ministro, “preservar a PF de interferência política é uma questão institucional,de Estado de Direito,e não de relacionamento pessoal”.
Sobre reclamação na rede social do Sr.Presidente quanto à suposta ingratidão:também apoiei o PR quando ele foi injustamente atacado.Mas preservar a PF de interferência política é uma questão institucional,de Estadode Direito,e não de relacionamento pessoal https://t.co/I5HD9uhTj9
— Sergio Moro (@SF_Moro) April 25, 2020
Qual foi a intenção?
A deputada Zambelli encaminhou para a imprensa no início da manhã deste sábado (25), uma nota. “Não se vazam conversas privativas. Principalmente quando há laços entre estas pessoas”, lamentou a deputada em nota. A conversa vazada em questão, mostra a congressista tentando convencer Sergio Moro a aceitar a troca do diretor da Polícia Federal, sob a promessa de interceter por um cargo para ele no Supremo Tribunal Federal. “Vá para o STF, eu prometo ajudar e fazer JB prometer”. Moro afirmou então não estava à venda.
A deputada diz na nota, que a “sugestão feita, ainda na quinta-feira (23), ao então ministro era a de que eu [Carla Zambelli] pudesse conversar com o presidente da República para tentar sugerir o nome de Sérgio Moro para o STF, uma vez que milhões de brasileiros, inclusive eu, no passado, já se posicionaram favoráveis nesse sentido, e ele nunca negou o interesse em ser indicado”.
A congressista afirmou que não possui poder ou sequer função de negociar cargos no STF, “e o ex-ministro sabia bem deste fato”.
“Não existe raiva, mas decepção e mágoa, uma vez que, apesar de nunca ter pensado em deixar a base de apoio do Governo Federal, não se podia esconder a tristeza, nesta sexta, em não ter mais Sérgio Moro como ministro”, lamentou.
A bolsonarista questionou as intenções de Sergio Moro. “Seria a intenção de Sergio Moro tentar me imputar injustamente um crime ao expor à Globo nossa conversa privada, sem o contexto no qual chegaram àquela fase da troca de mensagens, mesmo ele sabendo que não havia nada de ilícito no que conversamos? Fica o questionamento para um homem ao qual eu e meu marido tínhamos o maior respeito e admiração, tanto que foi nosso padrinho de casamento: Ex-ministro, a resposta que o Sr deu e o print foram friamente calculados para me expor depois?”, perguntou na nota.
No calor do momento, pouco após a reportagem, Zambelli fez uma transmissão em seu Facebook para explicar a troca de mensagens, onde foi mais incisiva.
“Será que isso é só trairagem ou é crime também? Eu estou decepcionada, estou magoada, estou triste”, disse Zambelli. “Diante disso tudo, é como se meus pais tivessem se separando e eu tivesse que escolher com quais dos dois eu teria que ficar. Mas eu vou ficar com Bolsonaro, porque temos um país para governar”, declarou.
A deputada afirmou que a atitude de Sergio Moro foi maligna e disse que “o Moro vai passar. Daqui há 10 ou 15 dias, ele vai estar dando aulas em algum lugar e nós seguiremos aqui, com Bolsonaro”.
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