Em seu quarto mandato federal consecutivo, o deputado Fábio Ramalho (MDB-MG) aposta no descontentamento de uma parcela dos parlamentares para surpreender e romper a polarização entre Baleia Rossi (MDB-SP) e Arthur Lira (PP-AL) na disputa pela presidência da Câmara. Segundo ele, um grande número de deputados se cansou da concentração de poder nas mãos dos líderes partidários e integrantes da Mesa Diretora e reivindica, agora, maior participação nas decisões da Casa. Protagonismo que ele promete como principal trunfo na busca de votos entre o chamado “baixo clero”. “Tem de ser um clero só. Tem de acabar com andar de cima e andar de baixo. Todos têm de estar no mesmo clero”, disse o emedebista ao Congresso em Foco. “Minha candidatura nasceu do plenário”, acrescentou.
Ramalho considera que as candidaturas do presidente e líder de seu partido, Baleia Rossi, e do líder do PP e do Centrão, Arthur Lira, não representam os anseios dos deputados. “Eles representam a elite e os empoderados do Congresso. Há divisão de poder entre poucos. Isso desestimula os demais parlamentares”, afirmou. “O Rodrigo Maia se tornou quase imperador”, acrescentou, citando o atual presidente da Câmara como exemplo de poder excessivo.
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De acordo com ele, Baleia e Lira também são os nomes preferidos do mercado, por acenarem com a pauta de interesse do setor privado. “Maia, Baleia e Lira, todos eles viraram as costas para o Parlamento.” O que, segundo ele, não ocorrerá em uma gestão sua, que priorizará os interesses da Câmara e da população em geral.
A participação de Fábio Ramalho, que goza de boa relação com parlamentares de vários partidos e é conhecido pelos jantares que oferece dentro e fora da Câmara, pode influenciar na realização de um eventual segundo turno. Na eleição passada, em 2019, ele recebeu 66 votos. O deputado estima que terá entre 170 e 180 votos na eleição em fevereiro.
Veja a entrevista do deputado ao Congresso em Foco:
Congresso em Foco – Qual é o grande diferencial da sua candidatura em relação à de Baleia Rossi e Arthur Lira?
Fábio Ramalho – A minha nasceu dentro do plenário da Casa. Foi lançada pelos meus colegas do plenário que me pediram para ser candidato. A maioria dos parlamentares não é ouvida. Os líderes se empoderaram muito. No último ano, sem a instalação das comissões, concentrou-se ainda mais o poder nos líderes. Proponho uma Câmara mais participativa, sobretudo com a certeza de que os parlamentares vão ter um mandato mais firme e voltado para o povo. Hoje não há sintonia com as ruas, com o povo. A sintonia é maior com o mercado financeiro e planos de saúde. Está muito suscetível a lobbies.
Quais são suas principais propostas como candidato a presidente da Câmara?
Uma Câmara com protagonismo da maioria dos deputados, distribuição das relatorias e presidências das comissões entre mais deputados. Uma presença maior junto às bases com os parlamentares, com uma Câmara itinerante, em que o presidente e a Mesa Diretora da Casa vão até os estados para mostrar aos cidadãos o que aqueles parlamentares estão fazendo. É preciso ter uma discussão maior de todos os temas, uma pauta feita sobretudo com a participação de um número maior de parlamentares. Uma pauta elaborada de acordo com as necessidades do país e que a gente possa harmonizar a Casa. Nosso problema principal é a briga entre dois grupos fortes que se digladiam pelo poder e esquecem o principal.
O que as candidaturas de Baleia Rossi e Arthur Lira representam para o senhor?
Elas representam a elite e os empoderados do Congresso. Há divisão de poder entre poucos. No MDB tem dois ou três parlamentares que fazem isso. Outros que têm a mesma capacidade não decidem. Todos os deputados têm o poder de representar o povo. Os parlamentares se sentem desestimulados. Não tem nada que os estimule no mandato. Nos últimos dois anos Rodrigo Maia se tornou quase imperador, afastou o parlamento do povo e começou a brigar com o Executivo. A Câmara vai ser independente, falta independência aos parlamentares.
Quantos votos o senhor estima ter hoje?
Hoje tenho mais de 100 votos. Devo chegar a 170, 180. Tenho conversado com todo mundo.
O senhor é próximo do presidente Bolsonaro… como prometer independência?
A pauta tem de ser construída não só com o Executivo mas com parlamentares da esquerda e da direita. É preciso haver diálogo maior com todo mundo. A concentração de poder tem aumentado. Parlamentares a cada dia têm menos poder. Tornaram-se carimbadores de medida provisória. Cada parlamentar devia ter direito a que um projeto de lei seu fosse votado em plenário. Quem vai aprovar ou não é o plenário em função da proposta dele.
Mas quais são suas principais propostas na prática?
A principal proposta é fazer as relatorias serem mais bem distribuídas. O parlamentar não tem de marcar horário com o presidente da Casa. Ele tem condição para isso, tem de ficar em função do paramento. A maioria que quer ser presidente quer ser presidente da República ou governador. A Mesa tem de se unir uma vez a cada dois meses. No mandato não se reuniu quatro vezes.
O que o senhor responde a quem diz que o senhor é o candidato do baixo clero?
Tem de ser um clero só. Tem de acabar com o andar de cima e o andar de baixo. Todos têm de estar no mesmo andar. Fazer um clero.
O senhor espera apoio do presidente Bolsonaro?
Tenho de buscar apoio de quem vota, que são os deputados. Nunca vou fechar porta para o presidente da República ou para a esquerda. Se a gente mantém o parlamento independente, harmonioso, sintonizado com os interesses da população é melhor do que ficar brigando. Temos de dar soluções por meio de conversas. Não é ir para a imprensa falar mal do presidente. Tem de construir uma sintonia melhor. Vivemos um momento dramático, um problema econômico grandioso, e não tivemos comissão de orçamento instalada. Isso é do emopoderamento de alguns parlamentares, que prejudicam toda a nação. Na Câmara temos deputados que representam mais de 5,5 mil municípios. A gente tem de escutar mais.
O senhor e o presidente de seu partido, Baleia Rossi, devem estar juntos em um eventual segundo turno?
Num eventual segundo turno, pode ser que ele venha me apoiar. Baleia pediu que eu desistisse. Eu disse que não ia desistir. Não tenho nada contra a pessoa do Baleia e do Lira. Sou contra o sistema que se implantou na Casa. Sou candidato por essa mudança. Eles representam a continuidade desse sistema. Comissões não foram instaladas porque os líderes decidiram assim. Maia, Baleia e Lira, todos eles viraram as costas para o Parlamento.
Muito se critica a estrutura da Câmara, com grande número de servidores e apadrinhados políticos. O senhor pretende reduzir o orçamento da Casa?
A Câmara precisa fazer campanha maior sobre o trabalho dos parlamentares. Mostrar a realidade dos parlamentares e do parlamento para que a gente possa fazer uma divulgação maior em todos os estados em rádio e TV. A Câmara precisa gastar os recursos de melhor forma.
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