Ouvida nesta terça-feira (12) na condição de testemunha na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Atos Golpistas, a cabo da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) Marcela da Silva Morais Pinno afirmou que parte dos manifestantes bolsonaristas que agiram nos ataques à Praça dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023 estavam organizados e utilizaram paus, pedras, estilingues, barras de ferro e coquetéis molotov para atacar policiais do Batalhão de Choque.
No dia do ataque, Marcela fez parte de uma barricada na Cúpula do Congresso para impedir que manifestantes entrassem nos prédios públicos. A policial foi derrubada de uma altura de três metros e, depois, quando retornou à linha de repressão, foi jogada no chão e agredida na cabeça com uma barra de ferro ao passo que tentavam roubar sua arma enquanto a desferiam socos e chutes. O capacete balístico da policial ficou destruído.
Questionada pela relatora da CPMI, Eliziane Gama (PSD-MA), se Marcela notou o emprego de técnicas militares na ação do grupo mais agressivo que estava na linha de frente dos ataques, a policial reconheceu que minimamente estavam preparados para luta corporal.
Leia também
“Não posso dizer que eram técnicas militares, mas estavam organizados. Cerca de 4 ou 5 [dos manifestantes] tinham luvas para coletar granadas, toalhas e lenços para proteger o rosto [do gás lacrimogênio]. Em quatro anos de atuação, nunca estive diante de tamanha agressividade. Estavam minimamente orientados”, descreveu a policial, promovida a cabo por atos de bravura realizados no dia 8 de janeiro.
Festa da Selma
A senadora Eliziane então citou um convite cifrado, que foi feito aos interessados em participar dos atos golpistas, intitulado “Festa da Selma”. Bolsonaristas utilizavam o nome Selma como corruptela para a palavra Selva, expressão de uso militar. O “chamamento” online, conforme definiu Eliziane, dava instruções disfarçadas para os manifestantes como se a Festa da Selma fosse um aniversário.
Publicidade“Vai acontecer uma festa de aniversário enorme e existe uma organização muito grande para ajudar os convidados. O bolo será de milho. Precisamos de milhos grandes. Pelo menos cinco milhões. A organização antes da festa vai ser em um lugar não conhecido, onde as pessoas estão há mais de 65 dias e de lá todos sairão para a festa. A Selma gosta de tudo limpinho, sem lixo no chão e sem bagunça. Ela não convidou nem crianças e nem idosos, quer somente adultos dispostos a participar de todas as brincadeiras. Entre elas: tiro ao alvo, polícia e ladrão, dança das cadeiras, dança dos índios, pega-pega e outras. É importante que cada um leve suas coisas pessoais de higienização e proteção, inclusive máscara para não ficar ardendo numa torta de pimenta na cara e soro fisiológico para se limpar, caso vocês respirem algo que os faça chorarem e lacrimejarem, mas não será de alegria durante a festa. Preparem-se convidados, a festa será um estouro!”, disse Eliziane ao declamar o convite.
No dia 17 de agosto, a Operação Lesa Pátria da Polícia Federal compareceu ao estados de Santa Catarina, Paraná, Goiás, Bahia e Paraíba e ao Distrito Federal para investigar suspeitos de terem organizado a Festa da Selma.
A senadora afirmou que o perfil dos manifestantes de 12 de dezembro, quando a sede da Polícia Federal sofreu tentativa de invasão, é parecido com o perfil dos que estiveram no dia 8 de janeiro. Eliziane então citou trechos do depoimento do coronel Jorge Eduardo Naime, preso desde fevereiro e investigado por omissão nos ataques em Brasília, que afirmou que se os manifestantes não foram recrutados ao menos tinham conhecimento de técnicas de guerrilha.