Nesta quarta-feira (12) o ex-secretário especial de Comunicação da Presidência da República, Fábio Wajngarten, prestou depoimento à CPI da Covid. Ao final da sessão, marcada por bate bocas, xingamentos e pedidos de prisão, o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), dirigiu-se diretamente ao ex-Secom: “A prisão seria o menor castigo que você vai sofrer na vida, porque hoje, aqui, você não ficou bem com ninguém “, disse. “A prisão não seria nada mais terrível do que você perder a credibilidade, a confiança e principalmente o legado que você construiu até aqui”.
Aziz recomendou que quando Wajngarten for tratar novamente sobre o tema fale a verdade. O ex-secretário negou ter faltado com respeito à comissão.
Falas contraditórias
As contradições nas respostas de Wajngarten levaram senadores a pedirem prisão imediata do ex-chefe da comunicação do Planalto. Mas os pedidos foram negados pelo presidente Aziz. A prisão em flagrante é uma prerrogativa das comissões de inquérito e a ordem deve partir do presidente do colegiado.
Leia também
Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) disse que outros depoentes também mentiram na CPI e citou o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta. Após a suspensão do colegiado, Renan Calheiros (MDB-AL) foi para cima de Flávio com dedo em riste e chamando o filho do presidente de moleque.
Autonomia na Secretaria de Comunicação
Ao ser questionado por Calheiros sobre a autonomia na Secretaria de Comunicação, Wajngarten disse que nunca sofreu interferência do presidente Bolsonaro na pasta. De acordo com ele, de fevereiro de 2020 até o fim de sua gestão, a Secretaria publicou 11 campanhas publicitárias sobre a covid-19.
“Se tivesse ocorrido qualquer interferência, eu pegaria a minha mala e voltaria para a minha empresa e para a minha família”, disse. O ex-secretário disse que a Secom nunca interferiu nas redes sociais pessoais do presidente Jair Bolsonaro.
O Brasil não Pode Parar
Os primeiros desentendimentos na CPI foram protagonizados quando o senador Renan Calheiros questionou se o discurso negacionista do presidente Jair Bolsonaro impactava negativamente no comportamento social. Wajngarten que é especialista em comunicação tentou desviar da pergunta. “Então, para cada público alvo, para cada pessoa que recebe a informação, Senador, tem um impacto diferente”, desenrolou.
Wajngarten disse que a Secom promoveu peças publicitárias para informar a população sobre a doença, e que uma das ações contou com o apresentador Otávio Mesquita. Mas que não lembrava de um peça com o mote: “O Brasil não pode parar”. A ação, de março de 2020, publicada nas redes oficiais do governo, inclusive da Secom, foi retirada do ar após críticas por desencorajar o distanciamento social.
> Nós lembramos: veja campanha anti-isolamento que Wajngarten negou ser da Secom
Pfizer
Na CPI, Wajngarten negou que a Pfizer ofereceu 70 milhões de doses da vacina ao Brasil. O ex-secretário havia informado o número à Veja. Segundo ele, durante as negociações, a Pfizer ofereceu 500 mil doses do imunizante. “Oxalá a gente tivesse 70 milhões, infelizmente nunca foram disponibilizadas 70 milhões”, disse.
O ex-secretário de Comunicação confirmou que uma carta do laboratório Pfizer foi enviada à cúpula do governo brasileiro no dia 12 de setembro de 2020. Wajngarten afirmou que teve contato com o documento no dia 9 de novembro, e que falou sobre o tema Jair Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes.
Na carta, o presidente mundial da Pfizer diz que equipe do laboratório se reuniu com representantes do Ministério da Saúde e da Economia com a embaixada e que foi apresentada uma proposta para fornecer vacina, mas que até o momento não havia resposta.
Em entrevista à revista Veja, o ex-secretário disse que a demora na compra dos imunizantes ocorreu por “incompetência e “ineficiência” do então Ministro da Saúde, Eduardo Pazuello.
Após afirmar que não tinha dado a declaração à Veja, a revista divulgou o áudio com trecho da entrevista concedida à publicação.
Leia o documento na íntegra:
Senadores acusam Wajngarten de mentir na CPI
Com as contradições das respostas de Wajngarten, o colegiado cogitou pedir a prisão do ex-secretário por tergiversar sob juramento.
“Todo mundo está aqui por uma qualidade. A única que não chega aqui é menosprezar minha inteligência nas suas respostas”, disse o presidente Omar Aziz ao contestar as respostas de Wajngarten.
“Senhor Fábio, o senhor só está aqui por causa da entrevista da revista Veja; senão, a gente nem lembraria que o senhor existiu. Você está me entendendo? Só por causa disso. Não tem outra razão para você estar aqui”, disse.
Veja:
> “Moleque”: Renan e Flávio Bolsonaro discutem após CPI; assista