Em sua fala inicial na 11° audiência da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Atos Golpistas desta terça-feira (8), o ex-secretário de segurança pública do Distrito Federal e ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, afirmou que irá colaborar com o colegiado ao responder perguntas sobre o 8 de janeiro de 2023 e fatos correlacionados.
Assista aqui ao depoimento de Anderson Torres
Na ocasião dos ataques aos palácios dos Três Poderes, Anderson Torres era secretário de Segurança Pública do DF e estava nos Estados Unidos, em férias.
Torres disse que esteve preso por mais 100 dias por causa de uma minuta absurda encontrada em sua residência. Ele classificou a minuta como um papel a ser descartado que era inútil, além de apócrifo e sem origem conhecida. O ex-secretário também procurou se desvencilhar de qualquer conexão com a operação da Polícia Rodoviária Federal durante as eleições do segundo turno que visava impedir eleitores de votaram especialmente no nordeste.
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“Eu nunca questionei o resultado das eleições”, disse Torres, que buscou em seguida mostrar que atuou de modo coerente com seu cargo à época do ataque à sede da Polícia Federal no dia 12 de dezembro e no dia do atentado ao aeroporto no dia 24 de dezembro, ambos em Brasília. “Nunca houve omissão da minha parte.”
PublicidadeTorres disse que comprou as passagens para viajar ao exterior com a família no dia 21 de janeiro e que, no dia 6 de janeiro, antes de viajar, fez uma reunião com dezenas de órgãos do DF e do governo para cumprir um protocolo para impedir possíveis ataques aos Poderes. “Até dia 6 à noite, não soube de qualquer problema, mas o fechamento da Esplanada estava previsto protocolo de ações integradas (PAI)”, explicou.
Torres alegou que se tivesse recebido qualquer informe não teria viajado e que ficou muito preocupado quando viu os ataques e que o protocolo não estava sendo cumprido.
Cid de novo
O presidente da CPMI dos Atos Golpistas, Arthur Maia (União-BA) afirmou no início da sessão de terça-feira que irá apreciar na próxima audiência da Comissão outra convocação do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, Mauro Cid, em função de informações da mídia que revelaram novos depósitos feitos pelo tentente-coronel em conta bancária da ex-primeira dama Michelle Bolsonaro.
Após anunciar que o depoente de terça-feira, o ex-secretário de segurança pública do Distrito Federal e ex-ministro, Anderson Torres, conseguiu o direito ao silêncio ao ser ouvido como testemunha na audiência por autorização do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Maia se comprometeu a tratar de outra convocação de Cid ao senador Jorge Kajuru e à deputada Jandira Feghali (PT-RJ).
O argumento usado por Kajuru e Jandira Feghali é que vazamentos à imprensa trouxeram novos indícios de envolvimento de Cid com a família Bolsonaro em casos de corrupção relacionados à joias e repasses indevidos de verba que precisam ser investigados para entender se têm conexão com a tentativa de golpe de estado do 8 de janeiro de 2023.
Maia então reforçou que a CPMI foi criada para investigar o 8 de janeiro e fez ressalvas para que qualquer denúncia ao ex-presidente Bolsonaro não pode engolir a CPMI. Maia sugeriu a abertura de outra comissão para inquirir sobre pedras preciosas e demais atos envolvendo o ex-presidente.
Histórico de Torres
A comissão também aprovou a quebra de sigilo telefônico de Anderson Torres. Entre outros dados, os parlamentares requerem informações sobre uma minuta golpista encontrada pela Polícia Federal na casa do ex-ministro de Bolsonaro após operação de busca e apreensão.
Anderson Torres teve prisão decretada em 14 de janeiro em razão de indícios de omissão nos ataques do dia 8 de janeiro, em Brasília. Ele permaneceu preso por quatro meses e sua soltura foi autorizada no dia 11 de maio pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, que determinou medidas cautelares, entre as quais uso da tornozeleira eletrônica.
Entre os autores dos requerimentos estão a relatora, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), e os senadores Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Eduardo Girão (Novo-CE), Rogério Carvalho (PT-SE), Fabiano Contarato (PT-ES), Marcos do Val (Podemos-ES), Izalci Lucas (PSDB-DF).
Com base no plano de trabalho, Eliziane Gama classifica como importante a colaboração do Torres, que ficou preso por quatro meses e está em uso de tornozeleira eletrônica, como testemunha para esclarecer fatos relacionados ao 8 de Janeiro.
Informações de enorme valia
Além de detalhes sobre o período que esteve à frente da Secretaria de Segurança Pública no início de janeiro, a relatora considera importante colher detalhes sobre as operações de segurança na véspera do segundo turno das eleições presidenciais, além dos ataques à sede da Polícia Federal, em Brasília, no dia 12 de dezembro e a tentativa de explosão de uma bomba em um caminhão tanque nas imediações do aeroporto de Brasília.
“Nesse sentido, e dentro de uma fase inicial de oitivas de testemunhas, pleiteia-se a inquirição do Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e Segurança Pública do Brasil e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, como testemunha, sob compromisso, dos atos ocorridos no Brasil durante o dia 30 de outubro de 2022, e dos atos ocorridos em Brasília durante os dias 12 e 24 de dezembro de 2022 e durante o dia 8 de janeiro de 2023. Pensa-se que o senhor Anderson, por óbvio, trará informações de enorme valia para a condução dos nossos futuros trabalhos na presente Comissão”, justifica a senadora no requerimento.