Marilda Pansonato Pinheiro*
A notícia veiculada pelo programa Fantástico, neste domingo (24), de que policiais civis de São Paulo estão exigindo dinheiro para libertar “bandidos”, causa indignação aos delegados de Polícia, que repudiam veementemente qualquer tipo de corrupção, que nunca se justifica. Notícias desta natureza, embora requentadas, nos enchem de vergonha alheia. Na condição de delegada de Polícia, membro da sociedade e presidente da Associação dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (entidade que congrega cerca de quatro mil delegados), assisto atônita ao desenrolar dos lamentáveis fatos, pois não compactuamos com atitudes criminosas.
Por outro lado, os honestos não têm do que se envergonhar. Vergonha devem sentir aqueles que, por dever de ofício, deveriam obrigatoriamente conhecer dos fatos e tomar providências claras e enérgicas, capazes de desestimular práticas reiteradas de tais condutas, pois bandido travestido de policial é o pior dos bandidos. Cito, como exemplo, a própria reportagem do caso Juan Carlos Ramirez Abadia, ocasião em que dezessete policiais civis foram acusados de extorquir dinheiro e sequestrar integrantes da quadrilha do traficante colombiano, preso em 2007, e que cumpre pena nos Estados Unidos. Na época, segundo as investigações, os policiais chegaram a exigir R$ 2 milhões para não prender integrantes do bando de Abadia.
Esse é mais um caso estarrecedor que gera exposição negativa da instituição policial perante a sociedade e que deve ser combatido com punho forte pela Corregedoria Geral da Polícia Civil, entidade que não deve desviar o foco para cumprir a sua atividade fim. Causa ainda mais preocupação os diversos procedimentos instaurados por esta Corregedoria nos quais se “investigam” ou se questionam decisões fundamentadas pela livre convicção jurídica do delegado de Polícia, fruto de uma incessante luta da classe pela independência funcional, enquanto procedimentos apontados pela reportagem aguardam resposta da própria Corregedoria da Polícia Civil.
A apuração de condutas tidas como criminosas e que repercutem negativamente em toda uma instituição deve ser eficaz. A sociedade cobra respostas e elas devem ser creditadas na conta de quem de direito e de forma célere. Até porque, justiça tardia não é justiça.
*Presidente da Associação dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (ADPESP)
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