Newton Lima*
No final do ano, o respeitado jornal britânico The Guardian revelou que o Brasil superou o Reino Unido e se tornou a 6ª economia mundial. A crise financeira de 2008 e a subsequente recessão relegaram o Reino Unido para o 7º lugar no ranking mundial em 2011, ficando atrás da maior economia da América do Sul. As previsões indicam que, em 2020, nós seremos a 5ª economia, passando a França, e em 2050, a 4ª economia mundial, superando a Alemanha.
Grande parte desse resultado se deve à política econômica adotada no Brasil nos últimos nove anos, que ousou contrariar a ortodoxia neoliberal e resolveu apostar na expansão do mercado interno, priorizando crescimento econômico com distribuição de renda. Como resultado, o Brasil saiu relativamente incólume da crise de 2008. O governo Dilma também demonstrou alta dose de ousadia ao rejeitar a clássica fórmula recessiva para enfrentar a ameaça inflacionária. Para não comprometer o crescimento do PIB, o governo adotou medidas de controle de crédito, o que lhe permitiu começar a baixar a taxa de juros. A manutenção de uma taxa de crescimento razoável (3% do PIB) e da inflação dentro do limite da meta (6,5%) em 2011 demonstraram que o governo acertou em cheio.
O Brasil também avançou muito nesta década para superar sua histórica desigualdade social. Programas sociais como o Bolsa Família e o Minha Casa Minha Vida, bem como a recuperação do valor do salário mínimo, vêm tirando milhões de brasileiros da exclusão social e criando uma nova classe média. De acordo com estudo da FGV, na última década a desigualdade no Brasil chegou ao nível mínimo já registrado no país, e a renda da metade mais pobre da população aumentou 5,5 vezes mais rápido que a da minoria mais rica.
Mas não podemos ser ingênuos e sentar em louros; nossa dívida social ainda é muito grande. Com todas essas mudanças, o IDH do Brasil em 2011 foi de 0,718, uma modesta 84ª posição entre 177 países. É preciso, pois, melhorar e aprofundar os programas sociais, para melhorar e capacitar a mão de obra e as condições de saúde e educação.
E isso não é tudo. Em termos macroeconômicos, temos que nos precaver contra a ilusão do desenvolvimento baseado na exportação de bens primários. Nosso crescimento recente foi impulsionado pela demanda por commodities da China e da Ásia. Mas essa demanda é sazonal, por isso devemos aprofundar as políticas para melhorar as condições de exportar mais manufaturados, de alto valor agregado.
Desde 2003, o Brasil vem adotando uma política industrial para aumentar a competitividade de suas empresas. No ano passado, a presidenta Dilma Rousseff anunciou o Plano Brasil Maior, desonerando setores da indústria, incentivando a inovação e as exportações de pequenas e médias empresas. Temos que investir mais em inovação, pesquisa e desenvolvimento tecnológico; só assim o Brasil poderá dar o salto de competitividade necessário para ampliar nossa inserção no mercado internacional, também com manufaturados. Se fizermos isso, além de potência seremos também um país mais humano.
Publicidade*Doutor em engenharia, deputado federal pelo PT/SP, ex-reitor da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar) e ex-prefeito de São Carlos
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