Leia a íntegra da entrevista: Erundina: “A sociedade quer mudança”
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Apesar de continuar pedindo votos para Haddad, a ex-prefeita da maior cidade do país acusa o comando da campanha petista de ter “comprado” o apoio de Maluf, histórico adversário do partido, para ganhar mais espaço no horário eleitoral do rádio e da TV.
“Houve barganha: o Maluf exigiu a Secretaria de Habitação, que tem obras, no governo do Geraldo Alckmin em troca do apoio à candidatura do José Serra. Como o Alckmin se negou a dar a secretaria, ele veio para o Haddad. A presidenta Dilma deu para o Maluf uma secretaria nacional com mais recursos orçamentários. Foi pago para que o Maluf se coligasse com o PT”, acusa a deputada, em entrevista exclusiva ao Congresso em Foco.
Revolta e simbolismo
Erundina se refere à nomeação do engenheiro Osvaldo Garcia, indicado por Maluf para a Secretaria Nacional de Saneamento, do Ministério das Cidades, comandado por Aguinaldo Ribeiro, também do PP. A nomeação dele foi publicada no Diário Oficial da União em 15 de junho. A deputada renunciou à candidatura quatro dias depois, logo após a divulgação das imagens do aperto de mãos entre Lula e Maluf que selou o apoio do ex-prefeito paulistano a Haddad.
O cumprimento e a troca de sorrisos entre Lula e Maluf, registrados pelos repórteres fotográficos na residência do deputado, causaram “revolta” entre apoiadores do petista, segundo ela, por causa do “grande simbolismo” que os gestos carregam. Na avaliação de Erundina, essa aproximação está atrapalhando o crescimento da candidatura de Haddad. O deputado paulista está na lista de procurados da Interpol, acusado de crimes financeiros.
“A foto só ampliou o gesto, a presença do Lula na casa do Maluf, almoçando com ele, junto com o presidente nacional do partido, o candidato e as pessoas ligadas ao Maluf. Porque não foi a aliança com o PP, mas com o Maluf. Ele exigiu que o Lula fosse lá [na casa dele]. Imagino que o Lula deve ter tido suas razões para ir lá. Mas foi um grande equívoco”, afirma.
Inversão de prioridades
Prefeita de São Paulo entre 1989 e 1992, Erundina diz que há uma supervalorização da importância do horário eleitoral para o sucesso de uma campanha eleitoral em detrimento da maior proximidade do candidato com o eleitor. A busca por mais espaço no rádio e na TV fomenta em época de eleição esse tipo de aliança entre forças antagônicas que, segundo a deputada, a sociedade reprova.
Com o apoio do PP, Haddad ganhou mais 1minuto e 35 segundos no horário eleitoral. “Como entender que essas forças estão apoiando determinado candidato e que, depois da eleição, elas não vão exercer o poder? Como é possível passar confiança? Um governo de coalizão não tem autonomia, tem de ouvir representantes dessas forças. Essas figuras como o Paulo Maluf vão abrir mão do direito de influir nesses governos?”
Na avaliação da deputada, esse tipo de acordo enfraquece o “caráter pedagógico” que os políticos deveriam assumir no exercício de suas funções, e mostra como o quadro partidário brasileiro está exaurido e se reduziu a um grande “negócio”, muitas vezes passado de pai para filho.
Procurado para comentar as declarações da deputada, o comitê da campanha de Haddad não retornou o contato da reportagem.
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