A CPI da Covid ouve nesta quinta-feira (7) o médico Walter Correa de Souza Neto, que fez parte da Prevent Senior, e Tadeu Frederico Andrade, um dos pacientes da empresa. Os depoimentos focam na atuação da operadora de saúde acusada de coagir os médicos para receitarem tratamento precoce e fazer os pacientes de cobaias em experimentos.
A sessão se dá no dia em que o Brasil deve ultrapassar os 600 mil mortos pela doença – na noite desta quarta-feira (6) eram 599.651 vítimas confirmadas pelo Ministério da Saúde. A sessão desta quinta seria o último dia de depoimentos, porém, os senadores aprovaram nova convocação do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. A data do depoimento será marcada pelo senador Omar Aziz (PSD-AM), presidente da comissão.
O ministro será chamado para falar sobre uma mudança na pauta da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec), que analisaria nesta quinta estudo de especialistas contrários ao uso da hidroxicloroquina e cloroquina como tratamento para a covid-19.
A Conitec é um braço do Ministério da Saúde que recomenda a adoção de medicamentos no Sistema Único de Saúde (SUS). Para o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente da CPI, a retirada do estudo da pauta foi uma determinação do presidente Jair Bolsonaro.
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Sobreviveu a “trama macabra”
O paciente da Prevent Senior relatou que sua família lutou “contra essa poderosa corporação” e agradeceu a oportunidade de “expulsar o sentimento angustiante que tenho de quase ter morrido desnecessariamente”.
O ex-médico disse ainda que foi vítima de uma “trama macabra” e que sua denúncia foi enviada ao Ministério Público de São Paulo. Veja trecho do depoimento:
No requerimento que embasou sua convocação, se diz que Tadeu teria se infectado com covid-19 no final do ano passado e que, por meio de uma consulta virtual, foi-lhe receitado o chamado “kit covid”, coquetel de medicamentos que são ineficazes no tratamento da doença e podem, inclusive, agravar quadros clínicos.
A obrigação de receitar estes medicamentos teria vindo de superiores na Prevent Senior, ecoando a defesa que o presidente Jair Bolsonaro faz cotidianamente destes medicamentos.
À CPI, Tadeu contou sua experiência ao longo do tratamento contra a covid-19 e disse que ele e outros pacientes da Prevent Senior receberam tratamento paliativo sem autorização dos familiares.
“A dra. Daniela [médica responsável pelo paciente] insere no meu prontuário início dos cuidados paliativos, sem autorização da família e recomenda que não se faça mais hemodiálise, não se ministre mais antibiótico e também não faça ressuscitação”, disse
Ele conta que posteriormente a médica informou que a filha do paciente havia concordado com as indicações, mas afirma que “isso é mentira, minha família não concordou”.
“Fui intubado. Período de UTI durou 30 dias. Quando uma das minhas filhas recebe um telefonema, da dra. Daniela de Aguiar Moreira da Silva, informando que eu passaria a ter cuidados paliativos, ou seja, eu sairia da UTI iria para leito híbrido e lá teria, segundo as palavras da dra. Daniela, maior dignidade e conforto e meu óbito ocorreria em poucos dias. Seria ministrado uma bomba de morfina e meus equipamentos de sobrevivência na UTI seriam desligados”, declarou.
Médico rebate Bolsonaro
O objetivo do depoimento do médico Walter Correa de Souza Neto é esclarecer aos senadores como se dava a autonomia médica dentro da Prevent Senior. Além de explicar como a política de distribuição do chamado “kit covid” ocorria dentro da operadora, Walter também deverá revelar se havia a aplicação de tratamentos experimentais e/ou vedados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).
Depois de apresentados vídeos de declarações do presidente Jair Bolsonaro sobre medicações como a ivermectina e a hidroxicloroquina, o médico afirmou à CPI que para a prescrição é necessário seguir evidências científicas, e que apostar no tratamento precoce pode induzir pessoas ao óbito. Veja:
A expectativa é que o relator da CPI, o senador Renan Calheiros(MDB-AL), leia o relatório final dentro de duas semana, em 19 de outubro. O texto deve pedir o indiciamento do presidente Jair Bolsonaro por conta de sua ação durante o combate à pandemia.
Prevent fraudou causa da morte
Ainda durante o seu depoimento, o ex-médico da operadora de saúde Walter Neto afirmou que a empresa mentiu e fraudou o atestado de óbito de Anthony Wong, médico e professor da Faculdade de Medicina da USP.
“Essa questão do prontuário [de Anthony Wong] é um caso interessante. Não tem como questionar, é covid. Não há dúvida. Dez entre dez médicos que avaliarem aquele prontuário vão dizer que morreu de covid”, afirma.
Walter disse que apesar de não atender Wong, teve acesso ao prontuário do médico.
“A declaração de óbito de Antony Wong foi fraudada. Não tem a Covid lá. Ele morreu de covid fazendo o tratamento precoce duas vezes e seria muito feio isso ficar claro, aí tentaram sustentar essa tese”, declarou.
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