Renata Vilela*
Vez ou outra lemos uma notícia de que alguém vendeu a sua empresa de sucesso por uma oferta bilionária. Certamente, o proprietário encarou como uma oportunidade rápida de receber logo todos os lucros que a empresa poderia dar no futuro. Mas será que isso também se aplica a empresas do Estado?
Privatizar empresas que dão lucro e atendem plenamente ao Estado brasileiro parece um contrasenso. E é. Atualmente, Dataprev e Serpro rendem milhões aos cofres públicos, além de apresentar soluções tecnológicas inovadoras que atendem ao País e aos cidadãos.
Somente em 2020 – ano em que a Dataprev desenvolveu o aplicativo que possibilitou o pagamento do auxílio emergencial, do Benefício Emergencial (BEm) e do auxílio concedido a artistas por meio da Lei Aldir Blanc a milhões de brasileiros – a empresa teve um lucro recorde de R$ 265,1 milhões. Foi um aumento de R$ 147,7 milhões em relação ao ano de 2019.
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Além do lucro próprio, a Dataprev enviou R$ 122,9 milhões de dividendos adicionais que foram distribuídos ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e à União, beneficiando as contas públicas.
Em 2020, a situação do Serpro foi diferente. Mas, ainda assim, beneficiou o País e os cidadãos. O Serpro encerrou o ano passado com um lucro de R$ 462,1 milhões, mas poderia ter lucrado ainda mais. O que houve? A empresa pública não parou de prestar serviços aos seus clientes do governo mesmo quando estes perderam a capacidade de pagar por eles, por causa da queda de arrecadação.
Contudo, para que a empresa mantivesse a sua saúde financeira, e pudesse seguir atendendo ao Brasil e aos brasileiros mesmo operando sem os pagamentos do governo, o Serpro conseguiu novos clientes privados. Assim, amortizou o prejuízo causado pela crise e ainda assim gerou lucros para o Estado.
Isso mostra o quanto as duas maiores empresas públicas de tecnologia da informação foram fundamentais para o País em 2020. Além da capacidade de desenvolvimento, posta à prova durante um período de calamidade pública, elas conseguiram se manter não só sem dar prejuízo ao Estado, mas ao contrário, foram excepcionalmente lucrativas.
Mesmo tendo muitos clientes do próprio governo, Dataprev e Serpro também têm clientes no mercado privado e devolvem boa parte dos seus lucros auferidos ao Estado. A tentativa de privatização das empresas tem se mostrado não só desvantajosa para o Brasil, mas também perigosa e muito prejudicial ao futuro.
*Renata Vilela, especial para a campanha Salve Seus Dados
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