Desde a escolha de projetos levando em conta apenas a margem de lucro, até a dispensa de funcionários qualificados e experientes no desenvolvimento de soluções de tecnologia da informação para órgãos públicos, a privatização da Datamec é uma referência sobre os erros que podem se repetir com a privatização da Dataprev e do Serpro.
De acordo com o relato de um ex-funcionário da empresa que teve fim em 2005, após seis anos de desmonte e precarização, a mudança de cultura da Datamec foi acompanhada pelo abandono de projetos voltados ao desenvolvimento do Brasil e à cidadania.
“O modelo de gestão da Unisys, era de gestão por projetos, com altas margens de lucro, por volta de 40%. Projetos que possuíam baixa margem de lucro não eram aceitos e o cliente nem recebia proposta, seja de contratação ou renovação”, relembra o especialista.
Com isso, uma empresa pública de economia mista – como era o caso da Datamec – transformou-se em um braço do grupo Unisys. E, além dos prejuízos aos seus antigos clientes, como o Ministério do Trabalho e Emprego e a Caixa Econômica Federal já descritos em um artigo anterior, a forma como a empresa lidou com os funcionários foi extremamente desrespeitosa.
Leia também
Em primeiro lugar, os antigos funcionários jamais foram incluídos na previdência complementar da Unisys – UnisysPrev. Em segundo, e mais grave, segundo o ex-funcionário, de 1999 a 2005 os empregados foram tratados apenas como recursos, “se o projeto não apresentasse a lucratividade planejada era necessário ajustar, e sempre com corte de pessoal”, relembra o especialista.
No mesmo sentido, o ex-funcionário explica que as primeiras demissões ocorreram nas áreas meio da empresa, funcionários do administrativo, da área de recursos humanos e financeiro. Já os funcionários da área fim, como suporte técnico ou desenvolvimento, “conseguiram manter um número maior de empregados, especialmente, porque a Unisys não tinha este perfil e nem conhecimento técnico”. Contudo, o ex-funcionário afirma que apesar da maior sobrevida, muitos desses funcionários também foram mandados embora cumprindo política de “enxugamento” de pessoal.
A extinção da Datamec aconteceu em 2005, e com isso, muitos dos seus antigos clientes passaram a ser atendidos pela Dataprev e pelo Serpro, empresas públicas de TI que não haviam sido privatizadas. Porém, a experiência dos seus antigos funcionários foi perdida pelo Estado, que investiu na sua formação.
E, conforme afirma o ex-funcionário, “o resultado deste processo foi o fim de uma empresa viável, com um grande potencial em atender às necessidades tecnológicas da CAIXA e do MTE, seus principais clientes”.
Esperamos que o mesmo não ocorra com a Dataprev e o Serpro.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para redacao@congressoemfoco.com.br.
Deixe um comentário