De acordo com o professor da Universidade Federal do ABC (UFABC) Sérgio Amadeu, em 2020, tráfego global da Internet foi estimado em mais de 3 zettabytes, ou 3.000.000.000.000 gigabytes (GB). “Isso equivale a 32 GB para cada pessoa no planeta por mês, ou 1 GB por pessoa por dia, ou ainda 325 milhões de residências assistindo Netflix simultaneamente, durante todo o tempo”, confirma o professor com dados do World Development Report 2021 Overview.
Essa informação mostra que a economia digital vem orientando a economia “real”, já que esse imenso tráfego é de dados, que são tratados e vendidos para diversas finalidades. Essa era informacional tem consequências hoje, e terá ainda mais no futuro. Ou seja, o impacto que vivemos hoje é apenas a ponta de um “grande iceberg”, conforme explica o professor.
Esse iceberg é constituído pela desigualdade, e a principal forma de lidar com isso é a manutenção e o investimento nas empresas públicas. No Brasil, um grande “exportador” de dados pessoais da sua população por diversos meios – principalmente por meio das plataformas digitais como Google, Facebook, Amazon, dentre outras – isso é ainda mais cruel.
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Isso porque, segundo Amadeu, os dados extraídos dos brasileiros pelas plataformas privadas não beneficiam em nada o País nessa nova era. E, para superar essa situação que aprofundará as relações de dominação geopolítica e econômica, é preciso que o Brasil aprenda a lidar com esses dados e tirar proveito deles para o seu próprio crescimento.
Atualmente há duas empresas públicas federais que armazenam, custodiam e tratam dados da população brasileira, a Dataprev e o Serpro. As duas utilizam esses dados, muitas vezes sensíveis – como a biometria – para promover soluções tecnológicas que desenvolvam o país e a cidadania.
São mais de 5 mil serviços desenvolvidos pelas empresas nos âmbitos federal, estaduais e municipais em setores como saúde, educação, pagamento de impostos, acesso à documentos, benefícios sociais, benefícios previdenciários, dentre outros.
PublicidadeEssa forma de reverter os dados coletados em benefícios, por ora, só é realizada pelas empresas públicas. Contudo, tanto a Dataprev, quanto o Serpro, estão sob ameaça de privatização.
Com a possível mudança de “dono” das empresas – que com a privatização passarão do Estado para a iniciativa privada – mudam também os objetivos delas: do desenvolvimento do País e o fomento da cidadania para a geração de lucros.
E o pior: lucros para os países que já detém a dianteira no processo tecno-econômico, o que ajudaria a aprofundar o abismo da desigualdade no futuro, deixando para o Brasil apenas o impacto ambiental da manutenção de grandes datacenters e a posição, subalterna, de grande exportador de dados.
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