Samanta Dias, especial para o Congresso em Foco
Desde seu primeiro mandato como deputado federal, iniciado em 1991, Jair Bolsonaro coleciona frases e atos em defesa dos governos militares. Agora na Presidência, Bolsonaro recolocou o debate em pauta ao orientar as Forças Armadas a fazerem “as devidas comemorações” à tomada do poder em 31 de março de 1964, data que completa 55 anos neste domingo.
A exaltação de Bolsonaro aos regimes militares, muitas vezes solitária, produziu episódios que cristalizaram a fama do presidente ao longo de sua carreira política . Relembre episódios:
“Num regime de exceção, o chefe, que não precisa ser um militar, pega uma caneta e risca a lei que está atrapalhando”
Esta afirmação fez parte de uma declaração pública do então deputado Jair Bolsonaro em 1993. O pronunciamento levou o corregedor do Congresso Nacional à época, deputado Vital do Rêgo (pai do atual ministro do Tribunal de Contas da União, Vital do Rêgo, e do senador Veneziano – PSB/PB), a pedir à PGR a abertura de uma ação penal contra Bolsonaro por crime contra a segurança nacional, ofensa à Constituição e ao regimento interno da Câmara. Vital do Rêgo chegou a acusar Bolsonaro de fazer “ameaças veladas de morte” a ele, segundo reportagens da época.
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“Morreu menos gente que durante o último carnaval em São Paulo”
Em 1999, em entrevista ao programa Câmara Aberta, da Rede Bandeirantes, Bolsonaro deu a famosa declaração de que, caso fosse o presidente da República, “daria um golpe no mesmo dia” e fecharia o Congresso, “porque não funciona”. A entrevista abordava assuntos relacionados ao governo FHC, seus ministros e suspeitas de corrupção. Bolsonaro foi perguntado se seria capaz de fechar o Poder Legislativo. O então deputado afirmou que “o Congresso hoje em dia não serve para nada, só vota o que o presidente quer”, e que o melhor era “partir logo para a ditadura”. Ele também se disse favorável à tortura (15’00”)
“Agora, não me venha falar da ditadura militar. Só desapareceram 252, a maioria marginais, sequestradores e assaltantes de banco, em 20 anos de ditadura militar. Só no último carnaval de São Paulo morreram mais de 300, mas para a elite interessa essa democracia que está aí, porque eles estão se dando bem”, completou. Mais uma vez, as declarações foram mal recebidas pelos colegas de Parlamento e corregedor da época, deputado Severino Cavalcanti, fez novas ameaças de processo disciplinar contra Bolsonaro por quebra de decoro parlamentar.
“Naquela época foram as mulheres de verdade que pediram a ditadura dos militares, hoje em dia as mulheres não são de verdade como naquela época”.
Em 2009, o deputado Jair Bolsonaro discursou na Câmara dos Deputados pelo aniversário de 35 anos da ponte Rio-Niterói, no Rio de Janeiro, concluída durante o governo Médici. Ele faz várias defesas do golpe militar de 1964. Diz que durante o período militar os parlamentares eram respeitados, e que o Brasil não seria nada sem as obras de infraestrutura realizadas pelo governo de exceção. Em seguida, menciona o grupo do trabalho que estava sendo montado na época para investigar os episódios que envolveram a Guerrilha do Araguaia, em referência ao movimento armado de combate à ditadura militar que atuou no início da década de 1970.
“Quem pediu para que os militares assumissem? Foi a igreja católica, foram as mulheres de verdade naquela época, hoje em que as mulheres não são de verdade como naquela época, pediram em passeata nas ruas para que os militares assumissem, a classe empresarial e a imprensa de forma unânime pediu; e nós assumimos, os militares assumiram e o Brasil cresceu, hoje em dia estamos nessa balburdia que está aí”, concluiu. O discurso de dez anos atrás está alinhado com a visão adotada pelas Forças Armadas no documento publicado para marcar os 55 anos do golpe militar de 1964, neste 31 de março.
“Graças aos militares hoje temos democracia”
Em 2013, Yoani Sánchez, blogueira cubana crítica ao governo de seu país, esteve em um debate na Câmara, e Bolsonaro estava presente. Em seu discurso, ele repetiu a justificativa de que o golpe militar foi uma resposta à ameaça comunista no Brasil e arrematou: “Sem Fidel Castro financiando a luta armada no nosso país, teríamos acabado no máximo com Costa e Silva o período militar, graças aos militares nós hoje gozamos de democracia”, discursou.
“Todos os cinco militares foram eleitos pelo Congresso. Isso é ditadura?”
Em 2015, já tendo anunciado sua intenção de concorrer ao Planalto e meio a discussões sobre o processo de impeachment da então presidenta Dilma Rousseff, Bolsonaro é entrevistado pela jornalista Mariana Godoy, da Rede TV. O presidente menciona que todo governo tem erros, afirma que durante o regime militar havia segurança para as pessoas e para os policiais e tudo tinha sido “uma maravilha”. “Os militares eram eleitos periodicamente, todos foram eleitos Congresso Nacional, isso é ditadura? Se fosse ditadura, Tancredo Neves também seria um ditador, porque foi eleito pelo mesmo Congresso”, afirma o então deputado.
“O erro da ditadura foi torturar e não matar”
Em julho de 2016, já cercado pela polêmica de ter usado o voto do impeachment para homenagear o coronel reformado Carlos Brilhante Ustra, a quem chamou de “o terror de Dilma Rousseff”, Bolsonaro participou do programa Pânico no Rádio, ao lado filho Eduardo. Em uma revisão de várias frases polêmicas que acumulou durante os anos, Bolsonaro foi questionado se referendava uma frase dita a no passado a manifestantes na Câmara, de que “o erro da ditadura foi torturar e não matar”.
O então deputado confirmou: “Sim, falei essa frase. Tá ok? Foi no fragor de uma disputa, ao ver depoentes na Câmara contarem mentiras deslavadas, como se a política nossa [a do regime militar] fosse estuprar, que eles falam isso aí. Fosse botar rato em vagina de mulher. Chega a esse ponto de imbecilidade, que a resposta que eu dei naquele momento foi essa daí”. (veja a partir de 1h23min).
“Não houve ditadura”
Nesta semana, em meio ao debate público sobre comemorar ou não o aniversário do golpe militar, Bolsonaro reafirmou suas argumentações anteriores. Em entrevista ao programa Brasil Urgente, da Band, ele afirmou que o regime foi uma maravilha, com alguns problemas, assim como todo casamento, por exemplo, tem. “Onde você viu uma ditadura entregar para a oposição de forma pacífica o governo? Só no Brasil. Então, não houve ditadura”, argumentou (veja a partir de 17’50”).