Familiares de Davi Sebba *
Por ocasião do encerramento do inquérito policial da Delegacia Estadual de Investigação de Homicídios da Polícia Civil de Goiás, os familiares do advogado Davi Sebba vêm a público para manifestar o que segue:
1. A dor decorrente de uma perda de forma tão abrupta e inesperada, violenta e injusta, ainda machuca muito. Davi ainda tinha um longo caminho pela frente com sua esposa e seu filho: ele estava prestes a começar uma vida nova, a vida de pai do pequeno Gabriel Davi, que logo completará um ano de vida. A família sofre também pelo temor das ameaças e intimidações. Face à insegurança e o risco à sua integridade física, os familiares mais próximos de Davi tiveram que se deslocar para fora de Goiânia. À superação da perda, se soma a necessidade de reconstrução total de suas vidas.
2. Além disso, infelizmente, a família tem convivido, durante esses meses, com uma tentativa de desmoralização e estigmatização da imagem de Davi. As supostas informações sobre Davi, que têm sido veiculadas pelos policiais envolvidos em seu assassinato, não correspondem à verdade. Chegou-se ao cúmulo de dizer que ele era investigado e, “se hoje não estivesse morto, estaria preso”. Os familiares e as centenas de amigos que deixou podem afirmar, com certeza, que ele foi uma pessoa responsável e íntegra. Davi era advogado, trabalhava em centenas de causas e acordos como advogado, para sustentar a si e sua família. E todos que o conheceram, em qualquer fase de sua curta vida, sabem que ele sempre foi uma pessoa de bem: profissional dedicado, familiar atencioso, amigo companheiro.
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3. Em relação ao inquérito, apesar de transcorridos mais de 11 meses desde sua instauração, importa neste momento reconhecer o empenho e a seriedade que marcaram sua condução recente, pelo atual delegado. Nesse último período, os esforços para a apuração fiel dos fatos deram nova dinâmica às investigações, o que proporcionou a reunião de um conjunto robusto de elementos, que deve se mostrar suficiente para a futura condenação dos policiais envolvidos na morte de Davi.
4. Conforme apontado desde o início das investigações pelos familiares de Davi e seus advogados, as evidências não deixam nenhuma dúvida sobre a absoluta falta de sustentação da versão construída pelos policiais militares envolvidos no crime, bem como sobre a ação absolutamente criminosa na prática do assassinato. Assim, de acordo com o relatório final do inquérito, após as investigações realizadas, restou totalmente claro e comprovado, entre outros fatos, que:
• A abordagem policial “não se deu exatamente no local mencionado pelos policiais e pelo suposto comprador de droga”;
• A testemunha forjada, suposto comprador, “prestou três depoimentos completamente contraditórios sempre em defesa dos policiais envolvidos”;
• “Os policiais alteraram sobremaneira a cena do crime”;
• “A arma de fogo, tipo revólver, calibre 38, municiado, com numeração raspada, foi plantada pelos policiais militares envolvidos na abordagem, mesma situação ocorrida com a droga encontrada três dias depois” no local onde ocorreu a execução;
• Davi “foi executado, uma vez que não teve possibilidade alguma de reação no momento da abordagem policial”, tal qual foi apontado, desde o primeiro momento, pela Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Goiás (OAB/GO);
5. Não foi sem razão que recentemente o procurador-geral da República propôs ao Superior Tribunal de Justiça a “federalização” das investigações e das ações penais sobre crimes decorrentes de violência policial praticada em Goiás. A situação de violência policial é profundamente agravada pela fragilidade com que as instituições atuam no Estado. A apuração dos crimes policiais, que se amontoam, é comumente ineficiente e comprometida por postura acuada e conivente com que determinadas autoridades têm atuado. Espera-se que o caso do assassinato do Davi não seja mais um que se some à essa inoperância institucional e impunidade sistêmica.
6. Por fim, o que os familiares de Davi querem é a apuração exemplar do crime, para que prevaleça a justiça, seja na esfera do estado de Goiás, seja no âmbito federal. E que haja um julgamento justo para esses criminosos que deixaram pai e mãe sem um filho, uma esposa de 20 anos viúva, e um filho recém-nascido órfão. Filho que Davi Sebba foi impedido de conhecer, e que vai ter que comemorar, pelo resto da vida, o seu aniversário no mesmo dia do assassinato do pai.
* Advogado, Davi Sebba foi assassinado em 5 de julho de 2012 com tiro no peito no estacionamento de um hipermercado em Goiânia, no mesmo dia do nascimento de seu primeiro filho. Relatório concluído esta semana pela Polícia Civil de Goiás aponta que o advogado, de 38 anos, foi executado por quatro policiais militares à paisana.