Não conheço a origem da lenda, história ou crônica escrita em várias versões, mas todas as vezes em que é contada, tem um só objetivo: a construção do amor, da tolerância e da solidariedade.
Diz essa história ou lenda que o ser humano leva dentro de si duas feras (lobos ou cachorros): uma boa, amável e compreensiva; e outra ruim, movida pelo ódio e pela intolerância.
A sobrevivência dessas feras depende de quem as leva no coração. Se quem as leva alimentar a fera do amor e da compreensão, ela irá se sobrepor à outra e a pessoa será tolerante, humana e solidária. Se, pelo contrário, a fera da maldade é a que for alimentada, a pessoa será intolerante, desumana e movida pelo ódio.
Essa curta história me veio à mente assim que soube do assassinato dos trabalhadores rurais – tomo a liberdade de chamá-los de companheiros – Vilmar Bordim, 44 anos, casado, pai de três filhos; e Leomar Bhorbak, 25 anos, casado, cuja esposa está grávida de nove meses.
Assim que soube dos assassinatos, essa história reviveu no meu coração. Não de maneira solta, isolada e afastada da conjuntura em que vivemos. Veio acompanha da busca da explicação pela qual a fera do ódio tem sido alimentada e sobreposta à do amor.
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Na história da humanidade sempre existiram aqueles que alimentaram a fera da raiva e do ódio, mas, no caso recente do Brasil, desde o inicio de 2014, dia após dia, essa fera foi ganhando – por meio da Rede Globo, revistas Veja, Época e IstoÉ, muitas rádios por esse Brasil adentro e jornais como Folha de S.Paulo e Estado de S. Paulo e, no Paraná, a Gazeta do Povo – doses extras de alimentos.
PublicidadeEssas empresas privadas de comunicação recebem energéticos diariamente de setores do Ministério Público e da Polícia Federal, e não dá para deixar de registrar, do juiz Sérgio Moro, e os repassa cotidianamente às feras. Apesar de alertados, continuaram a alimentar a besta que está dentro de cada um e, hoje, vemos nas ruas e nas redes sociais feras com os olhos injetados de ódio, ameaçando a vida dos que pensam de forma diferente.
No dia seguinte (8/4) ao assassinato dos trabalhadores rurais em Quedas do Iguaçu (PR), a Gazeta do Povo, em editorial intitulado “Conivência com os incendiários”, na maior insensibilidade com as famílias das vítimas, faz um editorial alimentando a besta fera que alguns carregam dentro de si.
No editorial, não há qualquer referência à violência que esses trabalhadores sofreram, mas são citados vários pronunciamentos de líderes do movimento social – em que a Gazeta vê a pregação da violência, e não a defesa da democracia. Pergunta a ser feita: quem é conivente com os incendiários?
A resposta é fácil: as empresas privadas de comunicação, que manipulam as informações em defesa de seus interesses e dos interesses de uma classe.
O editorial ao menos registra a posição da presidenta Dilma: “Nós não defendemos qualquer processo de perseguição de qualquer autoridade, porque pensa assim ou assado. Não defendemos a violência. Eles exercem a violência; nós, não”.
Sim, é correto, “eles exercem a violência”. O “eles”, no caso, é a oposição que trabalha a favor de um golpe de Estado e trabalha alimentando o ódio no coração das pessoas.
Não são os que defendem a democracia que estão atacando sedes de partidos políticos, de sindicatos e de centrais sindicais. São os golpistas que se vestem com o amarelo da CBF, a corrupta. São eles que agridem, xingam e espancam pessoas só por estarem usando uma peça de roupa vermelha.
São os que pregam o golpe que têm assassinado pessoas. E não li nenhum editorial de nenhum jornal ou mesmo de qualquer rede privada de TV condenando veementemente essa violência. Pelo contrário, vejo-os todos os dias alimentando a fera da maldade, da intolerância e da violência.
Já passou da hora de essas bestas serem contidas. É hora de alimentar o animal manso e amoroso que cada um leva dentro de si.