Camila Teixeira *
Nunca se falou tanto sobre Cannabis como nos últimos tempos. A possibilidade de transformar flores em remédio para diversas doenças que afetam milhões de brasileiros, como epilepsia refratária, doença de Alzheimer, doença de Parkinson, dor crônica e sintomas decorrente do uso de quimioterápicos fez com que as atenções se voltassem cada vez mais a esse assunto.
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Vários estudos científicos internacionais têm comprovado os efeitos positivos do óleo integral de Cannabis para controle de sintomas do autismo, por exemplo. Um deles, desenvolvido pela Universidade Ben Gurion, em Israel, aponta que mais de 80% dos pais de pacientes autistas reportaram algum tipo de melhora com utilização de óleos ricos em canabinoides. O óleo administrado pelos pesquisadores era composto por 30% de CBD (Canabidiol) e 1,5% de THC (Tetrahidrocanabinol).
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Após seis meses de tratamento, 82,4% dos pacientes estavam em tratamento ativo e 60% foram avaliados. Destes, 30,1% relataram melhora significativa, 53,7% melhora moderada, 6,4% melhora leve e apenas 8,6% não apresentaram alteração em suas condições.
Uma outra pesquisa, realizada pela Universidade do Sul da Flórida, mostrou que pequenas doses de THC diminuem a concentração de proteína beta-amiloide no cérebro. O acúmulo dessa proteína é uma das causas do Alzheimer. Além disso, o tratamento paliativo com Cannabis medicinal tem se mostrado uma opção segura e eficaz para diminuição dos níveis de estresse e agressividade de quem sofre com a doença.
No Brasil, apesar do tema parecer novo, a importação de produtos à base de Cannabis medicinal é possível desde 2015, quando a Anvisa (Agência Nacional de. Vigilância Sanitária) aprovou uma resolução que torna possível o acesso para pacientes com quadros refratários e de difícil controle, ou seja, doenças que não respondem a tentativas com remédios alopáticos e apresentam sintomas, por muitas vezes, severos.
De acordo com dados da Anvisa, pedidos de importação à base de Cannabis medicinal no Brasil tiveram um crescimento de 490% em quatro anos, passando de 902, em 2015, para 5.321, em 2019 (até o terceiro trimestre), mas esse número pode chegar a 10 milhões, se considerarmos apenas as sete doenças mais comuns no Brasil.
Órgãos e entidades mundiais tem revisto também sua posição em relação à Cannabis, como a OMS (Organização Mundial da Saúde), que recomendou à ONU (Organização das Nações Unidas) que preparações contendo predominantemente CBD e até 0,2 % de THC não devem ter controle internacional, já que não oferecem riscos à saúde e não geram dependência.
Além disso, a mesma recomendação segue para que a ONU remova a planta e seus derivados químicos do Schedule IV, a categoria mais restritiva de uma convenção mundial de drogas para o Schedule I, onde se enquadram substâncias com propriedades curativas ou medicinais. A reunião para a definição da reclassificação deve acontecer em março de 2020.
Graças a esse impacto positivo que a Cannabis pode promover a pacientes, familiares e cuidadores, a edição 2019 do Brazil Accelerate 2030 fez o primeiro apoio a uma empresa de Cannabis, a Indeov, empresa brasileira que facilita o acesso de produtos à base de Cannabis medicinal, conectando pacientes a médicos e produtos à base de Cannabis. O programa é uma iniciativa do Impact Hub e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) para impulsionar negócios de impacto socioambiental. Uma validação importantíssima a uma das empresas pioneiras neste segmento no Brasil.
Com a evolução do tema e da discussão, a esperança é que legisladores e leis passem a ter um novo olhar sobre a planta, a terapêutica.
*Camila Teixeira é CEO da Indeov, empresa brasileira especializada no acesso à Cannabis Medicinal
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