O diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antônio Barra, afirmou nesta quarta-feira (21) que a agência foi notificada sobre a morte de um voluntário brasileiro que participava do estudo com a vacina contra covid-19 desenvolvida pela Universidade de Oxford, que tem parceria com o Ministério da Saúde por meio da Fiocruz.
Por conta dos protocolos de confidencialidade, Antônio Barra não deu detalhes sobre o paciente, ou mesmo a causa da morte. O diretor também não esclareceu se o paciente usava placebo ou o medicamento. “Nossa palavra institucional, e falo também pela doutora Alessandra Bastos Soares [diretora de medicamentos da Anvisa], é em solidariedade com a família deste brasileiro ou brasileira voluntário que faleceu, é um momento difícil e delicado”, disse.
“Dia 19 de outubro tivemos a comunicação oficial, conforme reza o protocolo, relatando o ocorrido e ao mesmo tempo relatando a possibilidade de prosseguimento dos estudos. Diferentemente de anterior que teve a interrupção. Nesse momento continua a análise e os testes prosseguem”, afirmou.
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Independência da Anvisa
Após novo conflito público entre Jair Bolsonaro e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB) sobre a compra ou não da CoronaVac, vacina desenvolvida pelo Butantan em parceria com o laboratório chinês Sinovac Biotech, os diretores da agência reforçaram o caráter independente da Anvisa e disseram que a competência da agência é regular o medicamento e não indicar a origem da vacina.
“A ação que esta agência tem, no caso concreto, é de afeição do desenvolvimento garantindo ao final do processo a qualidade, segurança e eficácia. Após isso faremos o registro ou não. Essa é nossa missão. A Anvisa não participa da compra de medicamentos, insumos ou realização de políticas públicas. Para nós pouco importa o país de origem da vacina, mas sim fornecer a resposta se tem qualidade segurança e eficácia, e se induz imunidade ou não”, disse Barra.
PublicidadeA diretora de medicamentos da Anvisa, Alessandra Bastos Soares complementou: “a competência da agência é de uma forma imparcial verificar independentemente da origem do país, se há qualidade e para isso existe o certificado de boas prática”.
Os diretores também disseram que não há uma data pré-definida para conclusão de estudos ou fornecimentos de registro a qualquer uma das quatro vacinas em análise neste momento. “Entendemos a pressa, mas não está atrelada a nenhuma data. Lançaremos mão do melhor e menor tempo, mas não temos pretensão de dar uma data. Hoje a covid-19, assim como desde o dia 27 de janeiro, é a maior prioridade desta agência, portanto, não nos atrelaremos a data”, disse Antônio Barra.
Vacina chinesa
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), se reuniu nesta quarta-feira (21) com os diretores da Anvisa para apresentar os dados sobre a vacina desenvolvida pelo Butantan, a CoronaVac. Após o encontro, o tucano disse que a visita foi de cortesia e de integração.
“A Anvisa é um exemplo positivo de agência regulatória, independente, com autonomia e proteção de princípios de saúde. Aqui ao meu lado, tenho senadores e deputados, secretários de estado de São Paulo e, ao longo dessas duas horas de reunião, saímos ainda mais confiantes. Chegamos confiantes e saímos confiantes com espírito elevado”, apontou.
Doria disse ainda que o governo paulista apoia “as vacinas”, a do Butantan, a da Fiocruz e as demais. “A visão do governo de São Paulo é do Brasil, de proteção dos brasileiros, é uma visão nacional. Aqui na Anvisa temos o bastião da esperança dos brasileiros. O papel da Anvisa está em cumprir no melhor e menor tempo a aprovação das vacinas, incluindo a do Butantan e neste tempo ela se transforma na esperança dos brasileiros”.
Mais cedo, Jair Bolsonaro contradisse o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, e afirmou nas redes sociais que não comprará a vacina chinesa CoronaVac. Em reunião com governadores e membros da pasta nesta terça-feira (20), Pazuello afirmou que a compra de 46 milhões de doses da vacina CoronaVac, desenvolvida pelo governo de São Paulo e pela farmacêutica chinesa Sinovac, dá maior “liberdade e margem de manobra” ao programa de vacinação do governo federal.
“A vacina do Butantan será a vacina brasileira”, disse o ministro. “Fizemos uma carta em resposta ao ofício do Butantan, e esta carta é o compromisso da aquisição das vacinas que serão fabricadas até o início de janeiro, em torno de 46 milhões de doses, e essas vacinas servirão para iniciarmos a vacinação ainda em janeiro. Essa é nossa grande novidade”, declarou.
No início da tarde de hoje, o secretário-executivo do Ministério da Saúde, Elcio Franco, disse que a pasta não firmou qualquer compromisso com o estado de São Paulo e o governador João Doria (PSDB) para comprar vacinas contra a covid-19. “Tratou-se de um protocolo de intenção entre o Ministério da Saúde e o Instituto Butantan, sem caráter vinculante, por se tratar de um grande parceiro do ministério na produção de vacinas para o Programa Nacional de imunizações, o PNI”, disse Franco. “Não há intenção de compra de vacinas chinesas”, frisou.
Após a negativa de Bolsonaro sobre o tema e a fala de Elcio Franco, João Doria reforçou a posição do ministro na reunião de ontem. “Foi uma carta assinada pelo ministro Eduardo Pazuello que indica com clareza a aquisição pelo Ministério da Saúde da vacina do Butantan e condiciona à aprovação da Anvisa. Tivemos a posição manifestada pelo ministro da saúde e volto a registrar que a posição do ministro é a correta porque é baseada na ciência. O ministro sempre teve ao longo destes meses uma conduta republicana, técnica, amparada na estrutura do Ministério”.
Um vídeo da reunião, que reuniu 24 governadores e membros da pasta da Saúde, foi divulgado nesta quarta-feira (21).
> Doria divulga vídeo de reunião em que Pazuello fala em comprar vacina chinesa