Em dois discursos ocorridos na tarde desta terça-feira (7), o presidente Jair Bolsonaro tornou a atacar as regras sanitárias para o combate à covid-19. Mas acabou contradizendo a si mesmo ao usar primeiro argumentos contra a eficácia das vacinas e depois contra a necessidade de passaporte de vacinação, como vem aconselhando a Agência Nacional de Saúde (Anvisa). No primeiro discurso, ele questionou a eficácia das vacinas. No segundo, usou a eficácia das vacinas para atacar a necessidade do passaporte.
Os discursos ocorreram durante a participação do presidente no encontro da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e na cerimônia de assinatura dos contratos de concessão do 5G. “Nós disponibilizamos a vacina para quem quisesse. Mas hoje em dia, todo mundo sabe que quem toma a vacina pode contrair o vírus, pode transmitir o vírus e pode morrer”.
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No segundo evento, ao criticar a Anvisa pela recomendação do passaporte vacinal como cuidado necessário para evitar a disseminação da nova variante do coronavírus, a Ômicron, Bolsonaro afirmou que quem tomou vacina não deveria se preocupar com quem não tomou porque não seria contaminado. “Quem tomou a vacina não precisa se preocupar com quem não tomou, não vai ser contaminado. A liberdade acima de tudo”, declarou.
Na verdade, ambas as posições, do ponto de vista técnico, são incorretas. As vacinas garantem maior imunidade, mas nenhuma delas é 100% capaz de garantir que a pessoa não venha a ser contaminada. Aliás, nenhuma vacina para nenhuma doença é. Mais do que isso, nenhum remédio é 100% eficaz.
Como, porém, as vacinas garantem um grau muito maior de imunidade e, principalmente, evitam a possibilidade de que a contaminação evolua para um quadro mais grave, os especialistas recomendam o passaporte vacinal, uma vez que quanto maior o número de pessoas imunizadas menor a possibilidade de contaminação pelo vírus.
PublicidadeBolsonaro também atacou a utilização de vacinas contra, especificamente do laboratório Pfizer-BioNtec em crianças. “Falam em vacinar crianças. Mas cheguem na bula da Pfizer: ‘não nos responsabilizamos por efeito colateral adverso’. Alguém compraria um carro onde o fabricante dissesse ‘se soltar o eixo na [avenida] Dutra e rolar um acidente, não nos responsabilizamos’?”